Desenvolvedores em web e mobile puxam lista de especializações com maior oferta de empregos
O velho sonho de ter uma pousada na praia para muita gente virou fazer carreira na área de tecnologia. Aquecido após a pandemia acelerar a digitalização, o setor gerou 106.571 novas vagas no primeiro semestre, de acordo com estudo da Brasscom (associação das empresas de tecnologia da informação e da comunicação).
O número representa um aumento de 80% em relação ao total de empregos criados no segmento em 2020. A demanda do mercado é tanta que faltam profissionais: o país forma 46 mil alunos com perfil tecnológico no ensino superior por ano, mas precisa de 70 mil no mesmo período, ainda segundo a Brasscom.
A área também lidera em número de vagas abertas para recém-formados, de acordo com levantamento do LinkedIn. Mas nem é preciso ter uma graduação para entrar no mercado de TI hoje.
Com um déficit de 24 mil profissionais ao ano, combinado à tendência de alta da tecnologia no mundo pós-Covid-19 e à urgência do mundo corporativo, os processos de seleção foram flexibilizados.
“A falta de mão de obra qualificada é realidade em todo o mundo, não apenas no Brasil”, diz Roberto Hirata Jr., professor de ciência da computação do Instituto de Matemática e Estatística da USP. “Cada vez mais alunos meus trabalham de forma remota para a Europa ou a China, ganhando em moeda estrangeira.”
Por aqui, grandes companhias já aceitam profissionais sem diploma e sem inglês fluente, mas com as competências necessárias para determinada vaga, acrescenta ele.
“Leigos na área talvez devessem começar fazendo cursos curtos, de alguns meses, no Coursera ou em plataformas semelhantes”, recomenda. “Uma formação sólida, porém, vem com graduação em sistemas de informação, engenharia de computação ou ciência da computação.”
Diante do desemprego no Brasil, o movimento de mudar para o ramo ganha força.
“Não é só possível, é recomendável que leigos migrem para a TI”, diz Raphael Carriço, gerente da divisão de tecnologia da recrutadora Michael Page. “O mercado é promissor, dinâmico —uma novidade surge a cada mês— e democrático, com vagas para millennials e para baby boomers.”
Já os salários, segundo o recrutador, costumam ir de R$ 3.000 a R$ 5.000 para profissionais juniores, R$ 5.000 a R$ 12 mil para plenos e seniores, R$ 12 mil a R$ 22 mil para especialistas e gerentes e acima de R$ 25 mil para heads ou CTOs (sigla em inglês para diretores de tecnologia).
Na tecnologia, a remuneração é 2,5 vezes superior à média salarial nacional, compara Mariana Rolim, diretora-executiva da Brasscom, que lançou o canal TechMe para divulgar dicas, vagas abertas e cursos gratuitos na área.
“Como o mercado ficou muito grande e multifacetado, as graduações não suprem a quantidade de formados demandada. Startups de educação estão preenchendo a lacuna com programas rápidos de capacitação”, explica.
O caminho mais indicado a quem chega de outro campo começa no aprendizado de programação, a principal porta de entrada no mercado. Depois de adquirir uma base de conhecimentos fundamentais, o ideal é se especializar em um segmento em alta.
Desenvolvedores em web e mobile puxam a lista de especializações com maior oferta de empregos mapeadas pela Brasscom. A seguir, aparecem computação na nuvem, big data (ciência/análise de dados), segurança cibernética e inteligência artificial.
Para as mulheres, o horizonte é ainda mais favorável. Muitas empresas agora fazem seleções específicas para captar talentos femininos.
Elas precisam ampliar a diversidade, mas também querem aumentar o lucro, diz Aletéia Favacho, professora de sistemas distribuídos da UnB (Universidade de Brasília) e coordenadora do Meninas Digitais, programa que fomenta a participação feminina no mercado tecnológico.
“Equipes diversas geram mais inovação. Na prática, criam produtos ou serviços que vão agradar mais gente e entregam melhores resultados de negócios”, diz Favacho.
Antes mesmo de concluir a faculdade de fisioterapia, Rafaela Oliveira, 24, decidiu mudar de área. Estudou lógica de programação, HTML e passou no processo seletivo para o “bootcamp” (intensivo prático) gratuito de desenvolvedor web da Generation, ONG de capacitação e empregabilidade da McKinsey.
“No fim, a gente tinha que apresentar um projeto de conclusão, e várias empresas estavam presentes”, conta ela, que agora é engenheira de software em um grande banco privado, trabalha com inteligência artificial e começou outra graduação, em análise e desenvolvimento de sistemas.
Mariane Gonzales, 29, que trocou oceanografia por TI, fez cursos de programação e mestrado em ciência da computação —em que analisou imagens de plânctons e aplicou machine learning (aprendizado de máquina) aos dados. Engenheira de dados de um banco digital com sede em São Paulo, foi morar em Brasília, para onde o marido havia sido transferido.
“Gosto do trabalho remoto e da versatilidade da área. Posso seguir carreira em gestão ou como especialista, focando em um segmento em alta.”
A projeção da consultoria IDC é que o mercado corporativo de software, hardware e serviços cresça 10% neste ano, com os investimentos baseados em segurança, inteligência artificial, modernização de sistemas de gestão e experiência do cliente.
Onde estudar
Oferece uma grande variedade de cursos pagos em sete campos: programação, front-end, data science, DevOps, UX & design, mobile e inovação & gestão.
A plataforma tem parceria com universidades de prestígio e grandes empresas: USP, Yale, Stanford, Google, IBM. Cursos gratuitos e de um dia estão entre as opções.
Fundada em 2014 pela McKinsey, a organização atua globalmente e oferece cursos gratuitos. No Brasil, os próximos serão de desenvolvedor web e mobile.
Entre cerca de 150 mil cursos online, há programação em Python, arquitetura de redes e machine learning. Os programas são pagos.
Fonte: Folha de SP (29/09/2021)
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