quinta-feira, 4 de novembro de 2021

TIC: Entenda o que é 5G e por que 15 empresas vão disputar o leilão

 


Começam as articulações para parcerias, consórcios e mercado secundário de espectro

A presença de dez operadoras de telecomunicações competitivas na apresentação de propostas para o leilão da quinta geração de serviços móveis (5G) foi uma novidade no setor. Essas empresas são menores que as grandes teles nacionais ou concessionárias - Vivo, TIM, Claro, Oi, Algar e Sercomtel -, com as quais concorrem em todo o país, na maioria dos casos no mercado de fibra óptica. A chave de acesso para o serviço móvel é o espectro de 5G. E o número de atores dessa geração tecnológica ainda poderá se multiplicar.  

Depois do leilão marcado para amanhã, começa outro movimento envolvendo parcerias, consórcios e o mercado secundário de espectro. As articulações estão em curso e darão possibilidade para que empresas que não participaram do certame possam ter acesso à nova tecnologia para oferecer aos clientes.  

No dia 27, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) recebeu 15 propostas para compra de lotes. Além de Vivo, TIM, Claro, Algar e Sercomtel, 10 operadoras competitivas entregaram seus envelopes. Amanhã começa a primeira fase de abertura, análise e julgamento das propostas, que poderá prosseguir até a sexta-feira.    


Quem ficou de fora do processo licitatório poderá negociar uma parceria com os vencedores para prestar o serviço de 5G. Duas empresas que fizeram ofertas por lotes de radiofrequência diferentes, se tiverem lances vencedores no certame planejam formar um consórcio com vários provedores para ampliar os negócios e a oferta do serviço, conforme apurou o Valor.  

Outra oportunidade será comprar espectro no mercado secundário. A regulamentação para isso já existe e uma proposta de revisão está no gabinete do conselheiro Vicente de Aquino desde 28 de junho. Segundo o presidente da Anatel, Leonardo Euler de Morais, o conselheiro tem prazo de 120 dias para análise do texto. Depois de aprovado, seguirá para consulta pública.  
O Valor apurou que consta na proposta que a transferência de autorização de uso de radiofrequências entre prestadores de serviços de telecomunicações dependerá de prévia autorização da Anatel. A transferência poderá ser integral ou parcial, seja em região geográfica ou faixa de radiofrequências.

  
Com presença nacional ou regionais, as redes somadas das operadoras competitivas e dos provedores de acesso à internet representam 62,9% do mercado de fibra óptica no país. O restante é dividido por Vivo (19,5%), Oi (15%) e Claro (2,6%).  

Parte das empresas competitivas já vem deixando suas pegadas também no mercado de celular, geralmente por meio de licença de operadora móvel de rede virtual (MVNO, na sigla em inglês). Nesse caso, usam a rede de outra operadora para atender aos seus clientes. Com 5G, passarão a ter uma infraestrutura própria.   

Uma das competidoras é a Brasil Digital Telecomunicações, que entregou proposta para um lote de 3,5 gigahertz (3,5 GHz) para a região Centro-Oeste do país. A empresa, que opera sob a marca BR.Digital Telecom, quer levar a nova tecnologia para o agronegócio e a aplicações de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês).  

O CEO da BR.Digital, José Paulo Linné, disse que já possui uma grande operação na área do agronegócio. Agora, se sair do leilão com a outorga de 5G, ficará mais próximo de realizar o plano de ter 1 milhão de clientes no segmento.  

Com sede em Porto Alegre (RS), mas tendo suas principais bases de operação em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília, a BR.Digital, criada em 1995, tem atuação nacional e uma rede de fibra com 58 mil quilômetros que se conecta com as redes de outras empresas da Bolívia, do Paraguai, da Argentina e do Uruguai.  

Segundo Linné, a receita da BR.Digital deve crescer 14,75% este ano, em comparação a 2020, para R$ 450 milhões. A companhia tem três unidades de negócios - BR.Digital Wholesale (atua no atacado); BR.Digital Corporate (mercado empresarial); e BR.Digital Provider (segmento de provedores regionais de acesso à internet). Sua carteira de clientes lista 72 operadoras, todas as empresas “over-the-top” (OTTs) - como são conhecidas as donas de plataformas de vídeo -, 10 mil clientes corporativos, mais de 600 provedores de internet e cerca de 200 mil usuários residenciais e pequenas e médias empresas.  

A Unifique Telecomunicações e a Copel Telecom, registradas no leilão como Consórcio 5G Sul, somaram forças para levar o lote regional C6 Sul, na faixa de radiofrequência de 3,5 GHz para os três Estados do Sul. Essa região concentra quase 7 milhões de usuários de acesso à internet.   

