O parque de diversões Hopi Hari encerrou sua recuperação judicial após nove anos, mas prejuízo ficou para os fundos de pensãoO juiz Fábio Marcelo Holanda, da comarca de Vinhedo, onde fica a sede do parque, decretou o fim do processo em setembro, com manifestações favoráveis da administradora judicial e do Ministério Público de São Paulo.
A decisão menciona que as obrigações vencidas entre 2022 e 2024 foram cumpridas regularmente, com apresentação de relatórios mensais, pagamentos aos credores e manutenção da regularidade fiscal.
A sentença foi proferida apesar de pendências relacionadas aos índices de correção sobre pagamentos de credores. Segundo o documento, a Lei de Recuperação Judicial permite o encerramento mesmo quando ainda há contestações ou habilitações de crédito em curso.
Procurado para comentar o desfecho do processo, o Hopi Hari não respondeu até a publicação deste texto.
O parque entrou com pedido de recuperação judicial em agosto de 2016, após ver sua situação financeira se deteriorar e ser acusada de atrasar pagamentos de salários, 13º e convênio médico.
Em 2021, o grupo firmou um acordo de US$ 500 milhões para reestruturação, expansão e desenvolvimento do parque de diversões. O contrato contemplava obrigações com credores e incluía o planejamento de novas atrações e projetos imobiliários nos terrenos do parque, em Vinhedo (SP).
No mesmo ano, reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que os parques Beto Carrero World e Playcenter se uniram para apresentar uma proposta de compra do Hopi Hari. A oferta foi contestada e não avançou.
Em 2022, o plano de recuperação judicial foi aprovado em assembleia que contou com a participação de BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), SLW, Prevhab e Mirai, que juntos detinham cerca de 90% da dívida.
O plano previa o compromisso de o principal acionista, o fundo de private equity Brooklyn Investimentos dono de 74% do parque investir R$ 150 milhões entre 2022 e 2026 na expansão e modernização do empreendimento.
O parque foi inaugurado em 1999, com participação da GP Investimentos e dos fundos de pensão Funcef, Petros, Sistel e Previ. Nos anos 2010, o Hopi Hari era o parque mais visitado do país, com quase 2 milhões de visitantes por ano, ficando à frente dos concorrentes Beto Carrero, em Santa Catarina, e Playcenter, em São Paulo.
Especialistas consultados pela Folha de S.Paulo dizem que o fim da recuperação judicial seguiu o trâmite convencional. “O critério para verificar se a empresa está cumprindo o que foi obrigada durante o período de supervisão e também depois dele parte do próprio plano de recuperação judicial aprovado e homologado”, diz Daniel Vilas Boas, sócio do VLF Advogado.
Segundo ele, profissionais são nomeados para supervisionar a empresa e conferir se ela está efetivamente cumprindo o plano. “Se estiver tudo em ordem, o juiz profere a decisão de encerramento.”
Na avaliação da advogada Lígia Martins Cherubini Gonçalves, do Henneberg Ferreira Marques Advogados, a decisão devolve autonomia à empresa.
“A partir desse marco, as relações jurídicas retornam ao regime normal: o que foi quitado fica extinto, e eventuais obrigações seguem sendo cumpridas conforme as condições estabelecidas no plano. É uma comprovação de que a empresa está operando de forma saudável e transparente”, afirma.
Segundo ela, o parque também volta a ter liberdade para contratar novos créditos e negociar prazos sem depender de autorizações judiciais.
Histórico da participação da Sistel e outros fundos de pensão no Hopi Har
O investimento no parque Hopi Hari é um dos casos mais emblemáticos de prejuízo para os fundos de pensão brasileiros, incluindo a Fundação Sistel. Embora o investimento tenha sido originado pela Sistel no final da década de 90, o prejuízo contábil final foi, em sua maior parte, transferido e absorvido pela Fundação Atlântico após a cisão de planos ocorrida na Sistel em 2005.
Aqui estão os detalhes da perda e do contexto para os participantes da Sistel:
1. O Tamanho do Prejuízo
- A perda foi praticamente total em relação ao capital investido.
- Valor Investido: A Sistel, em conjunto com outros fundos (Previ, Funcef e Petros) e a GP Investimentos, aportou recursos em um montante total de US$ 200 milhões (aproximadamente R$ 500 milhões na época) para a construção do parque, inaugurado em 1999.
- Participação da Sistel: A participação original da Sistel era de aproximadamente 13,20% do capital total do empreendimento.
- Valor da Venda: Em 2009, após anos de resultados negativos e dívidas acumuladas, os fundos venderam suas participações por um valor simbólico (praticamente zero) para a consultoria Íntegra, assumindo o prejuízo integral do aporte inicial.
- Estimativa em Valores: Considerando a participação de ~13%, a perda direta do principal investido giraria em torno de US$ 26 milhões (valores históricos, sem correção), fora os custos de oportunidade e debêntures não pagas.
2. A Transferência para a Fundação Atlântico
- Um ponto crucial é entender onde esse prejuízo foi alocado:
- Em 2005, ocorreu a cisão da Sistel para a criação da Fundação Atlântico (destinada aos planos das patrocinadoras do grupo Telemar/Oi).
- Os ativos (e passivos/investimentos "problemáticos" como o Hopi Hari) vinculados a esses grupos foram transferidos para a nova fundação.
- Relatórios recentes da própria Fundação Atlântico (ex: 2024) confirmam que ela ainda carregava em seu balanço debêntures do Hopi Hari (vindas dessa transferência da Sistel) que foram provisionadas para perda de 100%.
3. Impacto no plano PBS-A
- Como o investimento no Hopi Hari estava majoritariamente atrelado aos perfis que migraram para a Fundação Atlântico (planos ativos da Telemar na época), o impacto direto no superávit ou nas reservas do PBS-A que permaneceram na Sistel foi mitigado ou inexistente no momento da realização final do prejuízo (venda em 2009).
4. Resumo da Situação
A "Sistel" (como instituição original) perdeu quase tudo que investiu, mas contabilmente esse "mico" foi transferido para a carteira da Fundação Atlântico, livrando o atual PBS-A (Sistel) de carregar esse peso morto em seus balanços recentes.
Fonte: Jornal da Região e Histórico do Gemini (12/12/2025)

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