Especialistas explicam como hábitos saudáveis podem contribuir para que o cérebro envelheça de forma saudável e quadros demenciais sejam evitados
Dedicar-se a um bom caça-palavras é uma das dicas mais populares quando o assunto é exercitar a memória e garantir um bom desempenho cognitivo na velhice. Mas será essa a única forma de preservar as nossas lembranças – e o nosso cérebro – ao longo da vida? Especialistas ouvidos pelo R7 explicam que não é simples assim.
Há uma série de fatores associados ao funcionamento da memória, e a velha máxima “você é o que você come” também pode ser aplicada nesse caso, assim como há questões relacionadas à genética e a doenças de base.
É inevitável que a memória passe por alterações ao longo da vida e que, a partir de certa idade, as informações não sejam mais processadas com a mesma rapidez e facilidade.
No entanto, é possível chegar à velhice sem sinais de demência ou perdas cognitivas importantes, explica o neurocirurgião Marcelo Valadares, do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e pesquisador da disciplina de neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Para isso, o caminho é conhecido: manter uma alimentação saudável, praticar atividade física regularmente, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e o tabagismo.
São as mesmas recomendações para driblar problemas como diabetes e hipertensão arterial, por exemplo, pois a saúde do cérebro também depende do bom funcionamento de todo o organismo.
Ainda assim, passatempos como o de palavras cruzadas e a manutenção de um bom hábito de leitura são importantes aliados para treinar as habilidades cognitivas.
Sozinhas, no entanto, essas atividades não são suficientes para preservar a memória, de acordo com o psiquiatra Rodrigo Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
“O que os estudos internacionais mostram é que demência tem a ver com fatores de risco de saúde física, como hipertensão e diabetes. Até o momento, se a pessoa não cuida de aspectos da saúde [como um todo], só o treinamento cognitivo não é suficiente para prevenir demência”, afirma o psiquiatra.
Como a memória funciona?
Basicamente, é como se houvesse compartimentos no cérebro onde as lembranças são organizadas em ordem de importância. Um deles é a memória recente, ou de curto prazo, que, segundo o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento, reserva as informações que serão temporariamente necessárias, como uma lista de compras.
Há também a memória de trabalho, que armazena o conhecimento que será usado imediatamente, como a lembrança do lugar onde se está.
Já a memória de longo prazo, como sugere o nome, conserva as informações e experiências que são relevantes ao longo da vida.
“O nosso cérebro vai deixando de lado coisas que não são relevantes, não são necessárias ou aquelas nas quais nós não pensamos. Então não é que a nossa memória seja infinita, ela é categorizada, tem significado e é acionada à medida que nós damos valor àquilo”, explica o neurocirurgião.
As emoções também são um componente importante para essa preservação, segundo o psiquiatra, e podem modular a capacidade da memória, filtrando o que o cérebro vai reter ou descartar.
“Quando olhamos para o passado, de forma geral, acabamos tendo uma memória seletiva. As situações que vivemos carregadas de emoção, sejam positivas ou negativas, acabam marcando mais a nossa memória, enquanto situações mais triviais, sem tanta emoção associada, acabam sendo registradas com menor evidência”, sublinha Martins Leite.
Impacto da tecnologia na memória
Para os especialistas, ainda não é possível dimensionar o impacto da internet e das mídias digitais na memória, ou mesmo dizer qual é o efeito provocado pela avalanche de informações e interações que usar uma rede social, por exemplo, pode proporcionar.
“O que já podemos perceber é que, de uma forma mais empírica, essa sobrecarga sensorial de dados está associada a uma menor retenção da memória. Por conta do excesso desses elementos, acabamos tendo muita dificuldade de filtrar e selecionar o que é importante do que não é. Então, esse excesso de informações acaba prejudicando a consolidação das memórias”, destaca o psiquiatra Martins Leite.
Por outro lado, o neurocirurgião Marcelo Valadares considera que a tecnologia também pode estimular o raciocínio à medida que facilita o acesso à informação de qualidade.
“A boa memória, mas principalmente a perda de memória, muitas vezes está associada ao uso da nossa inteligência, à realização de atividades complexas, ao estudo e à leitura. Então, se considerarmos que a tecnologia vem para estimular e para desenvolver, podemos ter [por exemplo] mais leitura”, destaca Valadares.
“Mas é diferente para pessoas que ficam muito tempo na internet e não dormem bem, por exemplo. Dormir bem é necessário para que nosso cérebro processe melhor as nossas memórias, e pessoas que não têm o sono de qualidade podem apresentar um prejuízo dessa função com o tempo”, finaliza o neurocirurgião.
Fonte: R7 (24/08/2022)
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