A IBBX já fechou desde novembro contratos com indústrias de automóveis, alimentos, saneamento e construção civil
Uma startup do interior de São Paulo criou uma tecnologia que transforma ondas eletromagnéticas que estão no ar em energia móvel, sem fios. A façanha permite, por exemplo, carregar um celular com ondas eletromagnéticas que estão presentes em qualquer local que tenha equipamentos eletrônicos. Pode ser em casa, na empresa, em fábricas ou na avenida Paulista, onde há uma grande quantidade dessas ondas devido às antenas instaladas na região.
Os cientistas da IBBX, sediada em Capivari (SP), criaram um dispositivo que capta as ondas eletromagnéticas por meio de uma pequena antena, que pode até ser flexível. Até então, essa captura só ocorria por meio de grandes antenas, o que inviabiliza projetos comerciais. Com a novidade, é possível, por exemplo, ter uma capinha de celular com uma antena embutida que capta as ondas e carrega a bateria do aparelho, sem fios. A tecnologia já foi certificada pela Anatel e pela FCC (agência que regulamenta tecnologias de comunicação nos Estados Unidos).
Os estudos começaram em 2012 com o engenheiro Fernando Destro que não se conformava em “ver” as ondas eletromagnéticas perdidas no ar. “Sou do interior, criado em sítio. Desde pequeno adoro cavalos, passarinho e física”, contou Destro. Pesquisou se havia algum projeto semelhante no mundo e constatou que as iniciativas estavam focadas em projetos ligados a tecnologias como bluetooth, que demandam ondas eletromagnéticas de alta frequência, mas que têm baixo alcance. As ondas eletromagnéticas, estudadas por Destro, tem frequência menor e trafegam grandes distâncias - não à toa é comum ouvir “nas ondas do rádio”.
Em 2016, já convencido que não havia experiências internacionais para aproveitamento das ondas longas, Destro foi conversar com William Aloise, executivo que estava deixando a Saint-Gobain, onde era consultor. Decidiram se unir na criação da startup e conheceram Carlos Degas Filgueiras, da família fundadora do Hotel Emiliano e investidor em startups por meio de seu fundo Bewater Ventures, que foi dar mentoria à startup. Degas acabou se tornando sócio da IBBX, ao lado de André Penha, um dos criadores Quinto Andar. A eles se juntaram os fundos de venture capital Alexia e DGF que juntos investiram (“seed money”) US$ 2,3 milhões. O próximo passo é uma rodada série A de pelo menos US$ 5 milhões. “Sou um entusiasta da IBBX. Eu e o André trabalhamos diretamente com eles. Brasileiro tem síndrome de vira-lata, mas veja o que esse pessoal do interior fez!”, diz Degas, que até 2019 era presidente do Ibmec, vendido à Yduqs.
Em novembro, a IBBX fechou os primeiros contratos. Mas ainda não é no mercado de celular e, sim, com a indústria. A startup criou um sistema de monitoramento de máquinas em fábricas. Os dispositivos, que cabem na palma de uma mão, captam as ondas eletromagnéticas das máquinas e fazem o seu monitoramento.
“Uma máquina parada é dinheiro perdido. Hoje, esse trabalho de manutenção é feito manualmente de tempos em tempos, com um técnico. Agora, há um IOT [dispositivo móvel] que absorve as ondas eletromagnéticas, que inclusive, causavam interferência no ambiente, que faz o monitoramento das máquinas em tempo real”, explicou Destro. O dispositivo da IBBX monitora por exemplo, vida útil, temperatura, vibração, risco de explosão das máquinas.
Em dois meses, a IBBX fechou contratos com indústrias de automóveis, alimentos, saneamento e construção civil e instalou 1,5 mil dispositivos. “Uma fábrica demanda em média 10 mil sensores. Considerando a indústria nacional, a demanda seria de 400 milhões de unidades”, disse Destro. “Nosso sensor dispensa bateria, é diferente dos demais IOTs. Imagina a quantidade de baterias despejada no meio ambiente? Isso é insustentável, não faz sentido se temos essa energia que pode ser aproveitada das ondas eletromagnéticas”, diz ele, que continua morando no interior de São Paulo, preocupado com cavalos e passarinhos.
Fonte: Valor (20/01/2022)
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