Pasta também anunciou que estuda medidas de contenção no transporte público
O Ministério da Saúde alertou ontem que 1,5 milhão de pessoas deixaram de tomar a segunda dose de um dos imunizantes contra a Covid-19 no Brasil. Essa parcela da população tomou a primeira dose da CoronaVac ou da AstraZeneca/Oxford, mas não completou o esquema vacinal, e por isso não há proteção suficiente contra a doença.
— Mesmo que se vença o prazo, a orientação é de que se complete o esquema vacinal — alerta Francieli Fontana, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
A pasta estuda estratégias junto ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e ao Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) para completar e ampliar a cobertura.
Clima de 'barata-voa'
Professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Gonzalo Vecina Neto atribui a falta de comparecimento à desorganização do sistema de saúde, que deveria entrar em contato com as pessoas que já receberam a primeira dose.
— Já é esperado que algumas pessoas esqueçam de tomar a segunda dose. Mas o sistema de saúde tem o cadastro de quem recebe os imunizantes e deve procurar essas pessoas por algum mecanismo, como o SMS — explica. — A campanha de vacinação está ocorrendo em clima de barata-voa, a população não foi devidamente instruída.
De acordo com pesquisadores, a primeira dose desencadeia o início da produção de anticorpos, porém só é possível chegar à eficácia dos imunizantes — em média, 50,3% da CoronaVac, e 70% da AstraZeneca — após a dose de reforço. E, mesmo aqueles que forem infectados, apresentarão sintomas mais brandos.
Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, enumera fatores que distanciam a população dos postos de saúde.
— Há um pouco de tudo: quem esqueceu, quem já se sente protegido, quem teve alguma reação de saúde, quem se afastou por ter ouvido fake news — destaca. — É normal ver a queda da cobertura vacinal entre cada dose de uma vacina. Por isso espera-se que as secretarias de saúde busquem as pessoas para que elas concluam a imunização.
A biomédica Mellanie Fontes-Dutra, divulgadora científica pela Rede Análise Covid-19, ressalta que há poucos estudos sobre o nível de proteção da primeira dose em vacinas que exigem duas aplicações.
— As pesquisas sobre o efeito protetor e a eficácia são feitas considerando o esquema vacinal completo — assinala a pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. — O vírus pode se adaptar no organismo de uma pessoa que tomou apenas uma dose, porque ela não tem o nível suficiente de anticorpos para bloqueá-lo.
Isolamento social
Fontes-Dutra pondera que a cobertura vacinal ajuda a conter a disseminação do coronavírus, mas não será suficiente para combater a pandemia.
— Há medidas de enfrentamento, como o uso de máscaras e o isolamento social, que provocam resultados positivos a curto prazo. A vacinação complementará essa barreira imunológica.
A pasta estuda estratégias junto ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e ao Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) para completar e ampliar a cobertura. Perguntado sobre o prazo para imunizar todos os brasileiros acima de 18 anos, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tergiversou. “Eu sou cardiologista”, respondeu. O PNI também não definiu data.
Transporte público
O ministro afirmou, ainda, que a pasta vai elaborar uma diretriz para estabelecer protocolos para o transporte público. Segundo o secretário executivo da pasta, Rodrigo Cruz, a discussão é feita em conjunto com Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR) para emissão de um documento sobre o tema. A pasta cogita ainda aplicar uma estratégia de testagem direcionada ao uso do transporte coletivo, onde dificilmente se evitam aglomerações, com utilização de testes de antígeno, que apresentam resultado mais rápido.
— São medidas para evitar que chegue em cenários extremos. O Brasil é um país continental e uma medida linear, no país inteiro, seguramente não vai funcionar. (Precisamos) disciplinar determinadas condutas. O uso de máscaras de uma maneira rigorosa, outra medida disciplinar dos transportes urbanos. Vai ao metrô para você ver. Será que a gente não pode melhorar?— disse.
Além da diretriz, a pasta pretende fazer uma campanha sobre o tema. O secretário executivo explicou que a medida não será uma determinação e sim uma publicação para orientar os municípios.
— Em caráter orientativo, o governo federal não tem competência para poder determinar as regras dos transportes urbanos, isso fica a critério dos municípios. Estamos discutindo qual a melhor a estratégia, mas é uma testagem para retomada da mobilidade, estamos vendo as melhores práticas para a partir disso definir quem seria testado, motoristas, alguns passageiros, isso a gente ainda está estudando — afirmou Cruz.
Ele afirma que a pasta ainda avalia se o documento será uma portaria conjunta com o MDR, um manual ou apenas uma orientação a ser fixada no site do Ministério da Saúde. Questionado se a pasta pretende orientar a redução da ocupação dos veículos, Cruz disse que o tema é visto com cautela.
— Todas as medidas restritivas de capacidade geram um ônus para os transportadores, então, em função disso, a gente avalia com muita cautela — disse.
O ministro afirmou, no entanto, que as medidas podem gerar redução da lotação das frotas:
— Precisamos disciplinar. Naturalmente, essa disciplina às vezes resulta em reduzir o número de pessoas dentro de transportes públicos, porque se a gente não fizer isso a doença tende a se disseminar. Então vamos procurar disciplinar para ter um resultado melhor.
Vacinação é prioridade
Queiroga voltou a dizer que a vacinação é prioridade do ministério e afirmou que tem avaliado estratégias para aquisição de mais vacinas. Para o ministro, há um bom diálogo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para o reforço da quantidade enviada ao país por meio do consórcio Covax Facility. A entidade, no entanto, já afirmou que não há como definir prazo para a chegada das 8 milhões de doses, previstas para até 31 de maio.
De acordo com o ministro, a capacidade de vacinação nacional é de 2,4 milhões de doses diárias em todo o país, sem a adoção de estratégias adicionais, como aumento no horário de vacinação. No entanto, faltam vacinas. Juntos, o Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) conseguem produzir 2 milhões de unidades por dia se houver Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) suficiente.
— A gente tem capacidade de vacinação. Se a gente tiver vacina, conseguimos vacinar.
Fonte: O Globo (13/04/2021)
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