Empresas do setor de telecomunicações aguardam leilão das frequências para a quinta geração da telefonia, previsto para o primeiro semestre de 2021
Com ou sem a participação da chinesa Huawei, a futura rede 5G no Brasill já atrai gigantes globais de infraestrutura de telecomunicações e indústrias de diferentes setores. Há investimentos iniciais entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões até 2025 e que só devem sair do papel após o governo realizar o leilão da quinta geração da telefonia, previsto para o primeiro semestre de 2021.
Segundo fontes do setor, o governo brasileiro aguarda o resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos para ter uma definição de como tratar a participação da Huawei como fornecedora de infraestrutura do 5G, rede que vai permitir velocidade até 20 vezes maior que a do 4G.
A avaliação é que a disputa política entre EUA e China e o consequente boicote à Huawei devem se manter em qualquer cenário. Por isso, integrantes do setor aguardam a decisão do presidente Jair Bolsonaro para seguir com os trâmites do leilão.
Enquanto isso, rivais da Huawei ampliam seu poder de fogo, em especial os japoneses. O investimento esperado em 5G no Brasil é tido como um dos maiores do mundo, diz o consultor Hermano Pinto, diretor da consultoria Informa no Brasil.
Hoje, 129 países já têm rede da quinta geração, diz a 5G Americas. A previsão da GSMA, associação do setor, é que nos próximos cinco anos a rede consuma 60% dos recursos do segmento no Brasil.
— O 5G terá investimento em rede entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões somente nos próximos cinco anos. Há um potencial muito grande no país. É um mercado no qual todos os fabricantes querem estar presentes — diz Hermano.
A japonesa Fujitsu, que atua na área de software no Brasil, acaba de entrar no segmento de redes fornecendo equipamentos para pequenos provedores no país. Ela planeja aumentar sua participação na área de telecom no Brasil com o 5G, diz Alex Takaoka, diretor de Vendas da Fujitsu.
Um dos planos é desenvolver a “rede aberta”, que permitirá que todos os equipamentos conversem entre si, projeto em parceria com Qualcomm, Nokia, Nec, Telefônica e outras.
Para conferir visualmente onde a chinesa Huawei está presente e onde ela foi banida, clique nesse link.
— A sede definiu os EUA e o Brasil como mercados-chave para os projetos globais. Assim, passam a receber tecnologia diretamente do Japão. O Brasil é um mercado relevante e é importante participar dele — comenta Takaoka.
A japonesa Nec amplia suas apostas por aqui. Já desenvolve um laboratório de 5G no país e acaba de assinar acordo com a Embrapa para criar soluções para o setor agropecuário.
A companhia conta com o apoio do governo do Japão, que tem linhas de crédito para fomentar a expansão da tecnologia no mundo. A ambição, diz Ângelo Guerra, vice-presidente da companhia, é estimular o desenvolvimento da rede aberta de telecom.
‘Ficando por último’
Hoje, a multinacional espera a definição das regras do leilão para definir se produz equipamentos 5G no Brasil ou se importa do Japão.
— O Brasil é um dos pilares de crescimento da Nec para o mundo. O 5G é a oportunidade para a empresa voltar a ser um grande fornecedor móvel no país, como foi anos 1980. Nós nos colocamos como alternativa ao mercado em meio à essa discussão geopolítica — afirma Ângelo.
A americana Qualcomm, que já atua em processadores para celulares e soluções para carros e objetos conectados, acaba de lançar plataformas de infraestrutura 5G para serem usadas pelas operadoras. Um dos pilares é incentivar a rede aberta, na qual os equipamentos falam entre si. As primeiras iniciativas começaram no Japão, diz Hélio Oyama, diretor de Engenharia da Qualcomm:
— A ideia é que todos os equipamentos sejam padronizados para diferentes fornecedores, permitindo portfólio mais amplo, com mais oferta e menor preço. É necessário que o leilão ocorra logo. O país não pode ficar para trás.
Mario Laffitte, vice-presidente de Relações Institucionais da Samsung na América Latina, diz que a empresa assumiu posição de destaque na busca pelo desenvolvimento de produtos que sejam integrados à rede 5G:
— Em 2019, lançamos o primeiro smartphone 5G do mundo. Em 2020, o primeiro tablet 5G. Já são 20 dispositivos habilitados para a rede 5G, incluindo notebooks. No Brasil, iniciamos o projeto de expansão de smartphones compatíveis com a rede 5G.
A sueca Ericsson, uma das líderes ao lado da Huawei, corre para manter sua posição no mercado brasileiro. Com 65 redes em 33 países, a companhia europeia planeja investir R$ 1 bilhão até 2025 na ampliação de sua fábrica em São Paulo. Enquanto o leilão no Brasil não sai do papel, ela exporta os equipamentos de conexão para outros países.
Marcos Scheffer, vice-presidente para o Cone Sul da América Latina da empresa, diz que capacidade de produção não é problema, quando perguntando sobre impactos de eventual restrição à Huawei.
— O 5G está no centro de nossa estratégia. A expectativa é que só a quinta geração impulsione o PIB do país em 2,4% em dez anos devido ao aumento de produtividade — diz, lembrando que há no país 240 mil equipamentos 4G da empresa compatíveis com o 5G. — Quanto mais atrasar o leilão, mais vai demorar a busca por competitividade. O Brasil é um dos cinco principais mercados para a companhia.
A finlandesa Nokia — que assinou 102 contratos com operadoras em todo o mundo, com 36 redes já lançadas comercialmente — lembra que seus equipamentos 4G são habilitados para o 5G. Luiz Tonisi, head da companhia no país, afirma que a infraestrutura fará parte de uma rede aberta. A companhia está construindo uma plataforma de internet das coisas (IoT) no país para criar soluções.
— Estamos fazendo testes de 5G com operadoras. Temos capacidade para aumentar a produção e não vamos medir esforços para isso — conta Tonisi.
A Huawei, por outro lado, ressalta que os investimentos no Brasil são crescentes. Segundo Marcelo Motta, diretor de Cibersegurança e Soluções da Huawei, a concorrência é boa para o setor e para a empresa. O país tem 100 mil torres instaladas.
— Ou a tele compra a rede aberta e monta as peças ou compra o carro completo. Estamos abertos a mostrar nossa solução e padrão de segurança ao governo, caso seja pedido. Já estamos fazendo a produção e implementando o 5G em nossa fábrica de Sorocaba.
Igor Calvet, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), avalia que, quanto mais demorar o leilão, menos investimentos o país vai receber:
— Se for tecnologia chinesa ou sueca, não importa, a questão é que estamos ficando por último e isso é ruim. É preciso estar na dianteira. Um exemplo é o uso de redes privadas de 5G em fábricas, o que tende a elevar a produtividade.
Fonte: O Globo (04/11/2020)
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