segunda-feira, 16 de setembro de 2024

TIC: EUA e Europa apertam o cerco a gigantes de tecnologia (Google e Apple); entenda o que está em jogo



Google é alvo da ações na Justiça americana e Apple também enfrentarão governo nos tribunais. Na União Europeia, novas leis coíbem abusos das big techs

Por muitos anos, as grandes empresas de tecnologia pareceram estar imunes às regulamentações e supervisões de governos nacionais. Mas isso está mudando – e bem rapidamente.

Nos Estados Unidos, o domínio de mercado do Google nas buscas on-line e na publicidade digital está ameaçado após o governo americano ter ido à Justiça e já obtido uma primeira vitória nas cortes. O Departamento de Justiça também está processando a Apple, sob a acusação de que a fabricante do iPhone violou leis antitruste ao impedir que concorrentes tivessem a acesso a recursos de hardware e software de seus dispositivos mais populares.

Na Europa, Apple e a empresa holding do Google, a Alphabet, foram multadas em bilhões de euros por adotarem práticas anticompetitivas. E os reguladores da União Europeia investigam agora se Apple, Google e Meta (dona de Facebook e WhatsApp) descumpriram as novas leis do bloco que tratam sobre a economia digital e que preveem pesadas multas para infratores.

E surge uma nova frente para o escrutínio de EUA e Europa: a inteligência artificial (IA). Reguladores americanos e europeus já voltam suas atenções para a enorme quantidade de dinheiro que as big techs estão investindo em IA e os riscos que pode representar caso esta nova tecnologia seja dominada por apenas um punhado de empresas.

Entenda, abaixo, o que está em jogo.

A abordagem dupla da União Europeia

A UE implementou recentemente duas leis: o Digital Markets Act (DMA) e o Digital Services Act (DSA).

O DMA entrou em vigor em 7 de março, impondo às grandes empresas de tecnologia uma lista abrangente de obrigações e proibições baseadas nos princípios das leis antitruste. O objetivo é impedir condutas abusivas por parte dos maiores players antes que elas se estabeleçam no mercado.

O DSA tornou-se legalmente aplicável em 25 de agosto, estabelecendo regras de conteúdo para plataformas de mídia social, mercados online e lojas de aplicativos. Obriga seus proprietários a reprimir a desinformação, o discurso de ódio, a propaganda terrorista e anúncios de produtos inseguros.

O Digital Markets Act

O DMA prevê que as plataformas grandes demais — pelo seu alcance entre os países da UE e o número de usuários — ficarão submetidas a um escrutínio e regulamentação mais rigorosos.

Sob o DMA, seis gigantes da tecnologia — Alphabet, Amazon, Apple, ByteDance Ltd., proprietária do TikTok, Meta e Microsoft Corp. — enfrentaram uma série de novas obrigações. Por exemplo, é ilegal que suas plataformas favoreçam seus próprios serviços em detrimento dos concorrentes. Elas estão proibidas de combinar dados pessoais de seus diferentes serviços e de usar os dados coletados de comerciantes de terceiros para competir contra eles.

Plataformas que violarem as regras do DMA podem ser multadas em até 10% de suas vendas anuais globais. Esse valor pode aumentar para 20% em caso de reincidência, e a Comissão Europeia pode até exigir que uma empresa seja dividida em caso de violações sistêmicas. A Comissão pode abrir processos contra empresas por não conformidade, prescrever soluções específicas e impor multas.

A lista de empresas sujeitas às regras pode crescer. A plataforma de hospedagem Booking foi submetida ao escopo das regras depois que elas entraram em vigor, e o X, de Elon Musk, também pode ser atingido.

As empresas estão trabalhando para se alinhar ao DMA. Em 5 de março, o Google anunciou que passaria a vincular mais buscas a sites de comparação em áreas como voos, hotéis e compras. A Meta já havia se comprometido a permitir que seus serviços Facebook e Instagram fossem desvinculados, e a Microsoft anunciou que alguns programas normalmente vinculados ao Windows poderão ser desinstalados no futuro.

O Digital Services Act

Sob essa legislação, os governos nacionais têm mais poder para forçar as grandes empresas de tecnologia a remover conteúdo considerado ilegal. Também as obriga a submeter avaliações de risco à Comissão Europeia, detalhando como estão mitigando o impacto de conteúdo prejudicial. Se for constatado que não estão fazendo o suficiente, podem ser instruídas a alterar os algoritmos que decidem quais postagens os usuários veem.

