Ativação deve ocorrer na quinta-feira com mais antenas que o previsto para 2023
O avanço na liberação da rede de quinta geração de telefonia móvel (5G) na cidade de São Paulo deve permitir o lançamento da versão mais sofisticada da nova tecnologia - o 5G “puro” - já na quinta-feira. A informação foi levada ao comando da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no último sábado pela EAF, entidade criada após o leilão da nova tecnologia para administrar a desocupação da frequência que será utilizada pelo 5G.
A Entidade Administradora da Faixa (EAF) é constituída por representantes das teles, dos radiodifusores e operadores de satélite. Inicialmente, a definição da data de início de funcionamento do 5G em São Paulo seria discutida em 10 de agosto. No entanto, agora a decisão deve ser confirmada hoje, em reunião extraordinária do Grupo de Acompanhamento da faixa de 3,5 gigahertz (GHz), o chamado Gaispi. O colegiado é liderado pela Anatel.
“A EAF adiantou os trabalhos em São Paulo. Na sexta-feira, fui informado que estavam praticamente prontas as instalações dos filtros”, disse ao Valor o diretor da Anatel Moisés Moreira, referindo-se à instalação de equipamentos para inibir interferências do serviço 5G, que vai operar na faixa de 3,5 GHz, em serviços de satélite e TV aberta que operam na mesma faixa de frequência. Ele preside o Gaispi.
“No sábado fizeram testes até de madrugada. Domingo, me reuni com a minha equipe e com os coordenadores e verifiquei que haveria possibilidade de ligar. Não valeria a pena ficar segurando São Paulo, a maior cidade da América Latina até dia 10, quando ocorrerá a reunião ordinária [do Gaispi]. Eu resolvi, então, que justificaria marcar uma extraordinária para amanhã [hoje] às 9h, convocando para já liberar o sinal na quinta-feira”, afirmou Moreira. Segundo ele, a decisão surpreendeu até as teles.
A exigência mínima para São Paulo é a instalação de 462 antenas pelas três operadoras (TIM, Claro e Vivo, que pertence à Telefônica) até o fim de setembro. Mas no último fim de semana, 892 estações já estavam prontas para ser ligadas.
O número tem aumentado desde então. Na tarde de ontem, havia a previsão de pôr em funcionamento o total de 1,2 mil na capital paulista. No fim do dia, o número de pedidos havia subido para 1,8 mil e devem ser confirmadas pelo menos 1,3 mil. Detalhe: o montante já contempla a meta de julho de 2023, que exige a instalação de mais 924 antenas (proporção de uma estação 5G para cada grupo de 50 mil habitantes da cidade).
“Os novos pedidos de licenciamento ainda estão sendo processados. O número de estações pode chegar a 25% da base atual”, disse o diretor da Anatel e presidente do Gaispi.
Atualmente, a cidade de São Paulo conta 4.592 antenas ativas das gerações anteriores (2G, 3G e 4G). Moreira ressaltou que a rede de 3,5 GHz tem um alcance menor e, por isso, a cobertura do novo serviço não atingirá a proporção de 25% sobre as atuais tecnologias.
Nas demais capitais, o sinal de 5G SA - o chamado “standalone” ou 5G puro - é oferecido por apenas 15% da estrutura existente. Está operando onde há mais concentração de pessoas. A nova rede foi lançada no dia 6 de julho em Brasília e, desde sexta-feira, passou a funcionar em João Pessoa, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Além de uma conexão de internet mais veloz, a expectativa é que a implementação da nova tecnologia possa elevar a produtividade de indústrias e do setor de serviços. Espera-se que o 5G potencialize o uso de recursos de realidade aumentada, inteligência artificial e a intensificação no uso da internet das coisas.
No entanto, conforme publicado pelo Valor, o comando da Anatel tem alertado que menos de 5% dos celulares estão preparados para o 5G “puro”. O custo do aparelho é outro entrave: modelos básicos custam cerca de R$ 2 mil e os mais sofisticados superam R$ 5 mil.
Além disso, não existe consenso entre as operadoras de telefonia sobre a necessidade de troca do chip para usufruir de todo o potencial do 5G SA. Nenhuma delas está fazendo ainda a substituição do chamado SIN card.
Para o presidente executivo da Conexis Brasil Digital, que representa as grandes operadoras, Marcos Ferrari, o setor está preparado para “liberar o 5G em qualquer capital no dia seguinte à liberação pelo Gaisp”. “Quanto mais rápido o cronograma avançar, melhor”, disse ao Valor.
Alberto Boaventura, gerente sênior da indústria de telecomunicações, mídia e tecnologia da Deloitte, diz que a chegada do 5G a São Paulo é uma forma das teles garantirem retorno de receita sobre investimentos já feitos na nova geração das redes móveis.
A instalação de um novo ponto de propagação do sinal de 5G pode ir de R$ 600 mil a R$ 1 milhão, incluindo desde antenas, central de transmissão do sinal até torre de transmissão.
“São Paulo tem a melhor relação de assinantes de alto valor, na comparação com os demais Estados e a prestação de serviços móveis de melhor qualidade é uma forma de manter esses assinantes”, afirma Boaventura
“Em um mercado de importância, a cobertura das operadoras vai além da obrigação da Anatel, de uma antena para cada 100 mil habitantes”, complementa o especialista da Deloitte.
Boaventura nota, entretanto, que o salto do 5G não se atém ao mercado consumidor. “A tecnologia traz a reboque um conjunto de aplicações de baixa latência que é bastante importante para as indústrias”.
Ferrari, da Conexis, afirma que o cronograma de estreia do 5G em outras capitais depende da realidade de cada uma.
A limpeza da faixa de 3,5 GHz, também usada para transmissão do sinal analógico de TV aberta via satélite, captado por antenas parabólicas antigas, é necessária para a transmissão do 5G, afirma Euclides Lourenço Chuma, membro sênior do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele lembra que o Gaisp vai se reunir no dia 10 para verificar os relatórios de interferência do sinal.
“A alta densidade de acessos em pontos comerciais na capital paulista pode gerar interferências de tecnologias como o acesso à internet com microondas”, diz Chuma. Segundo ele, a estreia do 5G na frequência de 3,5 GHz “é uma ação para dar início ao sistema, sem ter que esperar o estado da arte”.
Fonte: Valor (02/08/2022)
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