sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Fundos de Pensão: Grandes fundos buscam alternativas de maior retorno e movimento pode beneficiar Brasil, diz MUFG



Os retornos baixos ou até negativos oferecidos pelo mercado de renda fixa do mundo desenvolvido estão empurrando grandes fundos, em especial os de pensão, a buscarem alternativas com retornos mais atraentes para sobreviverem a uma tendência de envelhecimento de seus cotistas.
Essa perspectiva pode beneficiar o Brasil, avalia Takahiro Sekido, economista para mercados globais e estrategista para o Japão do MUFG.

Para o profissional, que tem passagem pelo Banco do Japão (BoJ) e, recentemente, começou a colaborar com o Banco do Povo da China (PBoC) na área de inteligência de mercado, a desaceleração da economia mundial está próxima do fim. O Brasil, por sua vez, passou por um ano “crítico” em 2019 e, caso mantenha caso o governo mantenha em andamento a agenda reformista e apresente bons projetos de financiamento, pode voltar a atrair esse capital mesmo sem ter recuperado o grau de investimento.

Sekido esteve no Brasil na semana passada para conversas com investidores, após passar por Xangai, Manila, Nova York, Toronto e Cidade do México. A seguir, os principais pontos da entrevista.

Valor: Como o senhor vê o cenário global para o ano que vem?
Takahiro Sekido: Não estou pessimista sobre as perspectivas para 2020. Acredito que o mundo esteja próximo de atingir o fundo do poço e que a situação deva melhorar. Os Estados Unidos devem manter um crescimento estável. Os principais pontos de fraqueza hoje nos EUA aparecem fora da zona urbana, nas regiões agrícolas, as mais atingidas pela guerra comercial com a China. Acredito, no entanto, que as negociações estejam próximas do fim. A China, por sua vez, deve manter um crescimento próximo de 6%. A zona do euro representa hoje o maior risco a esse cenário. Questões como o Brexit continuam a ser adiadas e ainda é possível enxergar fragilidades na indústria e, em especial, no setor financeiro.

Valor: Qual o cenário para a China no futuro próximo?
Sekido: Neste momento, os burocratas do país discutem as bases para o próximo plano quinquenal, que vai de 2021 a 2025. Eles não estão mais preocupados com questões de curto prazo, como a guerra comercial, mas como o país se colocará no médio prazo. A palavra-chave, acredito, será internacionalização, ao mesmo tempo em que promove uma reforma das empresas estatais, algumas das quais são consideradas ineficientes. Nesse sentido, o que devemos ter é uma presença maior de capitais e empresas chinesas no exterior e isso inclui o Brasil, em especial nos setores de TI, comunicação e combustíveis.

Valor: O Brasil historicamente foi associado a taxas de juros elevada, mas hoje a Selic está nas mínimas históricas. Onde estão as oportunidades de investimento no país agora?
Sekido: Acredito que 2019 foi um ano crítico para o Brasil. Vimos muitas reformas serem aprovadas e vejo a equipe de ministros do governo como muito inteligente. Olhando para frente, o que existe em todo o mundo é uma situação em que grandes fundos de pensão de países como o Japão tem muito dinheiro para investir e uma grande preocupação, que é o envelhecimento de seus cotistas. Ao mesmo tempo, os rendimentos dos bonds de países desenvolvidos estão negativos ou muito baixos, o que não é suficiente para estes sobreviverem. É claro que, no passado, investidores incorreram em perdas no Brasil. No entanto, os baixos rendimentos em todo o mundo os empurram a encontrar boas alternativas. Se o governo brasileiro continuar promovendo reformas e as condições econômicas permanecerem estáveis, acredito que esse dinheiro pode voltar.

Valor: Isso não é algo que começará no próximo ano, então.
Sekido: Não concordo. Os grandes fundos não estão satisfeitos com um rendimento de 1,8% da T-note de 10 anos, dos EUA que é o país desenvolvido que ainda paga melhor. Por causa da eleição presidencial do ano que vem, a curva de juros dos EUA não deve sofrer alterações significativas também. Ou seja, eles vão continuar buscando alternativas, especialmente os fundos de pensão, que podem incorrer em perdas iniciais porque têm visão é de longo prazo. Se antes, eram os fundos de hedge que mexiam com o mercado, após a crise financeira eles se tornaram mais regulados e, hoje, é preciso olhar o comportamento dos fundos de pensão. Eles são mais flexíveis, capazes de tomar risco, e começam a buscar mais oportunidades em ativos não comercializáveis, sem marcação a mercado.

Valor: A ausência do grau de investimento não limita esse movimento?
Sekido: Para ser honesto, sim. No entanto, dado esse contexto internacional, acredito que se a perspectiva de reformas se mantiver e o governo e as empresas brasileiras forem capazes de mostrar bons projetos, com fluxos de caixa decentes, eles conseguirão atrair a atenção dos grandes fundos. Mesmo no caso da alocação em equity, por exemplo, ainda há espaço. Fundos como os japoneses, que gerem algo perto de 160 trilhões de ienes em ativos, podem alocar um porcentual em países sem o grau de investimento. Ou seja, mesmo uma pequeno porcentual pode se tornar algo grande. As empresas japonesas também buscam oportunidades no exterior. Por causa do envelhecimento da população do Japão, está cada vez mais difícil contratar no país, em especial no setor de serviços, que é mais intensivo em mão de obra. Elas certamente mantém um olhar sobre o Brasil, principalmente as montadoras. O Brasil, junto com a China, é um dos países onde a população anda pensa em comprar carros novos. Em vários outros lugares, o tema hoje é compartilhamento.

Fonte: Valor (05/12/2019)

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