Acreditamos que entidades aproveitarão oportunidades para ampliar exposição a NTN-Bs, mas estratégia de diversificação com outras classes de ativos não deveria ser desmontada
Depois de um 2021 muito complicado, em que a inflação alta em nível histórico fez com que poucas Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) conseguissem superar suas metas, o que será que devemos esperar desses investidores em 2022? Talvez ainda seja cedo para dizer, mas a leitura de suas políticas de investimentos é muito instrutiva, quando se trata de prever o comportamento para o ano.
No momento, ainda não temos as estatísticas sobre 2021 totalmente finalizadas. Mas já se pode dizer que nem 10% das EFPC que acompanhamos conseguiram bater suas metas (sejam elas atuariais ou índice de referência), o que é consequência de um ano desastroso na renda fixa e pouco empolgante na renda variável.
Provavelmente o resultado mais expressivo em 2021 tenha vindo das alocações internacionais, segmento que é limitado a 10% da alocação total das EFPC e, portanto, ajuda, mas não resolve problemas. Ao longo do ano, assistimos a uma forte migração para ativos de menor risco, sobretudo ativos de crédito “high grade”, mas, ainda que a volatilidade das carteiras tenha diminuído, tal migração não produziu retornos de grande magnitude.
Cabe destacar, ainda em 2021, o fraco desempenho dos gestores ativos de renda variável em relação aos índices de referência - em que pese o fato de um único ano não ser representativo para análises de gestores nesse segmento, certamente houve uma grande frustração das EFPC com os resultados de suas alocações ativas em ações.
Acredito, porém, que 2021 será mais lembrado pela forte abertura das taxas de NTN-B, e sobretudo pelo fato de isso ter acontecido em toda a extensão da curva, o que gerou boas oportunidades para aquelas EFPC que, por conta de seu passivo, não poderiam adquirir títulos tão longos.
Sobretudo no segundo semestre, vimos taxas acima de 5,5% ao ano já nos vértices mais curtos. Considerando que a taxa atuarial média dos planos deve orbitar ao redor de 4,5% ao ano, é claro que tal movimento fez com que a participação desses papéis nas carteiras aumentasse.
Infelizmente, o cenário continua complicado e os prêmios da curva de juro real não cederam com a mudança do ano. Nesse sentido, acreditamos que as EFPC aproveitarão oportunidades ao longo de 2022 para aumentar ainda mais sua posição nesses títulos. Não esperamos, com isso, uma migração definitiva para a renda fixa - a legislação oferece algumas “travas” para a alocação em títulos na curva e, mais importante, o passivo já não permite esse movimento - mas certamente devemos ver as EFPC mais concentradas nessa classe de ativos.
Sob esse aspecto, a tendência é começar a acreditar que, sim, neste ano de 2022, deve haver uma volta ao passado das EFPC. E esse deve ser um sonoro “sim”. Porém, ainda que as taxas de NTN-B se mantenham atrativas e que as EFPC façam movimentos nessa direção, não vislumbramos um cenário de volta ao passado tão intenso assim.
Em primeiro lugar, a diversificação construída ao longo dos últimos anos (especialmente a partir de 2016) não deve ser desmontada de uma hora para outra. Classes mais complexas, como multimercados, exterior e até mesmo FIP, requerem uma abordagem de longo prazo, e não as vemos em risco desde que os patamares das NTN-B não se alterem em demasia. É bem verdade que tais classes podem ficar “estacionadas” em 2022, mas não nos parece que perderão recursos, nem mesmo que deixarão de fazer parte das carteiras.
O investimento no exterior, inclusive, deve ganhar espaço nas carteiras. Ainda que o limite superior atual não tenha sido alterado, o que é um pleito antigo do sistema, o surgimento dos “BDRs de ETF”, classificados como renda variável local, devem ajudar a suprir a demanda por mais espaço nessa classe. Como contraponto, citamos o valor do dólar frente ao real: nos níveis atuais, entendemos que ele afugenta os investidores dessa classe.
Resta saber como será o movimento para a renda variável. As discussões do ano passado indicam pouca disposição em reduzir de forma relevante essa classe em 2022, mas nenhuma em aumentar. Deveríamos concluir, portanto, pela manutenção da exposição atual.
Não é isso, entretanto, que temos visto no consolidado da amostra. A alocação em renda variável vem sendo negativamente impactada principalmente por aquelas EFPC que oferecem perfis a seus participantes - ou seja, o participante tem decidido pela redução da exposição. Compreensível, mas aqui vemos que o movimento de pessoas físicas em plataformas acaba sendo replicado para a previdência, que é um investimento de prazo muito superior e não deveria ser tratado da mesma maneira que um investimento tradicional. Parece ser um ponto a explorarmos no futuro!
Fonte: Valor (11/02/2022)
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