quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

TIC: A estratégia de uma empresa de telecom como política de Estado, pelo diretor da Vero



O recente debate sobre os Correios, abordado de forma bastante prática e objetiva por Fernando Schuler, nos convida a uma reflexão sobre o que realmente faz uma empresa ser estratégica. O argumento, frequentemente utilizado para defender a manutenção de estatais, já foi o mesmo para o setor de telecom, que hoje mostra como a modernização pode ser benéfica para a população. E, curiosamente, essas transformações ilustram as teorias reconhecidas pelo Nobel de Economia 2025.

Até o início dos anos 90, o Brasil vivia uma realidade de escassez e ineficiência em telecomunicações. Uma linha telefônica podia custar US$ 1 mil, com uma espera de até 5 anos. Esse era o antigo monopólio estatal da Telebrás, que, embora tenha sido importante na expansão inicial da rede, enfrentou limitações para acompanhar o avanço tecnológico e o aumento da demanda da sociedade. Na época, o Brasil tinha apenas 8,8 telefones por 100 habitantes.

A grande mudança começou em 1997, com a promulgação da Lei Geral de Telecomunicações. A LGT abriu o setor para a competição e estabeleceu a criação da Agência Nacional de Telecomunicações, fundamental para garantir a qualidade e a expansão dos serviços. Em 1998, o Brasil deu o passo seguinte com a privatização da Telebrás. O sistema foi dividido em doze empresas, as "Teles", que foram leiloadas para a iniciativa privada visando atrair investimentos, promover a competição e universalizar o acesso.

O que o Brasil fez, mesmo que de forma não intencional, foi aplicar o conceito de destruição criativa que Aghion e Howitt, ganhadores do Nobel de Economia 2025. A privatização abriu espaço para empresas com tecnologia avançada e gestão mais eficiente, substituindo o modelo estatal obsoleto. Foi um processo criativo e desafiador, com inovação e expansão sem precedentes.

Segundo a Conexis Brasil Digital, o setor de telecomunicações recebeu mais de R$ 1 trilhão em investimentos desde 1998. A telefonia móvel explodiu e o número de acessos saltou de 7,4 para 251 milhões em 2023, um crescimento de mais de 3300%. Hoje, o País tem mais celulares do que habitantes. A banda larga, que sequer existia, hoje chega a mais de 45 milhões de lares. E a telefonia fixa passou de 20 para 27 milhões de linhas. Em 20 anos, o número total de acessos cresceu mais de 1000%, indo de 28 para 325 milhões.

Serviço19982023Crescimento
Telefonia Móvel7,4 milhões251 milhões3.309%
Telefonia Fixa20 milhões27 milhões33%
TV por Assinatura2,6 milhões12 milhões371%
Banda larga fixaInexistente45,7 milhões

Fonte: Vero / Conexis Brasil Digital / CNN Brasil (2023)

Essas transformações são exemplos perfeitos das teorias que acabam de ser reconhecidas e destacam como a inovação impulsiona o crescimento econômico sustentável. Joel Mokyr demonstrou que o movimento depende da conexão entre conhecimento proposicional (que explica por que algo funciona) e prescritivo (como fazer). No caso brasileiro, a criação de um marco regulatório sólido forneceu o primeiro, enquanto a entrada de empresas privadas trouxe o conhecimento prescritivo de forma eficiente. Enquanto Aghion e Howitt revelam que a destruição criativa é essencial para o crescimento, indicando que novas iniciativas precisam substituir as antigas para haver progresso real. Mas também alertam: concentrações de mercado muito altas ou muito baixas prejudicam a inovação, tornando essencial a concorrência equilibrada.

No Brasil, a privatização das telecomunicações não foi simplesmente uma transferência de ativos para o setor privado. Foi um processo que permitiu que novas tecnologias, modelos de gestão e investimentos substituíssem sistemas obsoletos para garantir concorrência e qualidade.

A teoria oferece um caminho claro em que a empresa não precisa desaparecer, mas se reinventar. Assim como as telecomunicações brasileiras foram transformadas, os Correios poderiam se beneficiar de um processo semelhante, uma vez que possuem ativos de capilaridade nacional, marca reconhecida e infraestrutura logística. Mas isso só se torna relevante se a empresa puder competir em condições de igualdade, investir em inovação e responder rapidamente ao mercado. A questão não é se os Correios são estratégicos, mas se conseguimos, de fato, adotar a estratégia de negócio nas decisões políticas. Em outras palavras, insistir em investimentos que não têm condições de evoluir, não deveria ser uma política em que se coloca energia.

No fim, é sobre ter um serviço de qualidade, acessível, com investimentos constantes e sem repassar a conta da ineficiência para o contribuinte. A história das telecomunicações no Brasil, bem como a de outros setores que passaram por caminhos similares, mostra que a privatização, quando estruturada e com regulação forte, impulsiona a modernização e a universalização dos serviços. O que antes era um luxo tornou-se ferramenta essencial de trabalho, estudo e comunicação para milhões de brasileiros.

Que o exemplo das telecomunicações inspire um debate mais pragmático e menos ideológico sobre o futuro. E que a pergunta central seja sempre: qual modelo gera melhores resultados para a sociedade? A resposta, como a história e a ciência mostram, pode estar na coragem de mudar e adotar a estratégia como política de Estado.

Fonte: Teletime e Flavio Rossini (04/12/2025)

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