terça-feira, 16 de dezembro de 2025

TIC: Após perder Emae por falta de pagamento, Tanure renegocia R$ 1,2 bi de dívida feita para levar Ligga Telecom, ex Copel Telecom



Empresário não honrou débito vencido no dia 10, mas conseguiu mais prazo com os credores, com a condição de vender duas empresas que entram como garantia; Tanure e credores não se pronunciaram

Sem conseguir pagar uma dívida de R$ 1,2 bilhão que venceu na quarta-feira, 10, o empresário Nelson Tanure renegociou a data de vencimento do débito em até dois anos, com o compromisso de vender ativos. Em outubro, Tanure já havia perdido a Empresa Metropolitana de Água e Energia (Emae) para a Sabesp, após não honrar o pagamento de um empréstimo feito com um fundo da XP para a aquisição.

No caso desta semana, a debênture (título de dívida), no valor de R$ 1,5 bilhão, foi feita para a compra da operadora de telefonia paranaense Copel Telecom, em 2020. Segundo fontes, Tanure já teria pago o valor do empréstimo, e o R$ 1,2 bilhão restante seria referente a juros dessa dívida.

Os principais credores são fundos das gestoras de investimento Farallon e Prisma e o banco BTG, cada um com 30% de participação. O Santander tem uma fatia menor do crédito concedido, de 10%. Procurados, Tanure, fundos e bancos não se pronunciaram.

O empréstimo original foi feito à Bordeaux Participações (BP Participações), de Tanure. A Copel, posteriormente transformada em Ligga Telecom, foi comprada por R$ 2,5 bilhões. Na aquisição, Tanure colocou R$ 1 bilhão e pegou o restante dos recursos emprestado.

Na ata da assembleia-geral extraordinária entre a BP Participações e credores para a renegociação da dívida, registrada na Junta Comercial de São Paulo (Jucesp), são explicitadas as novas fianças e garantias adicionais negociadas, em decorrência da “deterioração do risco de crédito” da companhia. Foi necessário realizar essa nova negociação, segundo o documento, em função da “não manutenção do índice financeiro”.

No acordo negociado, Tanure pagou agora R$ 40 milhões. O vencimento do restante foi postergado em até dois anos, com o compromisso de venda da Ligga Telecom e Alliança Saúde. Caso a venda aconteça antes, a dívida é quitada.

Tanure continuará com a participação que detém na Light, que vale atualmente cerca de R$ 330 milhões, mas as ações entraram como penhora na negociação, em caso de não cumprimento do acordo.

Saga de Tanure na Ligga

Da privatização da Copel à renegociação de dívidas, a trajetória do empresário nas telecomunicações

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9 de novembro de 202022 de julho de 20212021 a 2025202510 de dezembro de 202510 de dezembro de 2027
Fundo Bordeaux, de Nelson Tanure, vence a licitação para a compra da Copel Telecom por R$ 2,4 bilhõesÉ emitida uma debênture no valor de R$ 1,5 bilhão para a BP Participações, para financiar parte da aquisiçãoCopel se transforma em Ligga Telecom, incorpora Sercomtel, Horizon e Nova Fibra; chega a SP e cresce em 5GLigga tem prejuízos; Tanure e outros conselheiros deixam empresa, que é posta à vendaVencimento da debênture feita em 2021. Sem conseguir pagar a integralidade, BP renegocia com credoresPara aceitarem nova data de pagamento, credores pedem venda de Ligga e Alliança Saúde

Os processos de venda de Ligga e Alliança estão em andamento. Tanure contratou o banco de investimentos Rothschild em agosto para a venda da operadora, com a expectativa de conseguir de volta os R$ 2,5 bilhões. Segundo pessoas a par do caso, as negociações para a venda de ambas estão avançadas.

Tanure entrou como garantidor do novo acordo, com outros negócios e fundos nos quais detém participação, segundo a ata registrada na Jucesp. Ou seja, caso não pague a dívida, Tanure terá de ceder aos credores alguns ativos de seu patrimônio pessoal. Entre seus bens estão ações da Lormont Participações, da Letônia e cotas de vários fundos (como o FIP Fonte de Saúde, FIP Lyra e Arila).

No documento entram nas garantias até mesmo cotas da rede varejista Día, em recuperação judicial. Também imóveis, como o Costa do Peró, um conjunto de propriedades em Cabo Frio. Esses imóveis estão envolvidos em várias polêmicas, como ilícitos ambientais, com a determinação de demolição por terem sido erguidos em área de proteção ambiental. Também numa disputa judicial porque seriam adquiridos pela Gafisa, também de Tanure, o que gerou conflito com acionistas da incorporadora.

Segundo pessoas a par do assunto, esses ativos mais complexos, que envolvem tanto as ações do Día quanto o Costa do Peró saíram da repactuação da dívida, apesar de constarem na ata registrada na Jucesp.

Uma das cláusulas do contrato de renegociação determina que, na hipótese de inadimplência, os credores terão a posse dos bens e o vencimento de toda a dívida será antecipado.

Dificuldades em série

Nos últimos tempos, Tanure tem enfrentado dificuldades variadas. Após avançar em negócios de áreas diferentes de maneira inédita desde 2020, alguns deles começaram a enfrentar revezes. O movimento coincide com a ascensão e queda do Banco Master. Tanure é alvo de um inquérito que investiga sua ligação com a instituição.

Alguns negócios de Tanure, por exemplo, tinham relações com o Master. A Ligga tinha dívidas, via Certificados de Crédito Bancário (CCBs), com o banco. Já o Día e a Emae depositaram parte de seu caixa em CDBs da instituição. A Titan, holding de Daniel Vorcaro, controlador do banco, também tinha em seu portfólio investimentos comuns aos de Tanure, como Light, Ligga, Alliança e Emae.

Fonte: Estadão (12/12/2025)

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