terça-feira, 27 de julho de 2021

Idosos: Pesquisa aponta que 52% das pessoas com mais de 60 anos passam a sustentar o lar devido a crise econômica e sanitária

 


Dificuldades econômicas fizeram crescer o número dos que se encontram nesta situação, agravada pela pandemia 

A pandemia da Covid-19 agravou as condições financeiras de muitas famílias brasileiras e, como consequência, muitos idosos passaram a ser os principais responsáveis pelo sustento dos lares. Segundo levantamento realizado em todas as capitais pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offer Wise Pesquisas, 52% dos brasileiros com mais de 60 anos são os maiores provedores financeiros de casa, um aumento de 9% em relação a 2018, quando menos da metade deles assumiam esta responsabilidade.  

Trata-se de uma realidade também verificada em Bauru, conforme fontes ouvidas pelo JC, que lidam diretamente com as demandas e a rotina destes idosos na cidade. Para elas, diante da crise econômica provocada pela pandemia, com a consequente perda de empregos, a aposentadoria destes idosos passou a ser a única renda garantida para muitas famílias.

"É um recurso que, por menor que seja, passou a ser fundamental para ajudar na sobrevivência de filhos e netos. Aliás, diante da perda de renda, muitos destes familiares precisaram retornar para a casa destes aposentados", observa Valquiria Pinheiro Valerio, presidente da Associação dos Aposentados, Pensionistas e Idosos de Bauru e Região.  

A mudança também é corroborada por outro levantamento, desenvolvido pelo C. Lab, laboratório de pesquisa da Nestlé Brasil, que demonstrou que 63% das pessoas entre 50 a 80 anos são provedoras de família. A estimativa é de que este público movimente cerca de R$ 1,8 trilhão ao ano.  

Aposentada da rede de educação, Inez do Carmo Mendes Mucheroni, 61 anos, voltou a usar a maior parcela do seu benefício para pagar as contas da casa neste ano, depois que seu filho, de 33 anos, perdeu o emprego. Com o marido, funcionário público, ela divide todas as despesas, da fatura de energia à compra de alimentos e roupas para toda a casa.  

"Meu filho está há seis meses desempregado e, além da dificuldade de conseguir uma oportunidade, as coisas ficaram mais caras. Então, cortamos alguns supérfluos e já não comemos mais tanta carne. A parte boa é que perdi uns dois quilos", brinca.   

Dependência

A dependência da aposentadoria, contudo, é muito mais comum entre famílias em condição de vulnerabilidade, em que o benefício acaba sendo a principal fonte de renda para filhos e netos, conforme aponta a assistente social da Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes), Fernanda Santos Pires Carpi. Sem oportunidade para alcançar formação acadêmica e profissional, são trabalhadores que perdem o emprego mais facilmente e passam a depender de 'bicos', que não garantem o atendimento de necessidades básicas em todos os meses.  

"Muitos deles faziam 'bicos' como garçons em eventos e buffets, por exemplo, ou, no caso das mulheres, como diaristas, que também passaram a ser menos solicitadas. A situação de vulnerabilidade piorou muito, levando a uma maior dependência dos idosos que têm aposentadoria", frisa ela, que é vinculada ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e também vice-presidente do Conselho Municipal da Pessoa Idosa (Comupi).   

Como consequência, ela aponta, houve, inclusive, maior nível de endividamento destes aposentados, com comprometimento de parcela significativa do benefício por empréstimos consignados, feitos, em muitos casos, para auxiliar familiares. "Eles acabam dividindo o pouco que têm para que não falte para seus descendentes", completa.

Seguem trabalhando 

O estudo da CNDL/SPC Brasil reforça que a pandemia foi determinante para fazer com que mais da metade dos idosos se tornasse 'arrimo' de família, destacando que 50% dos entrevistados relataram ter pelo menos um parente desempregado em casa. No País, segundo o IBGE, já são 14,8 milhões de pessoas buscando trabalho. Mas, conforme o levantamento, a crise econômica não explica os números sozinha, havendo também a influência de uma mudança demográfica e comportamental desta população.  

Com o avanço da medicina e o consequente aumento da expectativa de vida, os brasileiros passaram a ter mais qualidade de vida e, por consequência, melhor condição física e mental para seguir na ativa, dentro do mercado de trabalho. O estudo aponta que, atualmente, 46% dos idosos exercem alguma atividade profissional, 10% a mais do que havia sido registrado em 2018. A maioria, contudo, diz que continua trabalhando por necessidade de complementar a renda.  

"Quem quer se manter produtivo, com a mente ocupada, normalmente, procura outras alternativas, como atividades sociais ou mesmo o voluntariado. Quem continua trabalhando é porque precisa mesmo. São aposentados que vão trabalhar como autônomos, com vendas ou entregas, por exemplo", cita Valquiria Pinheiro Valerio. Fernanda Santos Pires Carpi acrescenta, ainda, haver um grande número de idosas fazendo faxinas ou trabalhando com costura de artigos de confecção. Em contrapartida, esta população ainda sofre com estigma por serem mais velhas, tendo, assim, maior dificuldade para conseguir trabalho. O aposentado Francisco Morais Amarante, 65 anos, é um dos moradores de Bauru que não pararam de trabalhar. Até há poucos meses, mantinha um bar e, agora, segue comercializando alguns produtos de modo informal, para ajudar nas contas da casa, onde também vive uma filha de 34 anos e o neto, de 16 anos, de outra filha. "As duas têm emprego e ajudam. O menino passa a maior parte do tempo comigo, mas também vai para a casa da mãe, que mora no Jardim Chapadão. Eu vou continuar trabalhando para ajudar na criação dele, mas também porque não gosto de ficar parado", conta.

Fonte: JC Net (25/07/2021)

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