quinta-feira, 18 de junho de 2020

Meu Bolso: Com queda da Selic para 2,25% ao ano, veja o que fazer com os seus investimentos, caso tenha sobras



Boa parte dos investimentos conservadores deve ter um retorno real — ou seja, descontando a inflação — zero ou negativo. E agora, José?

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) repetiu a dose de um remédio amargo para você, pequeno investidor, e cortou a taxa básica de juros, a Selic em 0,75 ponto percentual, para 2,25% ao ano. Novamente, é o menor patamar da história e a consequência é que boa parte dos investimentos conservadores deve ter um retorno real — ou seja, descontando a inflação — zero ou negativo.

Isso acontece porque muitas aplicações financeiras de renda fixa, como títulos do Tesouro Direto ou CDBs, têm sua rentabilidade atrelada à taxa básica de juros. Então, se ela cai, o retorno do produto também fica menor. E agora, significa que todo mundo precisa sacar tudo desses investimentos e correr para a bolsa? Calma, fera.

Ao reduzir a Selic, a tendência é que os empréstimos fiquem mais baratos e que as empresas e as pessoas tomem crédito para produzir e consumir. É um jeito do BC estimular que a economia saia da crise do coronavírus mais rapidamente. Para cortar a taxa básica de juros, o Banco Central precisa estar seguro de que os preços estão sob controle e que não correm risco de ficar acima da meta de inflação, como aconteceu agora.

O mercado financeiro espera que a Selic termine 2020 em 2,25% ao ano (exatamente onde está desde a decisão de ontem), e que suba um pouquinho em 2021, chegando a 3% no final do ano que vem. As expectativas estão no Boletim Focus, divulgado toda segunda-feira pelo BC.

Mesmo com essa projeção nada animadora para investidores conservadores, os especialistas explicam que, ainda mais durante uma crise econômica, ninguém pode mexer na sua reserva de emergência. A cartilha de planejamento financeiro manda ter o equivalente a entre seis meses e um ano de salário investido em uma aplicação financeira atrelada à taxa básica de juros, que possa ser resgatada a qualquer momento.

Pode ser em títulos do Tesouro Direto atrelados à Selic ou fundos simples com taxa zero, que investem somente nesses papéis, em plataformas como Órama, Pi, BTG Digital e Rico. Ou pode ser, ainda, em contas digitais com rendimento automático, que rendem 100% do CDI (uma taxa quase igual à Selic), como a NuConta, do Nubank, ou a PicPay.

“A reserva de emergência tem que fazer parte da carteira sempre e hoje ela vai render muito pouco, mas não tem como fugir disso. Nessa crise, vimos a importância de ter esse valor”, diz Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama e colunista do Valor Investe.

Quanto maior a chance de você demorar para se recolocar no mercado se perder emprego ou renda, maior deve ser a sua reserva. Autônomos, por exemplo, devem ter uma reserva de emergência maior do que engenheiros ou profissionais da área de tecnologia.

Sandra ressalta que agora, com a Selic tão baixa, não dá mais para se dar ao luxo de deixar dinheiro além da reserva de emergência em investimentos tão conservadores assim. E é preciso fazer uma separação mais cirúrgica do que é reserva de emergência e do que não é.

Ok, recado dado. Se você não tem uma reserva de emergência formada, não é para correr para a renda variável. É para, primeiro, terminar esse investimento. Mas se você já tem essa reserva, aí, sim, começa a brincadeira.

Onde investir na renda fixa
Para quem não gosta de muito risco e quer explorar a renda fixa, ainda existem algumas poucas opções que se salvam, mesmo com a taxa básica de juros tão baixa. Mas você vai ter que ter paciência: as aplicações financeiras de renda fixa com algum rendimento que preste são de longo prazo.

Entre elas, estão os títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação. Tudo bem que a inflação não está rendendo nada — os preços caíram 0,38% em maio, maior deflação para o mês desde 1980, segundo o IBGE —, mas esses papéis rendem o IPCA mais uma taxa prefixada, que chega a mais de 4% ao ano nos títulos de prazo de vencimento mais longo, como em 2035 e 2045. Nada mal em relação a Selic em 2,25% ao ano.

