sábado, 10 de fevereiro de 2024

Idosos: Entenda por que os idosos foram excluídos da vacinação contra Dengue



Público é responsável pela maior parcela dos casos graves da doença, mas não vai ser imunizado na campanha que começa neste mês

A campanha de vacinação contra a dengue no Sistema Único de Saúde (SUS) com a Qdenga, do laboratório japonês Takeda, deve começar ainda neste mês. Serão contemplados jovens de 10 a 14 anos moradores de cidades selecionadas pelo Ministério da Saúde com base em critérios como ter uma população acima de 100 mil habitantes e uma alta transmissão da doença.

O público-alvo nesse primeiro momento é limitado devido ao quantitativo de doses que a farmacêutica consegue fornecer – apenas 6,6 milhões neste ano, suficientes para vacinar 3,3 milhões de brasileiros. Muitas pessoas, no entanto, podem ter ficado surpresas pela faixa etária escolhida ter sido a de crianças e adolescentes, e não a de idosos.

Isso porque de fato a população mais velha é a que representa a maior proporção de casos graves da dengue no Brasil. Em 2022, de acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde, 612 das cerca de 1.050 mortes registradas naquele ano, mais da metade, foram em pacientes acima de 60 anos.

No entanto, quando definiu a estratégia de vacinação para a dengue, o Ministério da Saúde lembrou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu o aval para aplicação apenas naqueles de 4 a 60 anos, já que os estudos que embasaram a decisão foram conduzidos somente com a faixa etária.

Logo, não há dados ainda confirmando a segurança e a eficácia da dose nos mais velhos, e a falta de autorização do órgão sanitário para o público não permite que a pasta os englobe na campanha.

“Serão vacinadas as crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, faixa etária que concentra maior número de hospitalização por dengue – 16,4 mil de janeiro de 2019 a novembro de 2023, depois das pessoas idosas, grupo para o qual a vacina não foi autorizada pela Anvisa”, destacou o Ministério em comunicado na época.

Ainda assim, na rede privada, é possível haver a indicação off-label (finalidade diferente da bula) da vacina para idosos. Em nota técnica sobre a Qdenga, no ano passado, as Sociedades Brasileira de Infectologia, de Imunizações e de Medicina Tropical (SBI, SBIm e SBMT) destacaram que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e o órgão correspondente da Argentina, por exemplo, aprovaram o uso para todos acima de 4 anos, sem limite de idade.

A decisão foi tomada “considerando os potenciais benefícios da vacina nessa população (idosa, com comorbidades), em geral mais suscetível às formas graves da doença”, afirmaram as entidades. “Assim, a recomendação para indivíduos 60+ deve ser encarada como uma indicação “off label”, a critério médico, respaldada pela aprovação por outras agências regulatórias, mas sem dados que atestem a segurança e a eficácia”, continuaram.

A Takeda planeja avaliar a imunogenicidade e a segurança da Qdenga na população mais velha para gerar dados que possam levar eventualmente a uma aprovação mais ampla da dose no Brasil.

Fonte: O Globo (07/02/2024)

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