sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Pré Aposentadoria: População do Brasil vai diminuir a partir de 2042; como isso pode afetar seus planos de aposentadoria?

 



Veja possibilidades de investimento hoje já pensando no futuro

Para garantir a mesma renda do período ativo do trabalhador devem ser considerados, pelo menos, dois aspectos: a expectativa de vida da pessoa após a idade da aposentadoria e o custo de vida por conta das questões de saúde. 

A maior parte do mundo já lida com o problema de contração populacional, ou seja, nascem menos pessoas do que seria necessário para, pelo menos, manter a população atual. E no Brasil não é diferente: pelas novas projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população total vai começar a diminuir a partir de 2042, mas 11 Estados vão testemunhar esse movimento já a partir de 2027. O país terá três pessoas com mais de 60 anos para cada uma de até 14 anos em 2070. E frente ao processo de envelhecimento em curso, como se preparar para a aposentadoria?

A mudança na estrutura etária brasileira renova as preocupações com os custos maiores para a Previdência, tanto pública quanto privada. De 2000 para 2023, a fatia de idosos (pessoas com 60 anos ou mais) na população brasileira quase duplicou, ao subir de 8,7% para 15,6%. Em números absolutos, o total de idosos passou de 15,2 milhões para 33 milhões, no período. Para a Previdência, isso significa que reduz a base de quem contribui e avança muito quem recebe.

“Os programas públicos de aposentadoria, não só no Brasil, mas em muitos países, já dão todos os sinais que eles vão entrar em colapso e vão se deteriorar. Não diria que as pessoas não serão pagas, mas o que acontecerá é que cada vez o valor será menor”, diz Bruno Corano, economista e fundador da gestora Corano Capital.

“O pagamento das aposentadorias, hoje, já é um grande desafio. O Brasil está em uma situação que a conta da previdência pública não fecha: a base de contribuição é menor do que o necessário e o próprio governo financia parte dos benefícios concedidos”, complementa Helen Vogt, líder de Previdência da Blue3 Investimentos.

Conforme as projeções do governo para o déficit do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), que atende os trabalhadores do setor privado ou mesmo do setor público, quando não estejam filiados a regimes próprios, a expectativa é que a necessidade de financiamento continue crescendo: saia de 2,45% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e chegue a 10,30% até 2100.

Para as pessoas, os dados do IBGE reforçam um alerta que vem sendo feito há tempos, diz José Farias Junior, planejador financeiro certificado pela Planejar.

“Quem está observando os dados do IBGE nos últimos 16 anos não está assustado com essa projeção. Ela só deixa claro que, quanto mais a expectativa de vida aumenta, mais cedo é preciso se planejar, porque a previdência não é um sistema de aposentadoria que vai garantir a mesma renda do período ativo do trabalhador. É apenas um meio de ter um complemento de renda”, pontua.

Farias explica que esse complemento da renda deve considerar, pelo menos, dois aspectos: a expectativa de vida da pessoa após a idade da aposentadoria e o custo de vida por conta das questões de saúde.

Traduzindo em números:

Em 2024, a idade mínima para as mulheres se aposentarem pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) subiu para 58 anos e 6 meses. Para os homens, passou para 63 anos e 6 meses. Esses valores irão subir progressivamente até chegar na idade limite, de 62 para elas em 2031 e 65 para eles em 2027. Ao mesmo tempo, a esperança de vida ao nascer subiu de 76,4 anos em 2023, e deve chegar aos 83,9 anos em 2070. Ou seja, a expectativa de contar com os recursos do INSS também sobe.

Já em relação ao tamanho da progressão dos gastos com saúde, dados da Conta-Satélite de Saúde do IBGE mostram que as famílias tiveram gastos com bens e serviços de saúde equivalentes a 5,7% do PIB em 2021. Em 2010, esse percentual era de 4,4%. Os gastos das famílias com serviços privados de saúde perderam espaço para o gasto com medicamentos, que aumentou nos últimos anos. Segundo o IBGE, a despesa com serviços privados - incluindo plano de saúde - respondeu por 63,7% do total dos gastos de consumo final com saúde das famílias em 2021. Em 2020 e 2019, esses percentuais foram de 64,9% e 67,5%, respectivamente. Já o gasto com remédios pelas famílias representou 32,5% do total das despesas em 2020 e subiu para 33,7% em 2021.

