sábado, 8 de junho de 2024

Aposentadoria: Você está poupando (ou poupou) o suficiente para se aposentar?

 


A resposta é não para a ampla maioria das pessoas. Por que será?

O recorte sobre aposentadoria da última pesquisa, a 7ª edição, do Raio-X do Investidor, elaborada pela Anbima, indica que apenas 19% dos entrevistados ainda ativos no mercado de trabalho têm alguma reserva financeira para a aposentadoria. Deste grupo, 58% admitem que ainda não começaram a poupar para a aposentadoria e os outros 23% sequer têm a intenção de fazê-lo.

Quando questionados sobre como financiarão seus gastos, 50% contam principalmente com os recursos vindos do INSS para cobri-los, 17% esperam continuar trabalhando e ganhando salário e outros 17% contam com reservas financeiras, planos de previdência, alugueis e outras formas de poupança feitas ao longo da vida para arcar com a maior parte dos gastos. Os demais não sabem ou esperam que os filhos os ajudem na terceira idade.

Considerando o padrão de pagamento de benefícios do INSS, é cruel o recorte entre expectativa e realidade. Enquanto 59% dos ativos no mercado de trabalho esperam ter o INSS como principal fonte de rendimentos na aposentadoria, a realidade é que ela cumpre este papel para 93% dos aposentados. Aqui um gap de 34% entre expectativa e realidade. Vale ressaltar que independente de classe social, os percentuais variam de 92% a 94% para as classes A/B e D/E, respectivamente.

Os números estão em linha com a edição anterior e guardam relação com os do mercado americano. Por lá, segundo reportagem da Forbes, baseada em dados da National Institute On Retirement Security, a média de recursos poupados para a aposentadoria entre pessoas da Geração X (entre 1965 e 1980) é de US$ 243 mil, mas a mediana é de US$ 40 mil. Mais um traço da concentração de renda que vem se acentuando pelo mundo.

O gap entre realidade e expectativa também é grande entre os americanos, pesquisa feita pela empresa Northwestern Mutual identificou que o número mágico que ronda na cabeça da geração X é algo perto de US$ 1,5 milhão. Quase seis vezes a média de recurso poupados e uma enormidade em relação a mediana.

Embora os números impressionem e preocupem, principalmente para pessoas como eu, da geração X, não se pode alegar que são novos. Muitos de nós temos certa consciência deles e temos acompanhado, com certa aflição, como eles vêm piorando conforme aumentam os custos com planos de saúde e tratamentos médicos.

A verdade é que estamos naquela situação da pessoa que vê um incêndio distante e prefere acreditar que apesar dos ventos ele não chegará até ela. Algo tão distante que de alguma forma irá se dissipar, ou será resolvido antes que chegue até ela. Mas o fogaréu vai se aproximando, então vamos entrando em negação e, “de repente”, ele chegou.

Guardar dinheiro para o futuro, ainda mais quando ele está tão distante, é muito difícil para nós. Assim como dietas e atividade física, são decisões seguidas de renúncia e sacrifício sem nenhuma recompensa imediata ou rápida. No caso da aposentadoria são anos abrindo mão de restaurantes, carros, passeios, viagens, etc. para um dia, “sabe-se lá quando”, poder usufruir o produto de tanta abnegação.

Em um experimento realizado por Uri Gneezy e John List com estudantes do ensino público americano, eles identificaram uma resposta positiva para recompensas de curto prazo. Resumindo a história, foram oferecidos a dois grupos de estudantes US$ 20 caso apresentassem melhoria relevante em testes de proficiência acadêmica, para o primeiro a recompensa era imediata enquanto para o segundo ela seria paga um tempo depois. O resultado é que a performance do primeiro grupo foi significativamente melhor que a do segundo.

Outros tantos estudos sobre contribuição para planos de previdência privada indicam que os contribuintes se tornam mais dispostos a aumentos das contribuições extraordinárias quando submetidos a treinamentos ou palestras assim que recebem o bônus. Quando feitos com alguma antecedência não surtem o mesmo efeito.

Uma das maneiras de tentar evitar este viés de curto prazo é incrementar a educação financeira com uma abordagem prática para a resolução dos dilemas do dia a dia. Uma maneira de ativar o estímulo a consciência.

Mas a tarefa aqui também não é simples a começar do ponto de partida. Segundo a mesma pesquisa publicada na Forbes, apenas 8% dos entrevistados conseguiram acertar a pergunta sobre quanto US$ 100 mil renderia no primeiro ano de aposentadoria se o rendimento fosse de 4% ao ano. Considerando que as médias de proficiência dos americanos nos testes internacionais de aprendizagem, do tipo PISA, são bem maiores que a dos brasileiros é possível estimar que a coisa por aqui não vá muito bem.

A educação financeira talvez seja nossa vacina mais eficaz contra este gap, mas a aplicação dela em larga escala exigirá que governos elaborem e implementem políticas públicas, que envolvam o setor privado, que sejam capazes de preparar as pessoas para tomar decisões difíceis em suas vidas. Que despertem a consciência delas de modo que consigam domar seus desejos de curto prazo em prol do futuro.

Por ora, vale um velho conselho: crie uma meta de poupança que realmente lhe imponha algum sacrifício e poupe todo mês. Faça de conta que este dinheiro não existe, não pense.

Fonte: Valor Investe (05/06/2024)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".