sábado, 4 de setembro de 2021

Segurança do Usuário: Caso tenha arquivos na nuvem (Dropbox, por ex.), cuidado porque podem ser bloqueados e não recuperados



Especialista recomenda contratar empresas de armazenamento com sede no Brasil, que são obrigadas a cumprir as leis nacionais

Segurança, menos espaço ocupado na memória do celular e no HD do computador, garantindo mais agilidade nas tarefas cotidianas realizadas pelos gadgets. Essas são as razões que levaram o engenheiro eletrônico Eduardo Ladeira a pagar, nos últimos dez anos, para armazenar seus arquivos na nuvem. Ou seja, em um sistema fora dos seus equipamentos gerido por uma empresa especializada.

Em uma década, Ladeira guardou nada menos do que 190 mil arquivos, sendo 120 mil fotos. Desde o dia 15 de julho, no entanto, todo esse material está fora do seu alcance, sua conta foi desabilitada. E ele não consegue saber o que aconteceu e nem se terá como recuperar seus arquivos.

— O Dropbox era meu backup. Há algum tempo meus equipamentos estão sincronizados, tudo que chega vai direto para a nuvem. Dos 190 mil arquivos, 170 mil só tenho na nuvem. A única informação que me dão é que violei os termos de uso, mas nem o que eu fiz consigo saber, nas redes sociais vi relatos como o meu de usuários de vários países — conta.

O designer gráfico paulista Fernando Mello foi um dos usuários que Ladeira encontrou nas redes. Há três meses ele recebeu a mesma mensagem enviada ao carioca, que sua conta estava desabilitada.

Desde então, assim como Ladeira, tenta contato com o Dropbox para saber qual regra teria descumprido e como recuperar seus arquivos.

— Ainda vejo a lista dos meus arquivos, mas é como se estivessem travados na nuvem. Continuo recebendo a cobrança no meu cartão de crédito, mas agora enviam propaganda como se estivesse com uma conta nova. Já abri vários chamados no suporte, alguns foram ignorados. As respostas parecem feitas por robôs — queixa-se Mello, que tinha conta no Dropbox há 8 anos.

Reposta automática

Além do suporte, Ladeira passou a enviar mensagens a executivos da empresa pelas redes sociais. Até agora, no entanto, não conseguiu resolver. O próximo passo, diz, será o lançamento na próxima semana de um site para reunir reclamações de usuários do Dropbox de dentro e fora do país:

— Ainda tenho esperança de recuperar meus arquivos, todas as fotos da minha filha estão lá. Vi um estrangeiro que conseguiu após 10 meses.

A Dropbox respondeu as mensagens enviadas pela reportagem com textos automáticos com um link sobre o correto uso da sua logomarca e orientações para o consumidor.

Entre as recomendações, no entanto, não havia menção de como saber o motivo da desabilitação da conta, nem como recuperar arquivos caso isso aconteça.

Especialista em direito digital, Gustavo Quevedez, sócio da BVA Advogados , diz que os usuários da plataforma precisam ser informados sobre a regra que teriam desrespeitado e tem que ser dado a eles o direito de contestar:

— Mesmo que tenham descumprido algum item do termo de uso, me parece uma pena excessiva a perda de todos os arquivos. Em regra, eles deveriam ter sido notificados antes da conta ser desabilitada.

Quevedez diz ainda que caso a empresa não tenha representante no Brasil será mais difícil recorrer judicialmente caso seja necessário:

— Recomendo sempre que contratem empresas que tenham representação no país, pois isso as obriga a cumprir a lei brasileira.

Pastas deletadas

A designer carioca Alexandra Karmirian decidiu manter um backup em um HD externo, desde que parte dos arquivos compartilhados via nuvem numa empresa para qual presta serviço foi deletada com a saída de um funcionário.

— Com a pandemia e o trabalho on-line, cada vez mais compartilhamos arquivos pelo Google Drive. Uma pessoa da equipe saiu da empresa e o e-mail dela foi deletado antes que os arquivos fossem guardados ou transferidos. Conclusão várias pastas foram deletadas e não sabemos se poderão ser recuperadas.

O Google explica que as ações disponíveis nos drives compartilhados dependem do nível de acesso, do tipo de assinatura e dos privilégios de administrador.

O cargo mais alto na hierarquia de um drive compartilhado pode realizar funções exclusivas, como deletar automaticamente arquivos no lixo, restaurar arquivos e pastas do lixo (até 30 dias, antes que sejam deletados permanentemente), adicionar pessoas e criar outros drives compartilhados na organização.

Recuperação de arquivos

Caso uma conta seja desativada, explica a empresa, é possível reativá-la para recuperar arquivos do Drive até 20 dias após a exclusão. Uma vez que a conta for restabelecida, é necessário transferir a propriedade de pastas e arquivos para outro usuário para que eles permaneçam disponíveis.

Arquivos criados em drives compartilhados, ressalta o Google, estão protegidos caso alguém deixe a organização e tenha a conta desativada, os arquivos pertencem à equipe e não a um indivíduo.

Victor Rizzo diretor de inovação da e-Xyon, diz que mesmo quem opta por armazenamento na nuvem, não deve manter todos esses arquivos em uma única plataforma:

— Deve-se ter ao menos um backup principal e um de contingência.Se optar por manter tudo na nuvem, tenha duas plataformas. A tecnologia sempre pode falhar. Assim como você não guardaria seu dinheiro no banco da praça é preciso se informar antes de escolher onde guardar seus arquivos.

E se houver vazamento?

Na última semana, a Microsoft alertou a milhares de clientes que usam seu serviço de nuvem, que o sistema ficou vulnerável à ação de invasores, que teriam capacidade de ler, mudar e até apagar suas principais bases de dados. A empresa diz já ter resolvido o problema e afirma estar comunicando a cada um dos usuários afetados. A Microsoft afirma , no entanto, ter conhecimento de “dado do cliente que esteja sendo acessado”.

Em caso de vazamento, Quevedez,da BVA Advogados, diz que a primeira providência a ser adotada pelo usuário é alterar suas senhas vinculadas à conta.

— Em seguida, deve-se procurar a empresa para buscar informação formal sobre o vazamento, como determina a LGPD, para avaliação mais ampla sobre os dados vazados. Outra recomendação é fazer um Boletim de Ocorrência, ação que permitirá que ele se resguarde perante terceiros, casos seus dados pessoais sejam utilizados para fins ilícitos.

Fonte: O Globo (29/08/2021)

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