quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Meu Bolso: Para a aposentadoria, é melhor aplicar no Tesouro IPCA de vencimento curto ou longo?

 


A decisão sobre qual título investir depende de dois fatores

Quando eu era jovem, só existia, praticamente, uma renda fixa. Alguns leitores devem lembrar que, no passado, renda fixa era sinônimo de overnight. Hoje, existe uma infinidade de alternativas para investimento de renda fixa. Neste artigo, vou abordar apenas duas opções que tenho recebido mais questionamentos recentemente.

A questão que tenho recebido é a que forma o título deste artigo: se pretendo investir e manter por 10 a 30 anos, ou seja, para a aposentadoria, é melhor aplicar no título público federal referenciado ao IPCA de vencimento longo ou curto?

Essa é uma excelente questão. Infelizmente, não há uma única resposta. A resposta depende de alguns fatores. Vou avaliar dois destes fatores.

Primeiro com relação ao risco de reinvestimento. Antes, o que é esse risco?

O risco de reinvestimento existe quando você decide por alocar em um título curto e quando ele vencer, você não conseguir reinvestir na mesma taxa anterior.

Hoje, a taxa de retorno de um título curto, por exemplo, o Tesouro IPCA+ 2026 é de IPCA+5,51% ao ano. Esse título vence em 2026. Portanto, poderia ser considerado um título de vencimento de curto prazo.

Já o título Tesouro IPCA+ 2045 é negociado a IPCA+5,78% ao ano. Esse título tem seu vencimento em 2045, por consequência, é um título de longo prazo.

A diferença entre os dois é, razoavelmente, pequena, ou seja, apenas 0,27% ao ano.

Existe um risco de que quando o título curto vencer em 2026, você não consiga a mesma taxa. No futuro, você pode reinvestir a uma taxa maior ou menor. Não dá para saber.

Assim, se você deseja reduzir o risco de reinvestir a uma taxa menor, então, é melhor investir no título longo hoje.

Se você acredita que esse risco é baixo, ou seja, que as taxas podem cair e subir, mas estarão sistematicamente por volta de IPCA+5,5%, então sua decisão passa ao segundo fator.

O segundo fator, diz respeito ao seu perfil de investidor.

Se você tem perfil conservador, prefira o título de vencimento mais curto.

As taxas de juros variam ao longo do tempo e já estiveram acima de IPCA+7% ao ano em um passado recente.

Os títulos mais curtos têm uma variabilidade muito menor. Portanto, o investidor conservador sofrerá menos com oscilações se aplicar em um título de curto prazo.

Já os mais agressivos, podem aplicar nos títulos longos. Esses títulos têm capacidade de produzir retornos maiores, por exemplo, mais de 30%, no curto prazo, caso as taxas de juros caiam.

Esse prêmio em potencial vem com um custo de oscilação. Os títulos longos podem apresentar perdas superiores a 20% no curto prazo.

Mas o que aconteceu no passado? Qual foi a melhor decisão nos últimos 15 anos?

Para avaliar isso, vamos usar os índices da Anbima.

O IMAB5 é o índice de títulos públicos federais com vencimentos menores que 5 anos. Seu prazo médio é próximo de 2 anos. Ou seja, seria como se comprasse um título de 2 anos para o vencimento.

O IMAB5+ é o índice de títulos públicos federais com vencimentos superiores a 5 anos. Seu prazo médio é próximo de 12 anos.

Assim, estaríamos comparando ao longo dos últimos 15 anos, como foi o resultado entre comprar um título de 2 anos para o vencimento ou um de 12 anos.

Nos últimos 15 anos, o IMAB5 e o IMAB5+ renderam o equivalente a 8,7% e 9% ao ano, respectivamente.

Só que enquanto o índice com vencimento curto nunca apresentou retorno negativo em qualquer ano, o IMAB5+ chegou a perder mais de 17% em um dos anos e teve variabilidade mais de 3 vezes superior ao índice com vencimento curto.

Se o passado for a melhor explicação do que pode ocorrer no futuro e você não pretenda se desfazer de seu investimento em qualquer cenário até o vencimento, então, a atitude mais sensata é ficar com o título de curto prazo. Neste, você terá praticamente o mesmo retorno de um título longo, mas com muito menos sofrimento de oscilação ao longo do tempo.

Fonte: Folha de SP (16/08/2022)

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