sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Planos de Saúde: Amil paga R$ 3 bi para se desfazer de seus planos individuais



UnitedHealth, dona da Amil, fechou com a Fiord Capital repasse de carteira com 370 mil usuários e 4 hospitais 

O Hospital Paulistano, em SP, faz parte do pacote de ativos negociados.

A UnitedHealth, dona da Amil, fechou acordo de cerca de R$ 3 bilhões com a Fiord Capital, empresa de reestruturação financeira, para se desfazer da carteira de planos de saúde individual, segundo o Valor apurou.  

O grupo de saúde americano vai pagar essa cifra para a Fiord Capital assumir uma carteira extremamente deficitária com cerca de 370 mil usuários de São Paulo, Rio Janeiro e Paraná. O negócio envolve ainda quatro hospitais da Amil situados em São Paulo e Curitiba, que foram escolhidos por serem os mais usados por esses beneficiários. A Amil continuará prestando serviços a esses clientes com suas redes própria e credenciada de hospitais e médicos, num contrato de longo prazo.   

A Fiord é uma empresa criada no mês passado e não há muitas informações sobre sua atuação. O fundador é Nikola Luckic, executivo que, nos últimos quatro anos, era sócio da Starboard Partners, especializada em reestruturar ativos em dificuldade financeira e que tem em seu portfólio a varejista Máquina de Vendas.  

Desse valor de R$ 3 bilhões, cerca de R$ 800 milhões referem-se à reserva técnica, recurso que fica bloqueado como garantia para cobrir possíveis problemas financeiros ou pagamentos de procedimentos médicos futuros, conforme exige a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A outra parte é uma compensação para a empresa que está assumindo a carteira que opera no vermelho e impacta negativamente os resultados da operadora. Em 2019, a taxa de sinistralidade dessa carteira girava em torno de 100%. Para uma operadora ser lucrativa, esse percentual precisa ficar na casa dos 75% ou menos.  

No primeiro semestre deste ano, a Amil apurou um resultado líquido de R$ 3,8 bilhões, o que representa uma queda de 65% quando comparado ao mesmo período de 2020. Além da carteira de convênios médicos individuais, o resultado da operadora - que tem um total de 2,9 milhões de usuários de planos de saúde e 2,2 milhões de plano dental - foi impactado pela segunda onda da covid, retomada de procedimentos médicos neste ano e porque no primeiro semestre de 2020 as operadoras em geral tiveram resultados elevados, uma vez que ocorreu uma forte redução de procedimentos médicos com isolamento social.  

Essa carteira de convênio médico voltado a pessoa física vem se deteriorando porque há muitos anos a Amil não vende mais planos de saúde nessa modalidade. Com isso, não há inclusão de usuários mais jovens que possam mitigar os riscos dos clientes, que contrataram seus planos há muitos anos, e com isso estão envelhecendo e usando mais o convênio. Cerca de 95 mil usuários assinaram seus contratos antes de Lei dos Planos de Saúde, de 1998, quando as regras eram mais frouxas.  

Desde o segundo semestre do ano passado, a UnitedHealth tenta vender essa carteira de planos individuais, mas as várias tentativas anteriores foram frustradas. Mais de 15 potenciais compradores foram contados. Em janeiro, o grupo americano chegou a assinar um cheque de US$ 350 milhões com a Health Invest, empresa especializada em reestruturação de ativos, mas desistiu na última hora devido ao risco de judicialização e receio de danos a sua imagem.  

O mercado de planos de saúde é regulado, os órgãos de defesa do consumidor são muito ativos e a Justiça tende a dar ganho de causa às liminares pleiteadas pelo beneficiários. Uma dificuldade para quem assume essa carteira é que o comprador não pode mudar a rede credenciada contratada pelos usuários na tentativa de reduzir custos - prática muito adotada em qualquer setor, num processo de reestruturação, para ser mais rentável.   

Procuradas pela reportagem, a UnitedHealth e a Fiord Capital informaram que não comentam rumores de mercado.

Fonte: Valor (09/12/2021)

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