quinta-feira, 8 de abril de 2021

Diversão: Filme 'Meu pai', candidato a 6 Oscars, tem Anthony Hopkins em atuação 'sublime' como idoso com demência e bom humor



Bonequinho aplaude de pé filme, que chega aos cinemas e ao streaming (You Tube por R$ 29,90)

Pai e filha. Ele, próximo aos 80. Ela, cerca de 45 anos. Em um apartamento amplo, de tons cinza e bege, discutem aparentes trivialidades. Ele, firme em suas certezas e convicções, não aceita questionamentos. Coisas, fatos e pessoas são exatamente do jeito que vê e pensa. E ponto final. Só que não. 

Um "detalhe" fundamental escapa a este homem que ainda ostenta vestígios de vigor na fala e nas atitudes: o real. Dominado por uma demência grave e progressiva, Anthony (é este seu nome), ainda é capaz de tiradas de humor e ironias, para desespero de sua filha, a empenhada e amorosa Anne. 

O diferencial de "Meu pai", indicado ao Oscar em seis categorias, inclusive melhor filme, ator e atriz coadjuvante, está na radical inversão desta premissa. A visão de um mundo que se esvai é apresentada apenas através do olhar de Anthony. O resultado é desconcertante. 

Sem piedade, o espectador é abduzido para um universo de lapsos, repetições, confusões: quem é quem, o que aconteceu, onde estamos: no apartamento do pai ou da filha? Anne é casada? Ela vai morar em Paris ou ficar em Londres? As cuidadoras? Tão infantis, cuidando de homem tão seguro de si. E o relógio que teima em desaparecer, última certeza de tempo que Anthony preserva, uma medição que deixou de ser cronológica para transitar livremente por todos os tempos?

Assista o trailer:


Baseado em sua peça de sucesso, Florian Zeller estreia na direção, assina o roteiro com Christian Hampton ("Ligações perigosas", "Desejo e reparação") e não tenta esconder a origem teatral da realização. Ao contrário. A concentração em ambientes fechados enfatiza a densidade da trama, valorizada por fotografia, montagem e trilha musical. Indicado a seis Oscars,"Meu pai" teria duas “barbadas”: Anthony Hopkins, apenas sublime como o homem que tenta emprestar dignidade em seu gradativo e inexorável esmorecimento mental. E Olivia Colman, comovente como Anne em sua angústia entre aceitar e adiar o inevitável. Um tratado sobre a dor e a impotência em filme de alta potência.

Fonte: O Globo (08/04/2021)

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