O diretor-presidente da Copel Telecom, Wendell de Oliveira, disse que a companhia vinha trabalhando há muito tempo no projeto de 5G. “Será uma tecnologia transformacional, principalmente no que se refere a negócios entre empresas (B2B, na sigla em inglês). “Temos vocação importante em B2B, que representa metade do nosso faturamento.”  

Provedora de banda larga por meio de fibra óptica, a operação da Copel é dominante no Paraná, segundo Oliveira. A empresa é controlada pelo fundo Bordeaux, do empresário Nelson Tanure, que também tem o controle da Sercomtel, de Londrina (PR). Oliveira afirmou que as operações da Copel e Sercomtel são independentes, mas que em algum momento tentarão explorar as sinergias possíveis.  

O presidente da Copel disse que está otimista em ter sua oferta vencedora no leilão. O investimento previsto para o lote é pouco acima de R$ 1 bilhão e o preço mínimo é próximo de R$ 5 milhões.  

A rede da Copel, com mais de 30 mil quilômetros de fibras, se estende por 399 municípios do Paraná, chegando próxima à da Unifique. “O vencedor tem de levar fibra para todas as localidades. Eu já tenho fibra no Paraná e consigo focar em soluções e em levar serviços para a indústria”, disse Oliveira. Seu plano é entrar no ‘cinturão de agronegócios’ (SP, PR, MT, MS e GO) via expansão operacional e aquisições.  

Com uma rede de 23 mil quilômetros de fibras, a Unifique atende Santa Catarina, onde sua presença é mais forte, Rio Grande do Sul e tem uma pequena parte da infraestrutura no Paraná, junto à fronteira, disse Jair Francisco, diretor de mercado da Unifique. Pelo acordo com a Copel, a Unifique usará a frequência de 5G em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.  

O executivo afirmou que a Unifique tanto pode usar a rede de fibra para complementar a operação de 5G, quanto operar como rede neutra e atender outras operadoras. “Nossa rede pode entregar [serviços] para qualquer vencedor [do leilão]”, acrescentou.   

A Unifique registrou mais de 420 mil usuários até o segundo trimestre. Francisco diz que parte da infraestrutura já está instalada em sua área de atuação, se vencer a licitação precisará de antenas e executar o plano de negócios. A Unifique registrou receita líquida R$ 195,2 milhões de janeiro a julho de 2021. Nos últimos 12 meses, a receita foi de R$ 350 milhões.  

A Brisanet disputa o lote regional de 3,5 GHz no Nordeste. Com atuação em sete Estados (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Piauí e Sergipe), a empresa tem mais de 790 mil clientes. Sua rede de fibra passa em rente a mais de 3,7 milhões de domicílios de 110 cidades.  

Em junho, a Brisanet fez uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), levantando R$ 1,43 bilhão, e em julho estreou na B3. Em agosto, divulgou lucro líquido de R$ 14,5 milhões no segundo trimestre, uma alta de 22% na comparação anual. A receita líquida subiu 66,3%, para R$ 170,2 milhões. No fechamento de 2020, a receita foi de R$ 471,8 milhões.  

Com mais de 16 mil quilômetros de rede de fibra interligando todos os Estados do Nordeste, a Um Telecom desistiu de participar do leilão por considerar os preços inviáveis. A operadora com sede no Recife participou de um consórcio com sete empresas, que contratou uma consultoria para estudar a participação no leilão. “As empresas eram maiores do que a gente. Mas a conta não fechava e o consórcio desanimou. O preço fez o sonho acabar”, disse Rui Gomes, CEO da Um Telecom, cujo interesse era no lote de 26 GHz.  

O preço mínimo do lote de 26 GHz no Nordeste é de R$ 70 milhões. Do total, R$ 7 milhões são referentes ao valor financeiro da Anatel e R$ 63 milhões são as obrigações para conectar as escolas. O problema é que essas obrigações têm de ser executadas em dois anos e meio, disse Daniel Gomes, vice-presidente e diretor de operações da Um Telecom.   

“Não quer dizer que desistimos completamente de 5G”, disse Gomes. Com a revisão que a Anatel vai fazer do espectro de uso secundário é possível que a Um Telecom futuramente entre no mercado de 5G. Outra possibilidade é usar sua rede de fibra para conectar as torres dos vencedores do leilão.  

A Um Telecom está de olho também no serviço limitado privado, já regulamentado, mas dependendo de consulta pública para ajustes. Nesse caso, a licença do espectro não é detida pela operadora, e sim pelo cliente, como usinas, portos, aeroportos, enfim, negócios situados em locais onde o serviço móvel não está disponível. É uma operadora que conecta os sistemas na propriedade desse cliente.

Fonte: Valor (03/11/2021)

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