terça-feira, 18 de novembro de 2025

Idosos no Mundo: A revolução silenciosa dos americanos 70+ no mercado acionário americano



Idosos dessa faixa etária detêm 39% das ações e fundos mútuos, quase o dobro de décadas passadas

A geração Z já deixou sua marca no mundo dos investimentos — basta pensar em criptomoedas, Fomo (medo de ficar de fora), ações de memes e investimentos gamificados. Mas, de uma forma menos chamativa, são os avós que realmente estão revolucionando o setor. A alta do mercado de ações americano foi impulsionada, principalmente, por investidores mais velhos.

De fato, nos últimos anos houve uma revolução silenciosa. Os americanos com 70 anos ou mais agora detêm 39% de todas as ações e fundos mútuos (que investem principalmente em ações), quase o dobro do que era comum entre 1989 e 2009. Essa tendência reflete uma mudança de perspectiva.

A tolerância ao risco dos americanos idosos aumentou consideravelmente. Muitos agora rejeitam as recomendações tradicionais de investimento, que se concentram em proteger, e não em aumentar, seu patrimônio. Se uma recessão ocorrer, isso poderá ter implicações profundas.

Parte do aumento da riqueza no mercado de ações entre os idosos reflete o fato de haver mais idosos: em 2010, 9% dos americanos tinham 70 anos ou mais; hoje, esse número chega a 12%. Mas isso é apenas parte da história.

Se esse grupo etário tivesse mantido a alocação de seus portfólios estável, sua participação na riqueza do mercado de ações teria aumentado apenas metade do que aumentou desde a crise financeira de 2007-2009. Essa mudança foi particularmente rápida nos últimos cinco anos: quase metade do aumento de US$ 24 trilhões na riqueza em ações e fundos mútuos foi acumulada por pessoas com mais de 70 anos.

A recente confiança dos americanos no mercado também é fruto de sua crescente riqueza. “A menos que eu tenha uma expectativa de vida excepcionalmente longa, tenho o suficiente para sobreviver pelo resto da vida”, diz Jay Gourley, de 77 anos, estudante de matemática na Universidade George Mason. “Posso... assumir alguns riscos sem me preocupar em ter de pedir esmola.”

Gourley tem uma carteira com cerca de 8% em dinheiro e o restante em uma combinação de fundos de índice e ações individuais. Se pressionado, ele transferiria suas ações para setores mais defensivos em vez de realocar para títulos.

Durante boa parte da vida de investimento de um aposentado, o mercado de títulos proporcionou retornos consideráveis. De 1980 a 2005, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano com vencimento em dez anos renderam, em média, 3,8 pontos porcentuais acima da inflação ao ano. Mas, no período subsequente, esse número caiu para menos de 0,5 ponto porcentual.

Os investidores em títulos sofreram grandes perdas com a alta dos preços ao consumidor que se seguiu à pandemia de covid-19. Thomas Van Spankeren, da Rise Investments, gestora de patrimônio, afirma que muitos dos aposentados que ele assessora presumem que o bom desempenho recente do mercado de ações americano continuará. Então, por que se preocupar com os retornos insignificantes dos títulos?

Pode haver outra força motriz, menos racional. Investidores mais velhos são tão suscetíveis ao Fomo (medo de ficar de fora) quanto seus netos. De acordo com Michelle Gessner, planejadora financeira em Houston, a maioria de seus clientes na faixa dos 70 anos tem pelo menos 60% de seus investimentos alocados em ações. Outra planejadora financeira lembra-se de uma cliente que faleceu recentemente, perto dos 100 anos, com um patrimônio líquido de cerca de US$ 20 milhões, e que comprou ações da Nvidia enquanto estava em um centro de cuidados paliativos.

Tal comportamento preocupa especialmente os fornecedores de consultoria financeira convencional. Uma heurística, que remonta pelo menos à década de 1950, defende que a alocação de ações de um investidor deve ser 100 menos a sua idade. Assim, um investidor de 25 anos deveria ter 75% dos seus ativos em ações; um de 75 anos, apenas 25%.

Essa lógica deu origem a toda uma indústria de fundos de data-alvo, veículos que realocam gradualmente de ações para títulos à medida que o investidor envelhece. Por exemplo, o fundo Target Retirement 2070, gerido pela Vanguard, uma gestora de ativos, tem atualmente uma alocação de cerca de 90% no mercado de ações. Ao longo dos próximos 45 anos, essa porcentagem diminuirá para cerca de 30%.

Mas alguns pesquisadores são mais otimistas. Em 2014, Wade Pfau, do American College of Financial Services, e Michael Kitces, então do Pinnacle Advisory Group, outra gestora de patrimônio, descobriram que os idosos poderiam se beneficiar ao aumentar sua alocação em ações ao longo da aposentadoria. O momento dos retornos, argumentaram eles, é crucial.

Investidores que vendem ações e compram títulos durante quedas no mercado consolidam as perdas e não têm exposição a uma eventual recuperação. Historicamente, observam eles, um investidor que inicia a aposentadoria com uma alocação de 30% em ações e a aumenta gradualmente para 80% teria um desempenho superior ao de um investidor que segue na direção oposta ao longo de um período de 30 anos.

Outros pesquisadores vão ainda mais longe. Em um estudo recente, Aizhan Anarkulova, da Universidade Emory, Scott Cederburg, da Universidade do Arizona, e Michael O’Doherty, da Universidade do Missouri, sugerem que os investidores devem manter um terço de seu portfólio em ações americanas e dois terços em ações do resto do mundo.

Com base em centenas de anos de dados de 39 países, eles estimam que os investidores que retiram 4% de suas economias para a aposentadoria a cada ano têm 39% de chance de ficar sem dinheiro se investirem exclusivamente em títulos de curto prazo, em comparação com 17% de chance se tiverem um portfólio equilibrado e apenas 7% para sua estratégia preferida de investir exclusivamente em ações.

Embora uma carteira com grande exposição a ações possa fazer sentido para investidores individuais, ainda pode causar problemas para o mercado, especialmente durante uma recessão. Num cenário otimista, os idosos compram ações para seus filhos e netos, esperando que elas sejam herdadas e mantidas por décadas.

Como resultado, podem se mostrar resilientes, fortalecidos pelas lembranças das recuperações do mercado após 2007-2009, a bolha da internet e o crash de 1987. Uma pesquisa da Schroders, outra gestora de ativos, constatou que apenas 25% dos investidores com 71 anos ou mais fizeram alterações no nível de risco de suas carteiras durante a crise da pandemia de 2020, a menor porcentagem entre todas as faixas etárias.

Contudo, em uma longa recessão, uma lógica diferente pode prevalecer. Enquanto os investidores mais jovens podem se sentir mais tranquilos, sabendo que ainda têm décadas para recuperar as perdas, os mais velhos têm menos sorte. Aqueles que fizeram uma alocação ousada por medo de perder a oportunidade (Fomo) podem ser tentados a reverter a decisão ou vender tudo, por precisarem do dinheiro para, digamos, cuidados médicos.

Se os números forem expressivos, essa mudança pode agravar uma queda no mercado. Se os novos gigantes de cabelos grisalhos do mercado de ações são investidores leais até o fim, só ficará claro quando as coisas derem errado. O resultado importa mais do que nunca.

Fonte: The Economist e Estadão (16/11/2025)

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