terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Segurança do Usuário: Idosos resistem a aderir ao Pix com medo de fraudes



Além do receio do roubo de celular, dificuldades com a tecnologia afastam pessoas com 60 anos ou mais

O Pix, sistema eletrônico de transferências e pagamento do Banco Central (BC) lançado no fim de 2020, superou todas as expectativas. Mas, em um grupo etário específico ainda enfrenta resistências: o de pessoas com mais de 60 anos. Por medo ou desconhecimento sobre a ferramenta, a população nessa faixa etária é a que menos faz transações por meio da ferramenta.

Enilda Grande tem 65 anos e ainda não começou a usar o Pix por medo de ser assaltada. No entanto, pela praticidade e por causa das restrições da pandemia, ela pensa em começar a usar o sistema para fazer transferências para a família e pagar as contas:

— Estava pensando em pegar um aparelho que eu tenho e deixar em casa só para usar o Pix e usar outro na rua.

Das 34 milhões de pessoas que têm entre 20 e 29 anos, ou 16% da população, de acordo com o IBGE, 26 milhões fizeram uso do Pix em novembro ou dezembro. Elas representam 27,3% das pessoas que transferiram recursos pelo sistema do BC no período.

Já entre os idosos, a situação é outra. As pessoas com mais de 60 anos — 14,7% da população brasileira —representam apenas 8,9% dos clientes que mandaram ou receberam um Pix nos últimos meses de 2021, de acordo com estatísticas do Banco Central.

Aumento de 54%

Aos 66 anos, Antônia Rosa é uma das pessoas que decidiram não aderir ao Pix. A aposentada diz que tem um pouco de medo por causa dos relatos de golpes. O uso que ela faz dos aplicativos de banco se limita a checar o saldo na conta corrente.

— Acho prático você fazer tudo dentro da sua casa e não precisar estar se expondo em fila de lotérica ou de banco, mas infelizmente eu não me sinto segura — relatou Antônia Rosa, que participa de um projeto de inclusão digital de idosos no Centro Universitário UDF, em Brasília.

A professora Kerlla de Souza Luz, a coordenadora desse projeto e do UDF, diz que as notícias de fraudes despertam a desconfiança e afastam o idoso da ferramenta financeira:

— Muitos têm receio de verdade. Acho que como o Pix é um serviço muito autônomo, eu entro, eu cadastro minha chave, eu faço meu pagamento, fica parecendo que não tenho o intermédio do correspondente bancário. Achei que eles ficaram um pouco desconfortáveis com isso — disse.

O crescimento das transações por idosos também tem sido menor que o ritmo do restante dos usuários nos últimos meses. Enquanto o número de transações das pessoas com mais de 60 anos cresceu 54% entre junho e novembro de 2021, o de jovens entre 20 e 29 anos aumentou 64%.

Segundo o BC, o ritmo de adoção do Pix superou as expectativas em todas as faixas etárias e é natural que as pessoas mais velhas encontrem mais barreiras com o avanço da tecnologia.

O Banco Central diz que apesar do acesso menor entre os idosos, o crescimento é expressivo:

“Devido a maior afinidade com tecnologia, é natural que a adoção ocorra de forma ainda mais expressiva na faixa etária mais jovem. Entretanto, o uso do Pix pela população 60+ já passa de 27% e o Pix só tem aproximadamente um ano de funcionamento”, apontou o Banco Central.

Mesmo com medo de golpes, a aposentada Rosa Casaccia, de 76 anos, passou a utilizar o Pix a partir do fim de 2021. A demanda veio da empregada doméstica, que precisava que o pagamento chegasse mais rápido.

— Eu resisti bastante. Por isso que comecei no fim do ano passado. Estava demorando muito para chegar a transferência para minha empregada e ela me pediu para fazer por Pix. Eu não estava querendo, mas como ela precisava, eu tentei o mais rápido possível — contou a moradora de Porto Alegre.

Confiança só no presencial

O uso é restrito aos netos, ao fisioterapeuta e à empregada, mas Rosa tem tentado fazer mais operações:

—Ultimamente sabe o que tenho feito? O sorteio da Mega-Sena eu paguei com Pix, achei bem fácil, só que acertei só uma dezena.

A professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora da Unidade de Inclusão Digital de Idosos (Unidi), Letícia Machado, explica que os idosos têm mais resistência a novidades e medo de serem enganados.

— Eles são de uma época em que se precisava ir até o banco, falar com o gerente, ter esse vínculo afetivo com as pessoas porque é dinheiro que foi batalhado — ponderou a professora.

Em nota, o BC ressaltou que o Pix é seguro e que tem feito campanhas para levar essa sensação aos usuários. “Cabe esclarecer que não se tratam de vulnerabilidades do Pix em si, mas tentativas via engenharia social nas quais, muitas vezes, o próprio usuário acaba confiando em estelionatários, expondo suas credenciais ou realizando transações para criminosos”.

Dicas para o mundo digital

Atenção com abordagens

  • Janete Bach Estevão, da Datalege Consultoria Empresarial, recomenda que se preste atenção ao número de abordagens por e-mail, ligações ou SMS após a divulgação de vazamentos de dados pelo Banco Central. Ela orienta a nunca repassar senha e não clicar em links de fontes desconhecidas.

Bancos não pedem senha

  • A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) lembra que, com o crescimento de transações digitais na pandemia, o número de golpes aumentou. Por isso, a entidade reforça que os bancos nunca ligam para o cliente pedindo senhas e número do cartão, tampouco solicitam transferências ou qualquer tipo de pagamento.
  • Também não há solicitação de devolução do cartão nem mandam um funcionário para a casa do cliente para buscar qualquer coisa. O banco nunca irá pedir uma foto do seu cartão porque já tem todas as informações que precisa.

Chave não dá acesso

  • O Banco Central lembra que as chaves Pix são usadas para recebimento de recursos. Só com o número da chave não é possível acesso ao saldo ou realização de pagamentos. Mas golpistas, de posse de alguns dados, entram em contato para tentar obter os dados e senhas.

Trocar chave

  • Quem teme que seus dados tenham sidos expostos pode trocar a chave Pix.

Oferta boa demais

  • Thiago Bordini, Head of Cyber Threat Intelligence & Delivery na Axur, recomenda desconfiar de sites com promoções muito atrativas, com valores discrepantes dos praticados no mercado.

Use senhas diferentes

  • Não use como senha, ao fazer o cadastro no site de e-commerce, a mesma palavra-chave que utiliza em seu e-mail pessoal ou para acessar o internet banking.

Compre com cartão virtual

  • Ao comprar pela internet, utilize o cartão virtual gerado através do aplicativo de seu banco no celular. Como ele só funciona para transações únicas, não há o risco de os dados serem salvos e usados posteriormente em uma compra não autorizada.

Chaves aleatórias

  • Em geral, as chaves Pix estão vinculadas a informações como CPF, telefone celular ou e-mail, o que expõe os usuários.
  • Utilizar o Pix é seguro, mas eleger dados pessoais como código ou chave de identificação é perigoso, pois revela a privacidade dos dados e deixa os usuários em situação de vulnerabilidade — alerta Caroline Kersting, advogada especializada em Direito Digital e LGPD.

Fonte: O Globo (05/02/2022)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".