Se transgredirem, podem ser multadas em até 6% de sua receita anual. Poderes adicionais para combater a desinformação podem ser acionados durante uma crise, como uma guerra ou pandemia. Anúncios direcionados a crianças — uma fonte significativa de receita para empresas como Facebook e Google — foram proibidos.

Desde que as novas regras entraram em vigor, reguladores da UE lançaram uma série de investigações sobre possível não conformidade, mirando o Facebook e Instagram da Meta, TikTok e X. Em 12 de julho, a UE afirmou que o X estava enganando os usuários para que interagissem com conteúdo potencialmente prejudicial. O bloco também lançou uma investigação sobre a gigante chinesa de e-commerce AliExpress para examinar sua conformidade com o DSA.

Em resposta ao DSA, o Google disse que está divulgando mais informações sobre operações de moderação de conteúdo para serviços como o Google Search. A Meta afirmou que está encerrando o direcionamento de anúncios para adolescentes com base na atividade de aplicativos no Facebook e Instagram.

A Bytedance, dona do TikTok, anunciou que permitiria que os usuários denunciassem conteúdo ilegal e escolhessem um feed que não fosse personalizado.

Os casos na Justiça americana contra o Google

No último dia 5 de agosto, o juiz Amit Mehta, de uma vara no Distrito de Columbia, decidiu que o Google monopolizou ilegalmente os mercados de busca on-line e anúncios de texto, encerrando um caso originalmente aberto em 2020 pelo governo americano ainda sob a presidência de Donald Trump. O Google disse que irá apelar da decisão, mas o Departamento de Justiça dos EUA já está trabalhando nas punições que irá determinar à empresa.

É provável que o governo tente proibir os tipos de contratos exclusivos que estavam no centro do caso. Também pode pressionar por uma divisão da gigante do Vale do Silício, com o sistema operacional Android e o navegador web Chrome sendo alvos potenciais para serem vendidos pela empresa, segundo fontes próximas ao assunto.

Essa seria a primeira tentativa de Washington de desmantelar uma empresa por monopolização ilegal desde um esforço malsucedido para dividir a Microsoft duas décadas atrás. Na ocasião, a Microsoft também perdeu na Justiça um processo antitruste. A empresa não precisou se desmembrar, mas teve que abandonar práticas que limitavam a concorrência - o que, segundo analistas, acabou abrindo espaço para a ascensão de novas empresas, entre elas o Google.

O Google também está se defendendo nos tribunais em uma outra ação aberta pelo Departamento de Justiça, que afirma que a empresa manipula o mercado de publicidade on-line, que movimenta US$ 677 bilhões por ano, violando as leis antitruste. O governo americano e uma coalizão de oito governos estaduais acusaram o Google de criar um “trifecta de monopólios” para dominar a tecnologia por trás dos anúncios em sites e prejudicar editores e anunciantes.

O Google negou as acusações. “Hoje somos uma grande empresa entre muitas outras”, disse a advogada do Google, Karen Dunn, acrescentando que a empresa está “competindo intensamente” com dezenas de outras, incluindo Microsoft e Amazon.

Apple também na mira da Justiça americana

Um processo, aberto em 21 de março em um tribunal federal de Nova Jersey, marcou a conclusão de uma investigação de cinco anos do Departamento de Justiça sobre o fabricante do iPhone.

O governo americano alega que a Apple impôs limitações de software e hardware nos iPhones e iPads que dificultam a competição de rivais e a troca de telefones pelos consumidores. A queixa destaca cinco exemplos de tecnologias nas quais a Apple suprime a concorrência: super apps, apps de streaming de jogos na nuvem, apps de mensagens, smartwatches e carteiras digitais.

Se a ação for bem-sucedida, o Departamento de Justiça pode buscar uma variedade de soluções, como restrições em contratos com fornecedores ou desenvolvedores de aplicativos. Pode exigir que a Apple abra seus dispositivos para lojas de aplicativos alternativas ou crie outros mecanismos de pagamento.

A Apple prometeu defender vigorosamente o processo do DOJ, afirmando que está “errado nos fatos e na lei” e criaria um “precedente perigoso, permitindo que o governo tenha um controle pesado sobre o design da tecnologia das pessoas”.

Mas, ao mesmo tempo, a empresa adotou medidas para resolver algumas das questões levantadas no processo: recentemente adicionou suporte para serviços de jogos baseados em nuvem e disse que adicionaria uma opção para os usuários dos dispositivos Apple enviassem mensagens diretamente para plataformas de outros fabricantes ainda este ano. 

Fonte: O Globo (15/09/2024)

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