segunda-feira, 30 de novembro de 2020

TIC: Oi encolhe e abre espaço para avanço de teles regionais

 


Com 40% do mercado de banda larga, operadoras menores recorrem a fusões e aquisições e planejam a abertura de capital na Bolsa de Valores

Enquanto a Oi — maior concessionária de telecomunicações do país — começa a encolher com o início do seu processo de venda de ativos na semana passada, as companhias regionais do setor seguem caminho inverso. O desmembramento da operadora carioca como parte de seu processo de recuperação judicial abre espaço para concorrentes crescerem na disputa pelo lugar de “supertele”.

Para crescer e conquistar novos clientes, elas vêm recorrendo a fusões e aquisições e planejam a abertura de capital na Bolsa de Valores, enquanto atraem o interesse de fundos de investimentos.

Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), as cerca de 14 mil empresas regionais do setor (chamadas também de competitivas) já têm 40% de participação de mercado de banda larga e 14 milhões de clientes. De olho na futura rede 5G, a nova geração de telecom que promete uma revolução na velocidade de conexão, querem ainda acelerar as apostas em telefonia móvel e serviços digitais.

Apetite para aquisições

Neste ano, mesmo com a crise gerada pela pandemia do coronavírus, as companhias foram às compras. A Vero, do fundo de private equity Vinci Partners, começou o ano em 39 cidades e já está em 94, com a expansão de suas operações de Minas Gerais para o Sul, após a aquisição de duas empresas. A companhia pretende comprar outras nos próximos meses. Em 2021, planeja investir mais de R$ 200 milhões em aquisições e crescimento orgânico, patamar semelhante ao deste ano.

Fabiano Ferreira, presidente da Vero, conta que está em negociações com 30 empresas de internet no Brasil. Uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) já está nos planos da companhia, que tem mais de 335 mil clientes. O executivo antecipa que a empresa vai começar a oferecer serviços corporativos e ainda analisa uma participação no leilão de frequências 5G, previsto para 2021.

— Há janelas de oportunidades hoje no setor, com o processo de vendas da Oi e as grandes teles criando redes neutras. O dólar alto impacta os investimentos, gerando uma pressão por consolidação — diz Ferreira.

Apelidada de “supertele nacional” ao nascer da fusão de Telemar e Brasil Telecom, em 2008, com incentivos públicos, a Oi viu suas dificuldades financeiras se agravarem após unir-se à Portugal Telecom, em 2013.

Pediu recuperação judicial em 2016, com dívida de R$ 64 bilhões. O processo ainda não terminou. Em setembro deste ano, credores aprovaram uma nova versão do plano de recuperação que prevê a venda de uma série de ativos, inclusive sua unidade de telefonia móvel, redes de fibra óptica e sua TV por satélite.

Na última quinta-feira, a Oi levantou R$ 1,4 bilhão num primeiro leilão de torres e centros de dados. Foram comprados pela tele americana Highline e pela gestora Piemonte Holding, que têm comprado outros ativos no setor. Outros certames da Oi devem ser realizados até março de 2021.

‘Janelas de oportunidade’

Segundo fontes, os bancos Pátria e BTG também têm apetite para aquisições no setor. João Moura, presidente-executivo da Telcomp, associação das empresas competitivas, diz que o crescimento das pequenas se dá fora das capitais, em cidades menores, para onde estão levando fibra óptica:

— O enfraquecimento da Oi e a maior demanda por internet abrem janelas de oportunidade. As empresas do setor estão se juntando para ganhar mais força. Um exemplo foi a demanda alta em torno da Copel Telecom (privatizada pelo governo do Paraná no início do mês), que acabou sendo arrematada pelo fundo Bordeaux (ligada ao empresário Nelson Tanure, que atuou em TIM e Oi).

A EB Capital, que tem entre os sócios o ex-presidente da Petrobras Pedro Parente, tem na carteira R$ 2 bilhões para investir. O fundo, que já comprou empresas do setor no interior do Rio e no Nordeste que somam 50 mil quilômetros de fibra óptica, mantém negociação com uma dezena de empresas Brasil afora. Eduardo Sirotsky Melzer, um dos fundadores da EB, destaca que o setor se tornou ainda mais essencial com a pandemia:

— A Covid acelerou a digitalização, e há espaço para crescer para quem tem capital e capacidade de gestão. O mercado é grande e o Brasil tem uma baixa penetração de banda larga, inferior a 15% das casas. Concluímos a captação desse fundo em novembro e cerca de R$ 800 milhões foi feito com a XP de forma pulverizada com pessoas físicas. Esses recursos são para aquisições.

A Um Telecom, com 16 mil quilômetros de fibra no Nordeste, tem R$ 15 milhões para comprar empresas. A meta é adquirir algo em São Paulo em 2021. Rui Gomes, fundador da companhia, diz que a estratégia é investir em conectividade para máquinas (a chamada internet das coisas, IoT na sigla em inglês) e telefonia móvel, por meio de operação de operadora móvel virtual (MVNO):

—Vamos lançar ainda nossa operação de telefonia móvel com foco no mercado corporativo e em sua transformação digital. Queremos oferecer soluções conjuntas. Nesse segundo semestre, investimos R$ 10 milhões na construção de uma rede entre Ceará e Sergipe. Hoje, não quero passar o controle da companhia.

Futuro menos pulverizado

Já o Grupo Datora, que atua no mercado corporativo, avalia a abertura de capital na Bolsa. Os estudos saem em até 18 meses, diz o fundador Tomas Fuchs. A empresa, que teve alta de 15% no número de clientes neste ano, decidiu dobrar em 2021 a verba de investimentos de R$ 10 milhões deste ano.

— Nos últimos anos, as grandes teles não investiram em cidades menores, por isso vemos o avanço das companhias regionais — observa Fuchs.

Na Bahia, a Use Telecom, com 40 mil clientes em 30 cidades, é uma regional no alvo dos investidores. Já foi procurada por diversas companhias do setor e firmou contrato de confidencialidade com um banco paulista, que pretende comprar parte da empresa. André Costa, presidente da tele, não revela nomes, mas diz que o movimento de consolidação só tende a crescer:

— Não vamos ter uma pulverização tão grande como há hoje. Quando olhamos as grandes do setor, é nítido o crescimento das regionais com suas próprias redes.

A Use Telecom, que investe R$ 10 milhões neste ano, também aposta na telefonia móvel. Tem contrato para usar redes de Vivo e TIM.

— Estamos abrindo novas oportunidades em áreas como educação e monitoramento. Temos mais de 30 provedores locais que são nossos clientes e revendem nossos planos como forma de fidelizar seus clientes — conta Costa.

Fonte: O Globo (30/11/2020)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".