Para 98% das fundações, governança é o critério ESG mais adotado
Mais da metade dos fundos de pensão utilizam os critérios ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) em suas decisões de investimento, em especial para ações, crédito privado e private equity. No entanto, para a maioria, a frequência com que isso ocorre é ocasional, de acordo com um levantamento realizado pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). Para realizar o estudo, a autarquia ouviu 93 entidades de previdência fechada, responsáveis pela gestão de mais de R$ 700 bilhões e que representam cerca de 70% dos recursos da indústria.
Segundo a pesquisa, em 56% das fundações os fatores ESG são levados em conta nas decisões de investimentos. Se analisadas apenas as entidades sistematicamente importantes (ESI), o número sobe para 85%. Este grupo é formado por 17 fundos de pensão e 13 deles participaram da pesquisa. A participação no levantamento de todas as entidades foi voluntária.
“Minha leitura é que as entidades estão no caminho certo. Uma evolução do tema vai depender muito da composição das carteiras de investimento, por exemplo. Cerca de 60% dos recursos da indústria estão alocados em títulos públicos e 40% nos demais ativos”, disse ao Valor o diretor superintendente da Previc, Lucio Capelletto. Para os títulos do Tesouro Nacional, por exemplo, a avaliação não faz sentido, aponta. Há fundações maduras em que este tipo de aplicação predomina.
O chefe da Previc lembra que uma consciência maior sobre o assunto é importante para maximizar os retornos, como já comprovam estudos sobre o assunto. Além do ponto de vista econômico, há uma questão cultural que precisa ser trabalhada em cada entidade. O levantamento mostrou que ainda há pouca demanda pela agenda ESG por parte dos participantes e assistidos e também dos patrocinadores.
O setor foi alvo de problemas de gestão no passado e não é coincidência que a governança é o princípio mais utilizado (98%) pelas fundações aderentes ao ESG.
Os demais critérios, ambiental e social, foram citados por 85% delas.
Um pouco mais da metade dos participantes do grupo que utiliza o ESG (54%) informou que os critérios são considerados “ocasionalmente, a depender do ativo em análise”, enquanto 40% disseram utilizar “sistematicamente” em todas as análises. O tema é mais aderente nas entidades que fazem a gestão própria, e, em geral, isso acontece entre as fundações de maior porte. Mas o grupo que terceiriza a gestão dos investimentos também pode visar o ESG por meio da seleção de gestores, mesmo que isso não esteja explícito nos mandatos. Ou ainda, mesmo que a fundação não se atente ao tema, os critérios já podem fazer parte da análise de risco dos próprios gestores.
Segundo a Previc, a ampliação do uso de aspectos ESG depende da padronização e melhora da qualidade das informações prestadas pelas empresas, um tema que está sendo analisado por reguladores. A Comissão de Valores mobiliários (CVM), por exemplo, quer mudar as regras para obter mais detalhes sobre o tema nos formulários de referência das empresas.
Entre as entidades que já consideram essa agenda, a Previc procurou entender quais seriam os limites do uso de informações não financeiras referentes aos critérios ESG. Para 71%, as informações quantitativas disponíveis no mercado são insuficientes. Neste caso poderia ser respondida mais de uma alternativa. Assim, 83% também apontaram que há dificuldades em comparar informações das empresas e 58% citaram baixa qualidade dos dados. A superintendência também aponta que iniciativas para fomentar a padronização das informações divulgadas e utilização de taxonomia padrão são vistas como possíveis soluções.
Fonte: Valor (03/09/2021)
Nota da Redação: Se esses dados fornecidos pelas EFPCs fossem auditados por um órgão de fiscalização, certa e infelizmente, seriam muito menores.
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