Os fundos de pensão, que nos moldes atuais são uma vaquinha societária para ajudar os empregados de grandes empresas a pouparem juntos para o futuro, vão simplesmente perdendo o sentido de existir.
Na Holanda existiam 605 fundos de pensão patrocinados por empresas em 2007, em 2019 esse número havia caído para 162.
A consolidação e redução da quantidade de fundos de pensão é um fenômeno global. Os quase trezentos fundos de pensão brasileiros - eram cerca de 365 no pico - já perceberam isso e vem tateando no escuro em busca de uma solução. Alguns estão ensaiando a implantação de planos para cônjuges e dependentes dos atuais participantes. Talvez sem ter se dado conta de que os próprios participantes, empregados com vínculo empregatício permanente em tempo integral, estão sumindo e com eles sairá de cena esse “novo” publico alvo. Outros estão de olho nos planos de funcionários públicos de estados e municípios, sem perceber que esse é um exemplo do “Efeito Orloff” na sua essência mais pura: eu sou você amanhã, diriam os fundos do setor privado para os do setor publico.
O sétimo continente e o tsunami grisalho
Tomei conhecimento pela primeira vez sobre a figura do 7º continente através de um artigo da Margaretta Colangeno da Deep Knowledge Ventures & Longevity Capital. Se isolássemos mundialmente em um continente hipotético todos os cidadãos que hoje estão aposentados e que tem acima de 60 anos, teríamos um sétimo continente, vasto e rico.
Essa extensão de terra seria habitada por um bilhão de pessoas com um poder de compra anual, de acordo com a Aging Analytics Agency, equivalente em 2020 a US$ 18 trilhões (figuras abaixo). Esse é o tamanho do que alguns especialistas estão chamando de Global Longevity Industry ou Longevity Economy, o equivalente em português à “Industria Global da Longevidade” ou “Economia da Longevidade”.
Você deve estar cansado de ouvir demógrafos e atuários projetando os efeitos populacionais da longevidade. As pirâmides demográficas invertidas se tornaram mais comuns na mídia do que as próprias pirâmides do Egito. Até hoje, porém, são raras as análises que colocam nessa cena a evolução dos efeitos sociais e econômicos do aumento contínuo da longevidade em escala global.
Projetada para 2026, a Industria Global da Longevidade na qual aquela turma do sétimo continente são os consumidores, terá um poder de compra igual a um monte Everest de dinheiro, o equivalente a um PIB de US$ 26 trilhões.
Os americanos cunharam o termo silver generation (“geração prata”) para se referir ao contingente de pessoas aposentadas cujos cabelos - quando existem - são brancos ou cor de prata. Às vezes também os chamam de gray generation, que significa “geração grisalha”.
A verdade é que os cidadãos do sétimo continente, esse verdadeiro tsunami grisalho que vai se formando, nunca tiveram sua existência nem suas necessidades financeiras reconhecidas isoladamente.
Existem vários termos para nos referirmos aos mais novos: nenês, crianças, adolescentes, jovens. Temos inúmeras maneiras para chamar os mais crescidos: adultos, maduros, experientes, desenvolvidos. Também temos muitos meios para rotular os mais velhos: idosos, longevos, anciãos, centenário, supercentenário - que é aquele com mais de 110 anos de idade.
Agora pense bem, quais os termos que caracterizam a geração prata ou geração grisalha? Uma categoria demográfica que surgiu com o aumento da longevidade, espremida entre os adultos e os “bem mais” idosos. Pensou? Pois é, não tem.
Esse contingente que inexiste na lexicografia, também inexistia até aqui para o sistema financeiro tradicional, mas ele cresceu muito e não pode mais seguir ignorado. TINA2, diria a Dama de Ferro ao se dirigir ao sistema financeiro.
(2) TINA, outra expressão muito usada na Internet, é abreviação do inglês "There Is No Alternative” e significa: "não há alternativa". A criação desse slogan político é atribuída a Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, quando primeira-ministra do Reino Unido e usada para indicar que não havia alternativa às leis do mercado.
Novos tipos de instituição financeira e produtos começam a surgir para satisfazer as necessidades dessa população. Bancos, gestores de investimentos, fundos de pensão e seguradoras estão nos primórdios da evolução para novos modelos de negócios.
As soluções oferecidas por essas instituições remodeladas serão otimizadas para atender as necessidades desse povo. Moldados na economia da longevidade, produtos e serviços serão muito mais age-friendly, ou seja, adequados às pessoas que estão envelhecendo. Operar e fazer transações financeiras, será mais fácil e seguro para as pessoas mais seniores e a inteligência artificial será usada largamente para processar a enorme quantidade de dados disponíveis e ajudar no desenvolvimento de soluções especificas. Prepare seu passaporte para o sétimo continente, você vai precisar dele, muito em breve.
Na segunda parte do artigo, a ser publicado nos próximos dias, falaremos sobre os dilemas enfrentados por aposentados pela previdência complementar.
Fonte: Blog do Eder / Eder C. da Costa e Silva (25/02/2020)
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