terça-feira, 30 de novembro de 2021

Previdencia Privada: Mercado de previdência diversificou carteira e percebe migração da renda fixa para multimercados

 


Aumento da possibilidade de maior exposição a ativos de renda variável impulsionou gestores a sofisticar seus produtos e atender à demanda dos novos entrantes

O desempenho obtido pelo mercado de ações nos últimos anos que antecederam o período de pandemia alimentou as expectativas dos investidores quanto a maiores rentabilidades, ainda que a tomada de risco fosse maior. O movimento foi impulsionado pela queda das taxas de juros, tornando a tradicional renda fixa menos atraente.

Esse maior interesse por investimentos em renda variável também chegou à previdência privada, com a evolução da educação financeira e o cenário macroeconômico. “Juntou a fome e a vontade de comer”, brinca Gabriel Escabin, chefe de Previdência do BTG Pactual. “A pessoa comprava um produto de previdência e nem sabia se a carteira estava em renda fixa ou renda variável.”

“Atualmente, já há mais informação, sendo que o produto previdência precisa conversar com os demais produtos da carteira do investidor”, observa Escabin. Ele cita ainda o advento da portabilidade como um instrumento que aumentou não só a concorrência entre gestores, como a necessidade de oferecer melhores produtos.

Segundo o chefe de previdência do BTG, quem está entrando no mercado agora, já tem procurado por produtos com exposição mais diversificada. Outro fator apontado nesse comportamento é a idade dos novos investidores. “Aumentou a preocupação dos jovens e a maioria deles sabe o que é uma poupança, uma conta bancária e uma previdência.”

Vinicius Langoni, sócio responsável pelo relacionamento com investidor da AZ Quest, destaca ainda que a nova regulamentação permitiu alocar até 70% em ações e, se for investidor qualificado, até 100%. “Os gestores passaram a ver o grande potencial de crescimento estratégico, porque a previdência era uma indústria basicamente focada em renda fixa indexada”, afirma.

Langoni aponta o movimento de migração nos últimos dois anos que está ocorrendo entre tipos de ativos alocados nos fundos de previdência, como um forte sinal de mudança de estratégia.

Os fundos de renda fixa, em outubro de 2020, correspondiam a 85,6% do patrimônio líquido dos fundos de previdência; fundos de ações, a 2,8%; e multimercado, a 11,3%. Já em outubro deste ano, a proporção mudou significativamente, ainda que renda fixa mantenha a liderança, recuou para 78,1%; ações aumentou para 3,8%; e multimercado, para 17,8%.

De janeiro a outubro do ano passado, os fundos de previdência de renda fixa registraram mais resgates do que captações em R$ 77,1 bilhões, enquanto os fundos de ações tiveram mais aportes em R$ 22,3 bilhões, assim como os multimercados com entradas líquidas de R$ 98,3 bilhões.

No mesmo período deste ano, esse movimento se mantém, confirmando a tendência: os fundos de previdência de renda fixa tiveram mais resgates que aplicações de R$ 62,8 bilhões. Já fundos de ações e multimercados registram mais aportes do que saques, de R$ 11,5 bilhões e R$ 58 bilhões respectivamente.

Luigi Wis, especialista em investimentos da Genial afirma que, para um perfil arrojado de longo prazo, fundos de previdência em ações são uma alternativa interessante. “Não é 100% garantido que um fundo 100% ações tenha uma rentabilidade maior que um 100% renda fixa, mas é o esperado”, diz. “Quanto maior a janela de tempo de uma aplicação em ações, maior a probabilidade de se ter um rendimento positivo.”

Para Valter Police, planejador fiduciário da Fiduc, essa diversificação deve ser observada com cautela. “O mercado atende à demanda, e a demanda infelizmente tem um erro de lógica e a indústria incentiva que esse erro aconteça”, afirma. “Os juros atualmente estão mais altos. Deveria tirar da renda variável e colocar na renda fixa? Não. Na vida, o curto prazo é mais previsível que o longo prazo. Para investimentos, é o contrário”, reforça.

“Nas decisões de curto prazo, o erro de lógica se concretiza: a pessoa vende barato e compra caro. Esse fenômeno faz com que a média do retorno dos investidores seja muito menor do que a média do retorno dos investimentos.”

Fonte: Valor Investe (29/11/2021)

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