sábado, 21 de setembro de 2024

Fundos de Pensão: Pesquisa diz que maioria dos planos de pensão fechados não garante ‘aposentadoria digna’, ou manutenção do padrão de vida de ativo



Estudo aponta que 72% não acumulam recursos para manter padrão de vida; principal motivo é a baixa contribuição

Estudo da consultoria Mercer aponta que, de um universo de 665 planos mantidos por fundos de pensão, 72% não acumulam, no atual cenário de sua carteira de investimentos, recursos suficientes para uma aposentadoria considerada digna, conceito que significa manter o padrão de vida financeira de quando o participante estava na ativa, levando em conta que mudam os gastos com remédios, planos de saúde e lazer.

“Boa parte dos fundos de pensão tem batido metas de resultados, mas o nível de contribuição é baixo”, diz Tiago Calçada, diretor de previdência da Mercer Brasil. O estudo considera que o beneficiário irá se aposentar aos 60 anos e projeta um retorno de juros de 4%, 5% e 6% ao ano no longo prazo.

Essa parcela de 72% dos planos, mostra o relatório, fica na faixa de rendimento até 4%, o que significa que, mantendo o atual ritmo de contribuições com esse nível de retorno, pagará um benefício inferior a 40% do salário final.

Do total de planos avaliados pela consultoria, o pior cenário é os dos planos do tipo Contribuição Definida (CD), que começaram a ser adotados no mercado depois, por volta de 1995, e não têm garantia de renda. Somente 21,1% dos 246 dessa categoria têm saldos acumulados suficientes para pagar a previdência digna.

Já os de Benefício Definido (BD), os primeiros a serem criados e que deixaram de aceitar novos participantes com a chegada do tipo Contribuição Definida, têm benefícios estabelecidos já na contratação. Esses planos somam 419 da amostra e apenas 32,2% garantiriam uma aposentadoria digna.

“Vamos ser um país de idosos em pouco tempo, teremos mais gente recebendo do que pagando à Previdência”, afirma Calçada. “É preciso que a aposentadoria não mais seja vista como a fase final da vida, mas como um momento que se deve desfrutar com qualidade, e a solução é a previdência complementar.”

Segundo Calçada, 75% dos planos podem estar com contribuições abaixo do necessário. “Em percentual, a literatura mundial manda que a contribuição seja de 15% do salário, ou seja, 7,5% do empregado e 7,5% da empresa, mas só 25% das empresas têm esse nível de contribuição.”

Além disso, o perfil de cada participante deveria ser observado para, quando for o caso, ampliar ou passar a alocar em investimentos com maior risco que dão maior retorno. “O departamento de recursos humanos da empresa não pode achar que vai decidir o melhor perfil”, diz ele.

Uma terceira medida que faria diferença no quadro do setor seria as empresas investirem em educação financeira e, “de fato olharem para a jornada de bem-estar financeiro do empregado”, comenta Calçada. A ideia é mostrar ao funcionário a importância de aumentar a contribuição para a aposentadoria. Pesquisa da consultoria mostra que apenas 23% das empresas no Brasil praticam ações voltadas à saúde financeira de seus colaboradores. Outras 13% têm intenção de adotar algo nessa linha.

Ao mesmo tempo, dados da Mercer mostram que 79% dos funcionários dizem esperar que a empresa ajude no planejamento da aposentadoria. “A companhia tem que ser protagonista, tem o dever social de participar do processo de planejamento financeiro.” Uma ideia de adequação, pontua o executivo, seria, por exemplo, o empregado de perfil conservador ser incentivado a contribuir mais e o arrojado, a assumir mais risco.

A Mercer ouviu também 800 empresas e verificou que 51% ofereciam benefícios de previdência, patamar que pela primeira vez ficou acima de 50% em mais de 20 anos. O diretor da consultoria diz que a tendência é de mais grandes empresas oferecendo o benefício, já que o incentivo fiscal é direcionado a companhias com lucro real. As que pagam impostos sobre lucro presumido, ou seja, pequenas e médias, não têm permissão para deduzir suas contribuições.

Ele cita que somente de 8% a 9% da população brasileira têm plano de previdência privada, cobertura que precisaria ser ampliada com políticas públicas de incentivo. “Se nada for feito agora não vai haver tempo para reagir lá na frente. Uma solução seria empresas de lucro presumido também terem incentivo para oferecerem planos para seus funcionários.”

Jarbas de Biagi, presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), diz que os fundos de pensão não personalizam o plano, mas, por outro lado, permitem ganho de escala ao participante, que consegue as melhores taxas com o maior poder de negociação da instituição.

Mas ele concorda que é preciso aumentar o investimento em educação financeira e previdenciária para conscientização da população, inclusive incluindo o tema na grade curricular das escolas, medida recentemente sugerida pela entidade ao Ministério da Previdência.

Biagi cita que a Abrapp tem um programa de universidade corporativa, que tanto oferece cursos sobre governança e prevenção à lavagem de dinheiro, por exemplo, quanto de planejamento financeiro e para a aposentadoria.

Fonte: Valor (18/09/2024)


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