segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Previdência Privada: Após período de mais resgates, fundos de previdência se preparam para os aportes do 13º

 


Crise econômica obrigou muitos a recorrerem aos recursos de seus planos de previdência e também reduziu aportes, mas momento volta a ser favorável ao investimento de longo prazo

O que você vai fazer com o décimo terceiro? Consumir, quitar dívidas ou investir? Essa indagação é recorrente nessa época do ano, assim como a possibilidade de dar um passo a mais na vida financeira e contratar um fundo de previdência privada para garantir um certo padrão de vida e conforto na aposentadoria.

Há alguns anos, com a aprovação da reforma da Previdência e mudanças na regulamentação de seus produtos, a indústria de fundos de previdência privada vem passando por uma intensa transformação. Em dez anos, de 2010 a 2020, o patrimônio líquido (PL) dos fundos de previdência aumentou 5,5 vezes, enquanto o PL de fundos como um todo, cresceu 3,6 vezes. Em dezembro de 2010, o patrimônio líquido dos fundos de previdência era de R$ 184,1 bilhões. Ao final de 2020, era de R$ 1 trilhão. Até outubro, estava em R$ 1,17 trilhão, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Este ano, no entanto, o segmento sofreu um revés. Até outubro, enquanto a indústria de fundos de investimento cresceu 11,8%, o patrimônio líquido dos fundos de previdência aumentou apenas 1,3%. Até outubro, a diferença entre aportes e resgates, ainda que positiva, está bem inferior ao mesmo período de 2020: R$ 6,7 bilhões este ano ante R$ 41,4 bilhões no mesmo período do ano passado.

De acordo com os especialistas ouvidos pelo Valor Investe, essa situação é circunstancial e, dando prosseguimento ao processo que vinha ocorrendo até o fim de 2020, o setor deve continuar crescendo e se sofisticando. Nesse sentido, a fórmula consiste em mais educação financeira, melhor abordagem pelos profissionais do mercado e uma maior oferta de produtos diversificados, com ênfase em fundos de renda variável, especialmente os multimercados.

Pandemia obrigou a mais resgates

É o que todos sabemos: a pandemia mudou o curso de tudo e de todos. E o que era para ser um investimento de longo prazo, se transformou em uma boia salva-vidas nas finanças das famílias.

Até o fim do ano passado, ainda que a crise de emprego já tivesse afetado vários segmentos sociais, os que mantiveram suas rendas, também seguiram com seus aportes nos planos de previdência contratados. Já os que tiveram perda de renda, utilizaram primeiro os recursos com mais liquidez e, na sequência, acionaram os resgates dos fundos de previdência, como observam Gabriel Escabin, chefe de Previdência do BTG Pactual e João Batista, diretor de produtos do Santander Seguros e Previdência.

Batista aponta que, nesse contexto econômico, ainda que a crise já estivesse acontecendo no ano passado, seus efeitos foram sentidos mais fortemente a partir do primeiro trimestre deste ano. Exauridos os recursos de investimentos mais líquidos, a saída encontrada pelas famílias foi, num primeiro momento, reduzir ou cancelar os aportes, para em seguida começar a resgatar os valores.

Outro aspecto levantando por ele, é o resgate realizado pelas famílias que perderam algum ente provedor. Segundo Batista, citando dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), de março de 2020 a setembro de 2021, R$ 160 bilhões foram pagos em seguros e previdência, seja ao trabalhador que perdeu sua renda, seja para a família que foi indenizada por morte. “O objetivo central do plano de previdência é proteger a renda da pessoa que se aposenta, mas é legítimo e relevante poder dispor desses recursos em uma determinada situação que ninguém esperava viver.”

Nova dinâmica

Há ainda uma transformação referente ao próprio funcionamento e dinâmica do segmento de previdência. Valter Police, planejador fiduciário da Fiduc, e Luigi Wis, especialista em investimentos da Genial, ressaltam que, até outro dia – e, em alguns casos, até hoje – o produto de previdência era “empurrado” para o cliente dentro de um pacote de produtos da instituição financeira que o profissional do mercado tinha que vender para atender à sua meta de negócios.

“Tivemos clientes que tinham todo patrimônio alocado em previdência, sendo que não era necessário”, conta Wis. “Tradicionalmente, a pessoa abre uma conta em banco e já é oferecido o plano de previdência no pacote. O investidor nem sabia que é vantajosa no longo prazo. Então, esse investidor acaba recorrendo ao resgate desses recursos para uma emergência de curto prazo.”

Esse processo “automático” era muito favorecido pela característica do segmento, baseado em produtos de renda fixa, sem maiores exigências de gestão e balanceamento de ativos em carteiras. Mas o cenário mudou com a autorização de produtos de previdência com maior exposição à renda variável.

“No final de 2019, por exemplo, aumentou-se o percentual permitido de exposição em variação cambial de 10% para 20%”, conta Escabin. “A mudança da regulamentação trouxe para o gestor a possibilidade de desenvolver novos produtos com exposição em ações, multimercado, crédito privado.”

Fatores e perfis

E no meio de tantas opções e estratégias, para onde vai o seu décimo terceiro – depois de quitar as dívidas, se for o caso?

É consenso entre todos os especialistas: os mesmos critérios que o investidor utiliza para preparar sua carteira de investimentos valem para determinar o fundo de previdência mais adequado. Definir seu perfil – conservador, moderado, arrojado -, seu objetivo de longo prazo (sempre de longo prazo) e o horizonte de realização desse objetivo.

Segundo Police, “bons investidores colocam seus recursos em uma boa carteira e não estão nem aí se a bolsa caiu ou se os juros subiram, porque sabem que, ao longo do tempo, ela vai ter melhor rentabilidade do que esses dois extremos”. Para ele, a melhor estratégia é entender essa dinâmica e buscar bons gestores.

“Por ter essa característica necessariamente de longo prazo, os fundos de previdência permitem que o investidor, respeitando seu perfil, tenha uma predileção por renda variável”, observa Wis, da Genial. “Você pode passar por um momento de instabilidade com muito mais tranquilidade porque sabe que seu horizonte é daqui a 10 anos, por exemplo”.

Os especialistas reforçam que os investidores precisam ter muito claro que fundos de previdência são exclusivamente focados em um horizonte de tempo a partir de dez anos. Não são reserva de emergência, que proporcionam liquidez em casos de imprevistos. A pandemia foi um evento extraordinário e, assim, deve permanecer.

Ainda com relação a alocações, Police reforça que, uma vez definida a estratégia para o longo prazo, não se deve tomar decisões de troca ou migração baseadas em fatos de curto prazo. “Se a previdência é para o longo prazo, então porque tomar decisão de que fundo escolher baseada na rentabilidade do último ano?”, questiona. A decisão de investimentos para um longo período no futuro, segundo ele, não pode ser feita baseada em “modas” do momento atual, tendo de migrar seus recursos de um tipo de ativo para outro em função da volatilidade do mês.

Police explica que, por exemplo, para um perfil moderado, ter uma carteira ótima não é alocar 100% do recursos em renda fixa, nem em renda variável. “É uma mistura dessas duas coisas, em proporções que cada fornecedor tem suas próprias métricas, com x% em renda fixa, x% em ações, x% em multimercado, x% em investimentos no exterior e assim por diante”, afirma.

“Esses percentuais que formam uma carteira de investimentos devem estar acima das movimentações de curto prazo. O gestor é quem balanceia a carteira: se cai ou sobe algum ativo, ele se reposiciona e o investidor fica com seu retorno balanceado.”

Fonte: Valor Investe (29/11/2021)

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