quarta-feira, 11 de novembro de 2020

TIC: Governo brasileiro decide apoiar os EUA em iniciativa contra a China na disputa sobre 5G

 


Programa Rede Limpa é defendido pelo governo americano para limitar o acesso de empresas chinesas de infraestrutura de internet

O governo anunciou nesta terça-feira o apoio à chamada Clean Network (Rede Limpa), programa dos EUA que, na prática, limita o avanço de empresas chinesas na instalação da tecnologia 5G. A adesão à iniciativa foi feita no âmbito de uma parceria trilateral entre Brasil, EUA e Japão.

O anúncio sobre o 5G foi feito pelo secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas, Pedro Miguel da Costa e Silva, que recebeu a imprensa ao lado do secretário para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do Departamento de Estado dos EUA, Keith Krach.

— O Brasil apoia os princípios contidos na proposta do Clean Network feita pelos EUA, inclusive na OCDE  (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), destinados a promover no contexto do 5G e outras novas tecnologias um ambiente seguro, transparente e compatível com os valores democráticos e liberdades fundamentais — disse Costa e Silva.

Ao confirmar a parceria entre os países, Krach afirmou que o objetivo da medida é garantir a segurança da rede. Durante a declaração, o secretário americano mencionou várias vezes a importância da confiança nas redes.

— Juntos, nós três, Brasil, Japão e EUA, expressamos nosso comprometimento em garantir redes de 5G resilientes e confiáveis em apoio aos princípios de padrões de confiança digital , que formam a base do 5G Toolbox ("caixa de ferramentas" da União Europeia), assim como da Clean Network — disse Krach.

Com a declaração, o governo brasileiro dá mais um passo em direção a fechar um acordo com os EUA, afastando da disputa pelo 5G brasileiro a chinesa Huawei.

Durante sua estada no Brasil, o secretário americano se reuniu com dez grandes empresas. Ele as teria convencido que são necessárias redes confiáveis para a expansão de suas operações com a 5G.

Isso significa, por exemplo, proteção de propriedade intelectual e solução contra crimes cibernéticos. A ideia é que os empresários brasileiros falem com as operadoras de comunicações sobre essas redes confiáveis. Krach também conversou com Carlos Slim, da Claro, e José Lopez, da Telefónica, para que eles falem com suas subsidiárias no Brasil.

Disputa geopolítica

O programa Clean Network foi anunciado em agosto deste ano pelo secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em meio à disputa geopolítica entre Washington e Pequim. Desde então, o secretário tem se empenhado em visitar países aliados em busca de apoio à iniciativa.

— Nós temos agora quase 50 nações que fazem parte do que chamamos de Clean Network, que se negaram a colocar infraestrutura de telecomunicações chinesa — afirmou Pompeo, em entrevista coletiva nesta terça-feira.

Ele destacou a presença de Krach na América Latina:

— Ele está discutindo o Clean Network com autoridades do governo e líderes do setor privado no Brasil. Recebi notícias de última hora que o governo do Brasil apoia os princípios do Clean Network e estou confiante de que iremos assinar um memorando de entendimento no futuro próximo. Quero agradecer ao Brasil e a seus líderes por isso.

O programa tem seis princípios. O Clean Path exige que todo tráfego de rede 5G entrando e saindo de instalações diplomáticas americanas não passe por equipamentos “de transmissão, controle, computação ou armazenamento de fabricantes não confiáveis, como Huawei e ZTE, que são obrigadas a cumprir exigências do Partido Comunista Chinês”, segundo texto publicado no site do Departamento de Estado americano.

Com essa exigência, países que assinam memorando de entendimento sobre o programa, na prática, banem as companhias chinesas citadas de sua infraestrutura de rede, mas o Clean Network vai além. O Clean Carrier define que operadoras chinesas não estejam conectadas às redes de telecomunicações americanas.

O princípio Clean Store prevê a remoção de “aplicativos não confiáveis de lojas de aplicativos móveis americanas”. “Aplicativos da República Popular da China ameaçam nossa privacidade, proliferam vírus, censuram conteúdo e difundem propaganda e desinformação”. E o Clean Apps propõe que desenvolvedores removam seus aplicativos da loja digital da Huawei.

Pelo Clean Cloud, o Departamento de Estado propõe que dados pessoais e de empresas americanas não sejam armazenadas ou processadas em serviços de nuvem oferecidos por empresas chinesas, e o Clean Cable pretende garantir que os cabos submarinos que conectam os EUA à internet não estejam ao alcance da China.

Fonte: O Globo (11/11/2020)

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