Highline do Brasil e Piemonte ficarão, respectivamente, com os ativos torres e data center
Terminaram sem disputa, mas com uma arrecadação de R$ 1,4 bilhão, os dois primeiros leilões de ativos da Oi realizados na tarde de ontem, já como parte do plano de recuperação judicial alterado por credores em assembleia, em 8 de setembro. A carioca Piemonte Holding foi a única a apresentar proposta (R$ 325 milhões) pelo conjunto de cinco data centers da Oi. No leilão de torres de telefonia móvel, a vencedora foi a Highline do Brasil, que ofereceu R$ 1,067 bilhão.
A surpresa ficou por conta da gestora Pátria Investimentos que, mesmo habilitada a participar da disputa pelas torres, apresentou envelope fechado sem proposta. Segundo fonte ligada ao Pátria, a gestora quis olhar o data room e chegou a avaliar os ativos, mas decidiu não ir adiante com o processo.
Ao abrir o envelope apresentado pela gestora, o juiz Fernando Viana, da 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, demonstrou perplexidade com a ausência de uma proposta. Havia apenas um documento relacionado à habilitação. Viana chegou a perguntar se havia representantes do Pátria presentes, mas a gestora não tinha executivos ou advogados no local. Procurado, o Pátria optou por não comentar o assunto.
Por determinação da Justiça, em função das dificuldades ocasionadas pela pandemia, as audiências de abertura dos envelopes foram realizadas de forma virtual, com transmissão por aplicativo de videoconferência. Foi autorizada a presença na sala de audiências da 7ª Vara de representantes da Oi, do administrador judicial, do Ministério Público e dos proponentes.
Conforme apurou o Valor, os participantes do edital de alienação dos ativos deveriam, primeiramente, entrar com um processo de habilitação que compreende enviar uma notificação ao administrador da petição e ao Bank of America, que está assessorando a Oi no leilão da recuperação judicial, bem como protocolar uma petição no juízo da recuperação judicial, informando sobre a participação.
Em um segundo momento, o participante deveria entregar um envelope lacrado em cartório contendo sua proposta e junto ao envelope um endereço de e-mail de quem participaria da audiência para envio do link da transmissão.
A ata da audiência do leilão de torres, emitida pela 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, informa que “à exceção da ‘Proposta Vinculante’ feita, restou constatado, que o único outro habilitado tempestivamente nos termos do item 3.1 do Edital - Pátria Infraestrutura IV Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia - deixou de apresentar sua proposta fechada em cartório, na forma do item 3.4 do Edital, apresentando apenas em juízo no dia 27/10/2020, envelope ora aberto, apenas com documentação referente à sua habilitação.”
O Valor apurou que a expectativa da Oi é de que a maior parte dos recursos arrecadados nos leilões de torres de telefonia móvel e de data centers entre ainda este ano no caixa da operadora. No caso dos R$ 1,067 bilhões a serem desembolsados pela Highline, 90% do valor seria pago ainda em 2020. Já dos R$ 325 milhões ofertados pela Piemonte Holding, R$ 75 milhões seriam quitados a prazo.
Ao arrematar as torres da Oi por R$ 1,067 bilhão, a Highline do Brasil, pertencente ao grupo americano Digital Colony, garante presença em pontos estratégicos de redes móveis, nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, e prepara sua infraestrutura para a chegada das redes 5G. “Essas aquisições nos dão posicionamento para um bom começo do 5G”, diz Fernando Viotti, presidente-executivo da Highline, ao Valor.
Considerando a compra de 2.500 torres da Phoenix Tower do Brasil, anunciada esta semana, e as 637 torres externas e 222 antenas internas da Oi, a Highline completa um ano de sua aquisição pelo Digital Colony com uma estrutura que saltou de 300 torres, em dezembro do ano passado, para 4.100 no fim do ano.
Além do valor da aquisição das torres da Oi, que será pago à vista, a Highline entrará com um aporte extra na revitalização de 10% das unidades, que são mais antigas e datam de 20 anos. “Era um período em que cada operadora precisava de uma torre própria para garantir seu sinal naquela localidade”, explica Luis Minoru Shibata, diretor de estratégia e novos negócios da empresa. O negócio da Highline é justamente investir no compartilhamento das estruturas com diversas operadoras.
Viotti destaca que a meta é seguir em expansão tanto em grandes centros como no interior do país. A estratégia se dará por meio de fusões e aquisições e organicamente. “Temos algumas centenas de torres para construir para os nossos clientes, sendo mais da metade no interior do país, que é um propósito nosso”, diz o executivo.
O presidente-executivo da Highline também comentou que as metas desenhadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para o leilão do 5G, previsto para 2021, favorecem a criação de novas infraestruturas. “E aí estamos super bem posicionados com um time que aguenta construção de volume alto de torres”, conclui.
A Highline do Brasil também chegou a apresentar proposta - de valor não divulgado mas superior a R$ 15 bilhões - pelos ativos de telefonia móvel da Oi, cujo leilão judicial está marcado para 14 de dezembro. O favorito a adquirir a operação móvel da Oi é o trio de concorrentes formado por Claro, TIM Brasil e Telefônica, que fez oferta vinculante de R$ 16,53 bilhões.
Em conversas recentes com a imprensa especializada, Minoru Shibata, da Highline, chegou a admitir que a provedora de infraestrutura de telecomunicações está fora do páreo na disputa pelos ativos móveis da Oi. A ideia inicial da Highline era criar uma rede neutra a partir desses ativos de telefonia celular e, assim, prestar serviços para as demais operadoras.
Claro, TIM Brasil e Telefônica foram escolhidas pela Oi como “stalking horse” (ofertante preferencial) no leilão de ativos. Isso significa na prática que o valor da oferta vinculante apresentada pelo trio servirá de piso para o certame. Além disso, as três terão o direito de cobrir qualquer eventual oferta superior à delas feita no leilão. Se houver proposta maior que R$ 16,53 bilhões, as três companhias terão prazo de 48 horas para decidir se cobrem a oferta concorrente.
As UPIs de infraestrutura de fibra óptica e de TV por satélite não tiveram ainda seus “stalking horses” definidos. A expectativa da Oi é de que esses dois conjuntos de ativos sejam leiloados no primeiro trimestre de 2021. Se tudo correr conforme o programado, os leilões das cinco UPIs renderão pelo menos R$ 26,9 bilhões.
Fonte: Valor (27/11/2020)
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