segunda-feira, 17 de março de 2025

Fundos de Pensão de funcionários do BB (Previ) fecha 2024 com déficit de R$ 3,16 bilhões. Auditoria do TCU divulga 1º resultado



Renda variável, com alta concentração em VALE3, teve retorno negativo de 12% no período e atingiu em cheio o desempenho do Plano 1

O Plano 1, fundo de pensão de funcionários do Banco do Brasil (BBAS3), fechou o ano de 2024 com um déficit de R$ 3,16 bilhões. É o maior retorno negativo da carteira desde 2017 e o primeiro déficit desde 2021. Em 2023, o fundo tinha obtido superávit de R$ 14,5 bilhões.

“A oscilação de mercado e o consequente impacto nos investimentos fizeram com que a Previ consumisse o superávit de 2023”, justificou a entidade em comunicado à imprensa.

“Mas o Plano 1 segue sólido e cumprindo sua principal missão: garantir o pagamento de benefícios aos seus mais de R$ 106 mil associados, dos quais 97% são aposentados ou pensionistas”, continua o texto.

O Plano 1 é o maior fundo administrado pela Previ e tem R$ 240 bilhões em patrimônio. Em janeiro deste ano, a carteira obteve um novo superávit de R$ 1,3 bilhão.

A Previ explica que a principal contribuição para o baixo desempenho do Plano 1 veio do segmento de renda variável, carteira que apresentou rentabilidade negativa de 12%, com uma perda de R$ 7,9 bilhões, em 2024.

“Esse tipo de oscilação é comum e conjuntural no mercado financeiro brasileiro, mas a estratégia da Previ foca no longo prazo”, diz o comunicado.

Alta concentração de Vale

A Previ é um acionista relevante da Vale (VALE3), sendo dona de uma fatia de mais de 10% da empresa. No ano passado, porém, as ações da companhia despencaram 23%, tendo o seu menor retorno anual desde 2015. Em 2024, a mineradora respondeu por 42% do portfólio de renda variável do Plano 1.

Em entrevista recente ao InfoMoney, o diretor de investimentos da Previ, Cláudio Gonçalves, explicou que a concentração em Vale tem sido reduzida ao longo dos últimos anos, mas a estratégia de saída precisa conversar com o preço. A Previ entende que a ação está subvalorizada.

“Não dá para vender Vale no preço que está hoje, levando em conta o que ela paga de dividendos. É uma empresa extremamente saudável financeiramente e entendemos que em algum momento o ativo vai se valorizar, pois é uma companhia muito bem gerida”, afirmou Gonçalves.

Desde 2012, a Previ tem reduzido a exposição da carteira à renda variável e aumentado na renda fixa. A entidade informou que adquiriu mais de R$ 12 bilhões de títulos NTN-B com taxas de juros superiores à meta atuarial no ano passado. Por outro lado, a Previ vendeu participações em 57 empresas, no mesmo período.

Do total do patrimônio do Plano 1 em 2024, 64% estava aplicado em renda fixa e 26% em renda variável.

No comunicado à imprensa, Cláudio Gonçalves escreveu que “os planos da Previ se encontram em equilíbrio, mesmo diante de um resultado abaixo do esperado pela meta atuarial”. A política de caixa mínimo da entidade mantém recursos líquidos necessários para garantir o pagamento de benefícios sem a necessidade de venda de ativos.

Os benefícios pagos pela Previ em 2024 somaram R$ 16,5 bilhões em 2024.

Vale lembrar que fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil está no meio de um escrutínio. Auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) estiveram no mês passado na Previ para entender as decisões que fizeram o Plano 1 ter um déficit bilionário em 2024.

Auditoria na Previ levanta suspeita em compra de ações da Vibra

Investigação do TCU aponta, ainda, flexibilização de critérios para nomeações em conselhos de empresas; nova regra favoreceria pessoas antes barradas por falta de formação e experiência

O relatório preliminar de auditoria na Previ, em reta final de elaboração pela área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU), aponta que a compra de participação acionária na Vibra (antiga BR Distribuidora) pode ter contrariado a política do fundo de reduzir sua exposição em renda variável.

A auditoria também identificou mudanças nos critérios de seleção para conselheiros das empresas nas quais a Previ possui participação, o que levantou questionamentos sobre a governança do fundo de pensão.

Os primeiros achados da auditoria devem ser apresentados nesta sexta-feira (14) ao ministro Walton Alencar, relator do processo no TCU, que citou “gravíssimas preocupações” com o resultado negativo de R$ 14 bilhões no Plano 1 — o maior da fundação de previdência complementar dos funcionários do Banco Brasil — entre janeiro e novembro do ano passado.

Segundo o relatório, a justificativa dada aos auditores foi a queda das ações da mineradora Vale, na qual o fundo tem grande exposição.

Porém, embora a Previ já estivesse seguindo uma política de redução de investimentos em renda variável, os auditores identificaram que, na contramão dessa estratégia, houve uma compra expressiva de ações da Vibra.

Informações divulgadas pela própria Vibra indicam que a Previ tem hoje 5,24% de participação acionária na companhia. No primeiro trimestre de 2024, essa fatia era de 3,3%.

Outro ponto abordado no relatório é a forma como são escolhidos os representantes da Previ nos conselhos de empresas em que o fundo tem participação.

Os auditores identificaram que houve uma mudança nos critérios de seleção, que tradicionalmente avaliavam a formação acadêmica e a experiência profissional dos candidatos.

Com essa alteração, pessoas que antes não atenderiam aos requisitos passaram a ocupar assentos estratégicos.

Esse seria o caso do sindicalista João Fukunaga, presidente da Previ, que é graduado em História e, segundo a avaliação dos auditores, não teria pontuação suficiente nos critérios anteriores para ocupar assentos nos conselhos sem uma flexibilização das regras.

A auditoria segue em andamento, e o relatório preliminar servirá de base para futuras análises sobre a governança e os investimentos da Previ.

A Previ é o maior fundo de pensão do país e gere um total de R$ 270 bilhões em investimentos, segundo dados de agosto da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).

No total, são 84 mil funcionários do Banco do Brasil participantes e 109 mil pessoas beneficiárias.

A Previ encerrou os 12 meses de 2024 com déficit de R$ 17,6 bilhões no Plano 1.

A CNN entrou em contato com a Previ e aguarda um posicionamento da instituição.

Fonte: InfoMoney e CNN Brasil (14/03/2025)

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