Corano, da gestora Corano Capital, nota que o planejamento deve ser considerado por todas as pessoas para preparar reservas, investir e reduzir perdas no padrão de vida.

“Se basear na aposentadoria do governo, no INSS, pensando no futuro é inviável. Não existe outra alternativa [para o governo] que não seja estender a idade da aposentadoria e retribuir menos aos segurados da previdência. Ou seja, quem contribui uma vida inteira ganhando um salário de R$ 10 mil, esperando uma aposentadoria de R$ 3 mil pode descobrir, lá na frente, que não vai chegar a isso”.

No entanto, dar o passo pensando no futuro não é algo fácil. Primeiro, porque há os compromissos financeiros que estão batendo à porta, como a necessidade de financiar um carro ou pagar a escola dos filhos, nota Vogt, da Blue3 Investimentos. Segundo, porque investir pensando no longo prazo implica em abrir mão de parte da “recompensa” tida com a compra de algo feito no presente, observa o planejador financeiro certificado pela Planejar.

“É preciso convencer as pessoas a abrir mão do imediatismo para que se possa aumentar a taxa de poupança do futuro. O planejamento precisa permitir ter um conforto hoje para poupar amanhã”, diz Farias.

E como fazer isso?

No que investir para se preparar para a aposentadoria?

Entre as possibilidades de investimento pensando no futuro, o Tesouro Direto tem um papel criado para complementar a aposentadoria dos investidores. Chamado de RendA+ (ou NTN-B1), o papel é corrigido mensalmente pela inflação. A diferença dele para o papel Tesouro IPCA+ (também disponível no Tesouro Direto) é que nele o investidor escolhe uma data para começar a receber a renda extra, que será paga por 20 anos, ou 240 meses. É possível começar a investir na modalidade com cerca de R$ 30 (fração do título).

No caso da previdência privada, há os planos de previdência privada fechada oferecidos pelas empresas, que estão avançando entre os brasileiros aos poucos. Chamados de coletivos ou corporativos também são aqueles em que a contribuição é descontada da folha de pagamento do trabalhador. A maioria das empresas contribui com o benefício, ou seja, a cada R$ 1 investido pelo trabalhador, a empresa contribui com mais R$ 1 ou com um pedaço desse valor.

Também há a previdência privada aberta. São dois tipos de produtos: Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL).

Antes de 2024, a escolha pelo regime tributário sobre os planos tinha que ser feita no momento da contratação do plano de previdência privada. Agora, os participantes de planos de previdência privada escolham o regime de tributação — se pela tabela progressiva ou regressiva — apenas lá no final, quando forem receber o benefício, ou no primeiro resgate dos valores acumulados.

Há ainda os fundos de previdência, que podem investir tanto em renda fixa quanto em renda variável, em proporções distintas — a depender do perfil do fundo, a partir dos aportes feitos pelo investidor. Nesse caso, uma gestora fica responsável por alocar esses recursos em busca de rentabilidade. O universo dos fundos de previdência no Brasil explodiu nos últimos cinco anos. E com cenário favorável e competição, mais fundos de previdência voltaram a superar inflação. Um levantamento feito pelo Valor Investe mostrou que dos 3,6 mil fundos de previdência existentes em 2023, 98% renderam mais do que a inflação.

O planejamento, no entanto, também deve considerar também outros tipos de produtos. A diversificação de portfólio de investimentos é uma estratégia fundamental, defendida por assessores e planejadores de investimento, para proteger o patrimônio contra as oscilações dos mercados e, ao mesmo tempo, potencializar rendimentos, conforme os objetivos e horizonte de cada investidor.

Para quem já conseguiu iniciar esse planejamento e está investindo na aposentadoria, a especialista da Blue3 Investimentos, pontua que as projeções de envelhecimento da população de forma mais rápida não devem afetar muito os planos.

“Se bem planejada, a meta será suficiente para gerar ganhos que trarão qualidade de vida”, diz Vogt.

Fonte: Valor Investe (24/09/2024)

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