Empresas já se movimentam para definir os lotes do leilão que irão disputar
Ao estabelecer no edital do leilão das redes 5G quatro blocos nacionais e um regional, subdividido em oito lotes regionais, que somente poderão ser disputados pelas operadoras de pequeno porte, chamadas PPPs, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) procurou não apenas impulsionar a competitividade, como também promover a inclusão digital de consumidores que residem em áreas periféricas ou remotas do país. Esta é a avaliação de empresários do setor ouvidos pelo Valor.
“O edital, da maneira como foi desenhado, dá uma injeção de ânimo no setor e evita que o espectro vá parar nas mãos de uma das três incumbentes [ Claro, TIM e Vivo ], que já estão em processo de compra da Oi Móvel, o que dá margem para o surgimento de uma quarta operadora nacional”, destaca Luiz Henrique Barbosa da Silva, presidente da Telcomp, associação que reúne as prestadoras de serviços de telecomunicações competitivas.
As PPPs já começam a delinear estratégias para participar do leilão, agora que edital foi enviado para análise do Tribunal de Contas da União (TCU) com a precificação do direito de uso das radiofrequências que receberão a tecnologia. A movimentação entre elas vem se intensificando, seja para definir os lotes que irão disputar, costurar acordos de parceria ou buscar fontes de financiamento.
Barbosa da Silva aponta como uma das candidatas a ficar com o quarto bloco nacional a Highline do Brasil, controlada pela americana Digital Colony, que chegou a entrar na disputa pelos ativos da Oi Móvel, mas acabou desistindo. A própria empresa não esconde o interesse. O diretor de desenvolvimento de negócios da Highline, Luís Minoru, declarou em um evento de telecomunicações, em março, que pretende participar do leilão do 5G para atender as operadoras de pequeno porte, oferecendo desde a infraestrutura até o espectro.
O grande apelo do edital do 5G, apontado pelos empresários, são as várias opções de radiofrequências disponíveis, o que possibilita uma combinação de arranjos. Ao todo serão leiloadas radiofrequências nas faixas de 2,3 GHz, 3,5 GHz, 26 GHz, além da radiofrequência de 700 MHz. O CEO da Wirelink, Adriano Marques, considera esta última faixa bastante atrativa, mas salienta que as obrigações - contrapartidas que as empresas que arrematarem faixas de 5G terão que oferecer - são muito grandes.
Marques diz que a Wirelink não tem capacidade financeira para participar sozinha do leilão de um bloco nacional. “Poderíamos entrar sozinhos na disputa por um bloco regional, mas decidimos tentar criar um consórcio com várias empresas, que tenham sinergia.”
A ideia, segundo ele, é criar um ecossistema de provedores para participar regionalmente ou nacionalmente. “Ainda não definimos isso por conta dos acordos que ainda estamos fechando. Se conseguirmos montar um consórcio bastante amplo, com abrangência nacional, pode ser que valha a pena tentar disputar esse bloco”, acrescenta.
Outra pequena operadora que está formando consórcio para participar do leilão é a Um Telecom, com sede em Recife, Pernambuco. O CEO da empresa, Rui Gomes, pondera que, mesmo para disputar um bloco regional, os investimentos são elevados, inclusive em relação às obrigações de área de cobertura. Ele diz que o consórcio já tem seis empresas e a proposta é dividir as áreas e as obrigações para reduzir os custos.
Para dar uma ideia de custo, Gomes faz um cálculo aproximado do investimento que será necessário somente em estações radiobase (ERBs) padrão New Radio do 5G para cumprir o compromisso de atender a todos os municípios com população abaixo de 30 mil habitantes. Segundo ele, uma ERB NR 5G custa hoje em torno de US$ 150 mil. “Considerando que a região Nordeste tem mais de 1.400 municípios, estamos falando em algo superior a US$ 210 milhões. E esse seria o investimento somente em antenas, fora o core de rede, que poderá ser compartilhado entre as empresas do consórcio.” Por isso, ele diz que a ideia é dividir essas obrigações para tornar possível “o sonho do 5G”.
O leilão pode dar margem também ao surgimento de um novo contexto de operadoras móveis virtuais (MVNO, na sigla em inglês) atuando sobre as redes de 5G das operadoras tradicionais. Para o CEO da Datora/Arqia, Tomas Fuchs, o 5G é uma oportunidade tanto para as PPPs quanto para MVNOs como a Arqia. “Nós já estamos implantando nosso core de rede para 5G standalone, mas não temos fibra óptica. Por isso, planejamos participar do leilão em conjunto com empresas desse segmento.”
Fuchs destaca a expertise da Arqia em operação móvel e diz que com o core de rede pronto poderá facilitar a entrada de players de fibra nesse mercado. “Estamos analisando o edital, discutindo internamente sobre as frequências, para ver como podemos complementar nossos serviços e a cobertura.”
Fonte: Valor (12/04/2021)
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