sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Comportamento: Uma boa dica para 2022, trabalho voluntário pode ser a resposta contra a solidão

 


Três em cada 5 americanos dizem se sentir solitários e estudos indicam que trabalho voluntário pode ajudar; veja como escolher o que fazer

Bem antes de uma pandemia global nos afastar de nossos entes queridos, e a variante Ômicron ameaçar atrapalhar os planos de férias, os especialistas alertaram sobre “uma epidemia de solidão” nos Estados Unidos.

Três em cada cinco americanos entrevistados em 2019 relataram sentir-se solitários, o que os pesquisadores atribuíram a uma variedade de fatores, incluindo falta de uma rede de apoio, interações significativas pouco frequentes, saúde física e mental precária e desequilíbrio nas atividades diárias. Além disso, quase um quarto das pessoas com 65 anos ou mais são consideradas socialmente isoladas, de acordo com o National Health and Aging Trends Study. 

A solidão geralmente se origina de estar sozinho sem desejar. Mas também é motivada por uma discrepância entre como uma pessoa percebe seus relacionamentos e o que espera deles. Essa desconexão é a razão pela qual alguém pode estar cercado pela família no Natal e ainda se sentir um estranho. 

Uma cura potencial? Bondade para com os outros. Algo tão simples como o voluntariado pode melhorar nossa saúde, amenizar sentimentos de solidão e ampliar nossas redes sociais, sugerem estudos. Oportunidades de retribuir — tanto pessoalmente quanto virtualmente — são mais comuns do que no ano passado, e a necessidade por voluntários não diminuiu, especialmente na doação de alimentos. 

— O voluntariado é uma das melhores e mais certas maneiras de encontrar um propósito e significado em nossa vida — diz Val Walker, autora do livro “400 Friends and No One to Call: Breaking Through Isolation and Building Community (algo como “400 amigos e ninguém para ligar: rompendo o isolamento e construindo uma comunidade”).

Benefícios do voluntariado 

Em um estudo com 10 mil voluntários no Reino Unido, cerca de dois terços concordaram que seu trabalho voluntário os ajudou a se sentir menos isolados, especialmente aqueles com idades entre 18 e 34 anos.

Sam Boyd, 24, diretora de gestão de voluntários da Special Olympics Maryland, afirma que percebe que até mesmo os mais retraídos “ganham vida” durante um turno e, no final do dia, “estão dando as mãos e batendo cotovelos com outros pessoas." 

Segundo ela, ao se voluntariar, “você também pode saber mais sobre si mesmo e ampliar sua visão de mundo”. 

Entre os idosos, o isolamento social e a solidão estão associados a maiores taxas de mortalidade, depressão e declínio cognitivo. 

Os especialistas dizem que o voluntariado não apenas ajuda as pessoas a se sentirem menos solitárias, mas também pode melhorar o bem-estar físico.

Um estudo de cinco anos com mais de 800 pessoas em Detroit descobriu que ajudar outras pessoas que não moram com você pode agir como uma proteção contra os efeitos negativos do estresse. Embora os participantes do estudo tenham enfrentado eventos de vida estressantes, como doença, perda do emprego ou dificuldades financeiras, aqueles que gastavam tempo fazendo tarefas para os outros — como cuidar dos filhos ou ajudar no trabalho doméstico — tinham menos probabilidade de morrer do que aqueles que não ajudaram os outros.

A AARP Foundation Experience Corps, um programa de tutoria intergeracional, encontrou vários benefícios para o voluntariado: mais de 85% dos voluntários sentiram que suas vidas haviam melhorado por causa de seu envolvimento com o programa e 98% relataram que o programa os ajudou a permanecer física e mentalmente ativos. 

— As pessoas querem ser importantes e valorizadas ao longo de suas vidas — disse Lisa Marsh Ryerson, presidente da AARP Foundation. 

Quanto é preciso? 

Gary Bagley, diretor executivo da New York Cares, a maior organização voluntária da cidade de Nova York, sugere definir uma pequena meta no início, como ser voluntário uma vez por semana ou mesmo uma vez por mês, e desenvolver a partir daí. 

— Um dos maiores erros que você pode cometer é decidir ‘vou ser voluntário duas vezes por dia durante o próximo ano’ porque você vai se esgotar com isso. Portanto, pense em algo que seja administrável para você, e não um compromisso assustador na agenda. Apenas dê o primeiro passo. 

Pesquisas sugerem que o voluntariado de forma constante é o que parece colher os maiores benefícios. Em um estudo, viúvos com 51 anos ou mais que trabalharam como voluntários duas ou mais horas por semana se sentiram menos solitários — e não eram mais solitários do que os voluntários casados.

Meg Goble, 68, uma advogada imobiliária que mora no Brooklyn, começou a trabalhar como voluntária na New York Cares 17 anos atrás. 

— Na minha outra vida, sou advogada. Gosto do meu trabalho, mas não é tão gratificante como costumava ser. 

Goble vive sozinha, mas em seu trabalho como voluntária — ajudando alunos do ensino fundamental com seus deveres de casa e arranjando flores — ela está continuamente socializando. 

Durante a pandemia, ela também encontrou maneiras de se voluntariar à distância, fazendo entrevistas virtuais simuladas com imigrantes que se preparavam para fazer o teste de cidadania dos EUA e escrevendo mais de 400 cartas para idosos em lares de idosos e casas de repouso. 

Mesmo durante o auge da pandemia, Patricia Novy de Clark, 72, professora de artes aposentada, convocou ex-professores, parentes e vizinhos para montar cestas de Páscoa e de Natal para aqueles que não tinham dinheiro.  

— Eu estava determinada a não permitir que essa situação de bloqueio abatesse meu humor — disse Novy. 

Como escolher 

O tipo de atividade que você escolhe importa menos do que se você a considera significativa, disse Walker, a autora de “400 amigos e ninguém para ligar”. Em seus 25 anos como conselheira de reabilitação, ela colocou seus clientes em atividades voluntárias para ajudá-los a construir confiança e desenvolver habilidades sociais. 

— Eles usaram o voluntariado como uma ponte para ajudá-los a se reconectar à comunidade — disse Walker. 

Alguns trabalham por uma causa política ou ambiental. Outros são levados a compartilhar uma paixão, como trabalhar com madeira. Walker aconselha também a pensar sobre o tipo de ambiente no qual gostaria de ser voluntário e se isso facilitará as interações sociais. 

Se você ajuda em um museu, por exemplo, pode conhecer grupos maiores de pessoas do que se for voluntário como tutor, acrescentou ela.

Alguns voluntários são motivados a curar os outros — e a si mesmos. Robyn Houston-Bean, 52, disse que quando seu filho de 20 anos, Nick, morreu de overdose acidental em 2015, depois de participar de um programa de tratamento de drogas, ela deixou de ser "uma verdadeira empreendedora sempre fazendo um milhão de coisas" para ficar sentada no sofá por meses.

Houston-Bean fundou a Sun Will Rise Foundation para ajudar aqueles que sofrem de abuso de substâncias. Ela disse que isso lhe permite homenagear a memória de seu filho “ao mesmo tempo em que ajuda muitas outras pessoas”. 

— Isso tira o foco da minha dor e o coloca em outro lugar. Eu tenho esse propósito real agora. 

Fonte: The New York Times e O Globo (28/12/2021)

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