Essa taxa está alta porque é preciso oferecer um “prêmio de risco”, no jargão do mercado, para o investidor, em meio a toda essa incerteza do que vai acontecer com a economia e com os juros nesse longo espaço de tempo. Quanto mais longa, melhor a taxa paga. E se o investidor deixar o dinheiro aplicado até o vencimento do título, ainda protege o seu patrimônio da alta generalizada dos preços. Mas aí é para investir pensando em usar a grana no longo prazo, porque, se resgatar antes do vencimento, corre o risco de ter retorno negativo.

“Estamos enxergando potencial nos títulos indexados à inflação com vencimento em 2035. Enxergamos meses melhores do que já passamos daqui para frente”, diz Edgard Castro, sócio da Acqua.

Há quem indique também comprar títulos prefixados no Tesouro Direto de prazos mais longos. O papel com vencimento em 2026, por exemplo, está oferecendo pagar mais de 6% ao ano. Seria uma alternativa de diversificação. No entanto, o risco de investir nesses títulos é maior.

“Hoje, no cenário em que estamos vivendo, zeramos nosso portfólio de prefixados, porque enxergamos risco de haver um aumento na taxa de juros nos próximos anos”, diz Castro. Se os juros subirem mais do que o esperado, o investidor corre risco de ficar preso em um papel prefixado e deixar de ter retorno maior.

Este também é um bom momento para comprar títulos de crédito privado (ou cotas de fundos que investem nesses títulos), como debêntures ou CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), recomendam especialistas. Segundo eles, há papéis de empresas de pouco risco com prêmios elevados, depois que esses produtos causaram dor de cabeça para seus investidores no auge da crise, em abril. Por conta desse momento de pânico no mercado, as taxas de crédito privado ficaram atrativas.

“Mesmo assim, como não tem Fundo Garantidor de Créditos, é bom investir de forma escalonada e não botar tudo em um único título”, diz Sylvio Fleury, diretor de relações com o mercado da Ativa Investimentos

Onde investir na renda variável
Até os investidores mais conservadores podem investir 5% do seu dinheiro em renda variável, segundo recomendam especialistas. Já os moderados podem aplicar 15% nesses produtos, e os mais arrojados, 25%. Tudo, claro, pensando no longo prazo.

“A pergunta que todo investidor deve fazer na hora de comprar uma ação é pensar qual produto ou serviço que não vive sem? Energia elétrica, saneamento básico, comida e conta bancária. Pode começar por ações desses setores, que pagam dividendos acima da média e independentemente das condições de mercado, são essenciais”, recomenda Filipe Villegas, estrategista da Genial.

Para quem está à caça de oportunidades, Villegas sugere investir em papéis de empresas de tecnologia, e-commerce e saúde, três setores que, ao tudo indica, haverá maior demanda nos próximos anos, independentemente das ações estarem baratas ou caras. Já os papéis do setor imobiliário e educacional estão baratos, na avaliação do estrategista, porque não se sabe ao certo quanto o desemprego e a perda de renda vão aumentar e impactar esses segmentos.

Quem acha muito difícil escolher ações e não está disposto a estudar as empresas pode investir por meio de ETFs, espécie de fundos de investimentos que espelham índices, como o Ibovespa, ou fundos de ações. E saiba que bolsa é para o longo prazo e tem risco.

Todo investidor também pode ter um pouco de dinheiro em fundos imobiliários. Apesar do rendimento de muitos desses fundos ter caído com a crise e de vários deles terem reagido suspendendo o pagamento de dividendos, eles seguem recomendados como um ótimo investimento para diversificar a carteira e ganhar mais que na renda fixa. No entanto, a alta esperada vai demorar mais para vir e a volatilidade vai ser maior no caminho.

E os investimentos no exterior também podem ganhar um espacinho na carteira. A pandemia da covid-19 abriu os olhos para a internacionalização do portfólio, já que o exterior tradicionalmente se recupera mais rápido de crises econômicas do que o Brasil. Além dos tradicionais fundos cambiais, para ganhar com a alta do dólar, e dos fundos de investimento no exterior, você pode comprar recibos de ações americanas na B3, os chamados BDRs, ou investir em cotas de um fundo de ações negociado em bolsa, do tipo ETF, vinculado ao desempenho de um índice internacional, como o S&P 500.

Fonte: Valor Investe (18/06/2020)

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