sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Aposentadoria: A aposentadoria se tornou obsoleta? A opinião dos workaholics e dos anti trabalho tóxico

 


O trabalho nunca foi ruim, o que nos incomoda é o seu entorno. Mas o mundo novo oferece novas possibilidades

Pela primeira vez na história passamos a questionar se queremos ter um dia o status de aposentado. Nosso papo hoje não é sobre longevidade, nem sobre o envelhecimento da população, embora todas essas mudanças estejam conectadas.

Nossa sociedade é polarizada e a nossa relação com o trabalho também é. Basta olhar para o lado e ver as duas turmas, a dos workaholics, promovendo a ideia de que você deve trabalhar incansavelmente, sacrificando tudo, desde o sono até a vida social, no interesse de crescer no seu cargo e atingir seus objetivos, e a dos que condenam uma cultura de trabalho tóxica por que drenam nossas energias e tiram tempo de nossas famílias, hobbies, descanso e bem-estar geral, enquanto dão pouco em troca de nosso sacrifício.

Para muitos, o trabalho é um lugar tóxico. Necessário para suas conquistas financeiras, mas prejudicial para a sua saúde emocional. Críticas constantes, nenhum elogio, competitividade em vez de camaradagem entre colegas de trabalho e liderança incompetente são as reclamações mais comuns.

Dentre vários estudos já publicados, alguns chegam a trazer que até 85% dos trabalhadores não gostam de seus empregos. Quando isso acontece, a pessoa passa a ver a aposentadoria como uma grande fuga. Mira nesse objetivo e passa os anos esperando por esse momento. Mas quando exploramos as razões pelas quais as pessoas odeiam seus empregos, chegamos a uma conclusão totalmente diferente. Não é o trabalho que os incomoda, mas sim a natureza do seu entorno.

Até a década passada ainda não havia outra possibilidade de mudar esse cenário, as alternativas não estavam tão claras como conseguimos ver agora, novas opções de exercer nossas funções conhecidas mas em um contexto que elimina toda a parte tóxica.

2020 foi um dos anos mais desafiadores dos últimos tempos, mas pouco se sabe sobre os impactos de longo prazo na rotina e no comportamento das pessoas. Milhões estão reavaliando aspectos cruciais de suas vidas, incluindo sua aposentadoria.

Junte-se a isso a digitalização do trabalho. Existe a realidade de que estamos vivendo números recordes de desemprego ao mesmo tempo que vemos a explosão de novos negócios. O que nos leva a questionar se as pessoas estão de fato desempregadas ou se não estão empregáveis. As empresas precisam se tornar cada vez mais digitais para se manterem competitivas no mercado, e por sua vez os funcionários precisam estar preparados para essa mudança, pois as novas demandas exigirão habilidades digitais.

Hoje, estamos presenciando essa transformação no formato de trabalho, a cada dia o cenário de atividades remotas e trabalhos on-line se amplia, incluindo mais pessoas, mas principalmente prolongando sua perspectiva de tempo de contribuição para o mercado, uma vez que o desgaste físico é muito menor e a autonomia para executar os novos trabalhos passa a permitir e impulsionar a mudança.

Recentemente, um colega de 55 anos deixou seu cargo no mundo corporativo onde executava a função de contador, passou 15 anos dirigindo uma hora e meia, por 30km cruzando a cidade para exercer sua função, hoje ele trabalha remotamente conectado a uma dessas diversas plataformas de contabilidade on-line, trabalha de casa e, eventualmente, da praia e dedica meio período do seu tempo a essa atividade. Quando perguntei sobre a mudança feita em sua carreira, a resposta que veio foi: "Posso fazer isso por toda a minha vida".

A possibilidade de se reinventar em algo que já tem experiência, com baixos níveis de estresse e que permita um estilo de vida mais saudável, irá nos permitir no futuro escolhas como o "never retirement" ou nunca parar de trabalhar.

Muito além da digitalização dos serviços do escritório, o mundo está se transformando em "as a service". Plataformas para conectar profissionais de marketing a jobs, serviços de contabilidade, professores de diversos temas, motoristas, analistas, consultores, pesquisadores e segue por aí uma infinidade de profissões. Um modelo de trabalho que permite ao profissional exercer o que sabe fazer com excelência e que, ao invés de entregar valor apenas para um empregador, estará disponível para atender vários empregadores.

Cerca de 61% dos mais velhos da geração do milênio, nascidos entre 1981 e 1988, dizem que planejam trabalhar em um segundo emprego ou conseguir um trabalho de meio período durante a aposentadoria, de acordo com uma pesquisa recente conduzida por The Harris Poll

Mas, como eu disse no começo, muitas indústrias estão conectadas e se a perspectiva da população é continuar trabalhando, então também precisamos nos tornar eternos aprendizes. Nesse momento vivemos ativamente uma cultura de inovação com transformações tecnológicas que avançam mais rápido do que nós conseguimos nos adaptar a ela.

E com esse cenário em vista a necessidade de estudar será uma jornada sem fim. Uma nova consciência das pessoas quanto ao aprendizado.

Fonte: Época Negócios (14/09/2021)

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