Enquanto essa parcela de pacientes representava 18,7% de todos com esse diagnóstico clínico durante a pandemia em 2020, número caiu para 8,7%
O efeito de proteção que a vacina de Covid-19 conferiu a pessoas com 80 anos ou mais já se faz sentir nas estatísticas, indicam dados de notificação de pacientes atendidos com síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil. Neste sábado, a vacinação no país completa três meses.
Enquanto essa parcela de idosos representava, em média, 18,7% de todos com esse diagnóstico clínico durante a pandemia em 2020, o número caiu para 8,7% na semana que se encerrou em 10 de abril, segundo dados do sistema Sivep-Gripe.
A redução também foi aparente entre pacientes de SRAG com mais de 80 que tiveram confirmação de diagnóstico para Covid-19 (queda de 18,0% para 8,3%).
Segundo o Ministério da Saúde, apenas 2 milhões de idosos nessa faixa, dentro de uma população estimada de 4,2 milhões, já receberam a segunda dose de vacina, mas o efeito nas estatísticas, em tese, já poderia ser parcialmente visível.
O potencial pleno de imunidade da vacina só se completa duas semanas depois da segunda aplicação, e, como os dados do Sivep-Gripe têm uma oscilação natural, é preciso ter cautela para interpretar os números. Ainda assim, especialistas mostram algum otimismo.
— É claro que o tempo vai trazer mais solidez para tirarmos essa conclusão, mas esse dado não me causa estranheza. Aquilo que estamos vendo é aquilo que esperávamos ver — diz Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
— Ou os maiores de 80 se tornaram superpoderosos, ou mudou alguma coisa com a vacinação — diz ela.
O epidemiologista Alexandre Kalache, do Centro Internacional de Longevidade, do Rio, considerou os novos dados do Sivep uma notícia “auspiciosa”, apesar de realçar que a situação ainda inspira cuidado.
— Esse dado é consistente com o que a gente esperava, porque o objetivo principal da vacinação agora é diminuir os casos graves, não necessariamente reduzir o número de infecções, que também inclui os mais leves — afirma Kalache, que é especialista em acompanhamento da população idosa.
— É importante ver que os casos de SRAG que não foram atribuídos à Covid-19 também estão caindo, porque pode ter muita coisa mascarada ali que não foi diagnosticada — completa.
Ele ressalta, porém, que mesmo a população vacinada precisa continuar se protegendo, porque a vacina não elimina totalmente o risco de desenvolver a doença, e o advento de novas variedades do coronavírus complica o cenário.
Indígenas
Um indício, mais tênue, de redução de mortalidade aparece nos dados do Sivep para outra população alvo nesse início de vacinação, os indígenas.
Ao longo da epidemia de de 2020, os indígenas representaram cerca de 0,4% dos casos de SRAG. Essa média, no final do ano, tinha caído para 0,2%. Agora, no início de abril, ficou em 0,1%.
Como esse grupo é muito mais vulnerável a subnotificação de casos, porém, o sinal de eficácia ainda é fraco.
Um estudo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) mostra que serviços de vigilância comunitária registraram mais que o dobro de mortes por Covid-19 que o Ministério da Saúde (670 contra 330) de fevereiro a outubro do de 2020.
Neste ano, segundo o ministério, cerca de 200 mil indígenas foram vacinados com segunda dose, em uma população de 430 mil elegível para vacina. Seria o suficiente para ver algum efeito.
O dado nacional mais consistente até agora de eficácia é entre médicos. O Conselho Federal de Medicina aponta uma queda de 83% no número de afiliados mortos entre janeiro e março.
Com o atraso na campanha de vacinação, porém, ainda não se vê efeito da vacina na população geral.
Até ontem apenas 8,6 milhões de brasileiros já tinham recebido a segunda dose, uma cobertura vacinal completa de apenas 4%.
Fonte: O Globo (16/04/2021)
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