segunda-feira, 4 de outubro de 2021

TIC: Redes privativas ganham novas aplicações



Empresas aguardam definições da Anatel para faixa exclusiva que vai operar entre 3,7 GHz e 3,8 GHz 

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) definiu os custos das licenças de 5G que serão leiloadas em 4 de novembro, mas ainda precisa fixar os valores das outorgas para redes privativas. A agência destinou a faixa entre 3,7 GHz e 3,8 GHz para que indústrias, ferrovias, mineradoras, operadoras de petróleo, entre outras verticais, possam criar redes dedicadas sem precisar recorrer a uma operadora. Elas não precisarão disputar o leilão, e sim obter uma outorga de Serviço Limitado Privado (SLP).  

Nilo Pasquali, superintendente de planejamento e regulamentação da Anatel, explica que ainda estão sendo definidos os requisitos técnicos de utilização da faixa, que é compartilhada com o satélite. “O trabalho não será concluído antes da realização do leilão, e os valores serão baseados em preços administrativos da Anatel, incrivelmente menores do que os preços de leilão”, sinaliza Pasquali.  

A Vale já tem projetos de redes privativas 4G LTE com a Vivo e a Nokia nas minas em Carajás (PA), e rede wi-max na mina de Brucutu (MG), executada diretamente pela mineradora. Nos dois casos, operam perfuratrizes e caminhões autônomos. Nas ferrovias, o projeto foi com a Trópico. Márcia Costa, gerente-executiva de serviços de infraestrutura tecnológica da Vale, diz que a escolha do 4G LTE foi motivada pela possibilidade de evoluir para 5G, e o espectro exclusivo em 3,7 GHz abre oportunidades.  

“Estamos avaliando novas aplicações, como realidade aumentada e vídeo de alta definição”, diz a executiva da Vale. “O programa de redes privativas prevê cobertura em 15 complexos, e, no momento, estamos fazendo com operadora, até como aprendizado. No futuro, pode ser interessante uma rede independente de operadora, devido a requisitos de missão crítica.”  

Carlos Lauria, diretor de relações governamentais e regulatórias da Huawei, diz que a faixa exclusiva para aplicações indoor foi um pleito dos fabricantes. Mas para ele, serviços prestados com uma operadora de grande porte são mais eficientes. “Na nossa fábrica de Sorocaba, temos uma rede 5G prestada por uma operadora numa licença de uso experimental. Mas há clientes em que não há cobertura de operadora, ou eles têm operação perigosa e preferem ter o controle da rede”, diz Lauria.  

Rodrigo Dienstmann, presidente da Ericsson, afirma que a empresa prefere atuar em conjunto com as operadoras. “Mesmo solicitando a frequência exclusiva, as empresas poderão recorrer a uma grande operadora ou operadoras de nicho para integrar a rede”, diz.  

A Nokia tem diversos projetos em 4G LTE e vê um grande potencial de migração para 5G. Com a Weg, modelou o uso do espectro 5G em ambiente industrial, no âmbito do piloto com a ABDI. “O teste comprovou os ganhos de produtividade e alta disponibilidade do 5G. Há interesse de todos os setores”, diz Wilson Cardoso, CTO da Nokia.  

Além da Vale, a Vivo tem outro grande projeto com a Petrobras prevendo redes 4G LTE em refinarias, armazéns logísticos, usinas termelétricas, unidades de tratamentos de gás e centro de pesquisa. E redes offshore nas bacias de Santos e de Campos e do Espírito Santo, a fim de permitir conectividade nas plataformas, com sondas e embarcações. “As redes privativas em 4G já antecipam os benefícios do 5G, como controle de tráfego e de segurança, e priorização de aplicações. Mas o 5G democratiza o acesso para empresas menores, por meio do recurso de ‘slicing’ (fatiamento) da rede da operadora”, diz Alex Salgado, vice-presidente de negócios B2B da Vivo.  

Leonardo Capdeville, CTIO da TIM, defende que se as empresas querem ser flexíveis e usar a tecnologia a favor do core business, o melhor caminho é procurar alguém que faça isso com mais eficiência. “Temos parceiros que querem uma rede privativa, mas com a TIM fazendo a gestão do serviço fim a fim. As empresas que a fazem sozinhas correm o risco de criar uma jabuticaba que pode vir a dar problema, a exemplo das empresas de energia que montaram subsidiárias de telecom”, alerta.  

André Sarcinelli, CTO da Claro, diz que algumas indústrias têm envergadura para comprar direto do fabricante e fazer uma rede por conta própria. Mas pode ser que a empresa queira ter uma rede em que a Claro faça a instalação, a operação e a manutenção e evolua a rede 5G. “Haverá empresas que vão testar o modelo sozinhas e, eventualmente, descobrir que é melhor ter um parceiro. A banda destinada pela Anatel é a mesma do satélite como uso primário, e será necessário o confinamento do sinal sem deixar que ele se espalhe”, diz.  

Alexandre Gomes, diretor de marketing da Embratel, destaca o projeto executado para a Rumo, a maior operadora de ferrovias do Brasil, envolvendo diversos serviços e conexão 4G LTE. Para ele, o ciclo do 5G envolverá todo um ecossistema: espectro, equipamentos, dispositivos e rede. “É preciso integrar tudo isso, inclusive com o ecossistema do parceiro. Uma mineradora não faz veículo autônomo”, diz Gomes.

Fonte: Valor (30/09/2021)

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