A previdência privada é o caminho que milhões de investidores buscam para complementar a renda e garantir o patrimônio no futuro.
Mas alguns dos maiores fundos desse tipo de aplicação estão deixando de entregar aos clientes um rendimento ao menos igual ao CDI, referência básica para produtos de renda fixa, justamente os mais procurados pelos brasileiros.
Assombrosos 96% do patrimônio aplicado no Brasil em fundos de previdência de renda fixa rendem abaixo de 100% do CDI há mais de dez anos, aponta estudo feito pela casa de análise Spiti. São R$ 306,9 bilhões que não estão conseguindo nem sequer acompanhar a taxa básica de juros da economia brasileira ao longo de toda uma década.
O que o aplicador deve fazer nesse caso? Veja abaixo.
Objetivo da previdência privada
Os fundos de previdência privada têm o objetivo de ajudar o investidor a construir o patrimônio no futuro. Assim, são produtos com objetivos de retorno no longo prazo.
Isso quer dizer que esses produtos até podem ter desempenhos fracos e mesmo oscilações negativas em curtos períodos. Mas ao fim de um tempo maior, de dez anos ou mais, eles têm o papel de entregar ao aplicador um rendimento que proteja o patrimônio da perda do poder aquisitivo.
É para estimular que o aplicador mantenha o dinheiro nesses planos que as regras para os fundos de previdência privada oferecem vantagens, como menor taxação de impostos.
Os gestores dos fundos de previdência contam então com o tempo a seu favor e com menores alíquotas de impostos para entregarem aos aplicadores ganhos superiores aos oferecidos por outros fundos que não são de previdência privada.
Gigantes da previdência privada perdem do CDI
Mas essa não é o resultado final para 179 fundos de previdência privada em renda fixa, com mais de 10 anos, de um total de 198 que estão disponíveis em PGBL e VGBL.
O estudo da casa de análise Spiti mostra que R$ 306,9 bilhões, dentro de um patrimônio líquido total de R$ 319,6 bilhões, não rendem nem 100% do CDI em mais de uma década. Ou seja, o retorno nem sequer empata com os juros básicos da economia brasileira.
O levantamento considerou apenas fundos de previdência privada abertos. Foram desprezados os fundos máster e com taxa zero, pois esses produtos não recebem aporte direto dos planos.
Foram considerados apenas os fundos com 10 anos ou mais porque esse é o horizonte mínimo recomendado para o aplicador aproveitar o benefício fiscal do Imposto de Renda regressivo e, ao mesmo tempo, é o prazo suficiente para avaliar o desempenho de um produto.
Previdência privada
Fundos com mais de R$ 10 bilhões que perdem do CDI há mais de uma década
Fonte: Spiti, Quantum Axis
Por que comparar com o CDI?
O CDI é a referência principal das aplicações de renda fixa mais tradicionais, ou seja, aquelas que apresentam os menores riscos do mercado porque aplicam principalmente em títulos do governo pós-fixados.
E a renda fixa é a categoria de investimento mais usada pelos brasileiros. Os fundos de previdência somam atualmente R$ 1,1 trilhão em patrimônio, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Desse total, R$ 878 bilhões estão em fundos de renda fixa, ou seja, 80,6% do bolo.
Motivos das perdas
Segundo profissionais de mercado, o desempenho medíocre dos maiores fundos de previdência de renda fixa tem a ver com uma combinação de taxa de administração alta com uma queda da taxa básica de juros. Quando a taxa básica de juros cai, como aconteceu no Brasil entre 2016 e 2020 —e a Selic caiu de 14,25% para 2%—, a taxa de administração passou a corroer, proporcionalmente, mais e mais do rendimento bruto das aplicações.
Os fundos mais novos, lançados por gestoras independentes e mesmo pelos bancões, praticam taxas de administração mais leves. Entre os fundos antigos, algumas taxas foram sendo cortadas ao longo do tempo, mas ainda assim são elevadas. E, com o tempo, a punição é maior, porque o bolo vai crescendo mais lentamente.
O que dizem as seguradoras
Procurado, o Bradesco disse que vem ajustando ao longo do tempo o seu portfólio de produtos e as taxas de administração de seus fundos de investimento com o objetivo de melhor atender às demandas dos clientes, em um movimento de adequação ao mercado. "Vale ressaltar que a decisão de resgate ou portabilidade dos recursos dos fundos vinculados a planos de previdência pode impactar financeiramente o participante, tendo em vista que os planos antigos possuem características previdenciárias de conversão em renda que não são mais praticadas pelo mercado", disse o banco em nota ao UOL
A BrasilPrev disse que tem ressaltado junto aos clientes a importância da diversificação dos investimentos e intensificado o lançamento de produtos e parcerias com gestoras independentes em complemento ao portfólio já existente. A Caixa não respondeu até a publicação desta matéria.
Segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), que representa seguradoras desse mercado, muitas vezes a decisão de alocar recursos em produtos de baixa volatilidade faz parte da estratégia dos próprios clientes de manter uma carteira balanceada de produtos. "Existe a possibilidade de mobilidade entre os produtos, via portabilidade, para que os clientes busquem o melhor investimento ao longo de seu ciclo de vida, adequado também ao seu apetite por riscos ou perfil mais conservador", disse a entidade em nota ao UOL.
Como avaliar o fundo
O investidor que está com sua previdência aplicada precisa então acompanhar de perto o desempenho dos fundos que estão em seu plano.
Os próprios gestores apresentam em seus relatórios gráficos que mostram o desempenho dos fundos com o CDI.
Além disso, a pessoa pode recorrer a buscadores que fazem essas comparações, como o que existe na Superintendência de Seguros Privados (Susep) e em outras plataformas.
Portabilidade é uma alternativa
Da mesma forma que alguém pode mudar uma linha de telefone celular de uma operadora para outra, é possível levar um plano de previdência de uma seguradora para outra.
Mas isso precisa ser feito com cuidado para que o aplicador não deixe pelo caminho parte do rendimento ao buscar um fundo de previdência com taxas de administração menor e histórico de rendimento melhor.
É preciso ver, por exemplo, a tábua atuarial, usada para estimar a expectativa de vida de determinado grupo de pessoas e, a partir disso, calcular os valores dos benefícios no futuro. Os planos antigos possuem essa referência mais vantajosa.
Além disso, é preciso checar se a portabilidade não vai representar algum custo na taxa de carregamento ou na alíquota de imposto. Veja abaixo algumas orientações de profissionais de mercado.
Mudanças que podem ser feitas
O investidor pode fazer dois tipos de mudança para encontrar um melhor produto de previdência privada usando a portabilidade.
1- Dentro do próprio plano: Um plano de previdência privada é formado por aplicações em vários fundos que o participante pode alterar e encontrar aquele que faz mais sentido. Há diversos produtos de renda fixa no mercado, oferecidos por diferentes gestores. Se dois deles têm o mesmo histórico de rendimento, vale comparar as taxas de administração.
2- Transferir para outro plano: É possível pedir a portabilidade do plano de previdência inteiro, transferindo os recursos para outra seguradora.
Atenção com planos privados patrocinados por empresa
O diretor-executivo da plataforma de comparação de investimentos Yubb, Bernardo Pascovich, destaca que quem tem previdência privada em parceria com a empresa onde trabalha deve considerar na conta se a companhia também contribui com um depósito mensal.
"Para esses casos, não recomendo a portabilidade porque a contribuição da empresa acaba proporcionando um rendimento que dificilmente será batido por um outro plano sem patrocínio da empresa", diz Pascovich.
Fonte: UOL (12/06/2022)
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