Especialistas explicam a sopa de letrinhas do mercado financeiro e comentam as melhores alternativas para cada perfil de investidor
Investimentos em renda fixa costumam fazer parte do portfólio de qualquer investidor, desde aquele com perfil conservador até o mais arrojado, que está disposto a correr mais riscos em troca de uma remuneração maior. Esse "fenômeno" acontece porque, apesar de se tratar de uma categoria de produtos que oferece um retorno menor, é a que garante mais segurança para a carteira de investimentos.
Se você já realizou uma ligeira busca sobre as variadas opções de ativos de renda fixa, provavelmente se deparou com algumas siglas, como LC, LF, RDB e RDC. À primeira vista, pode parecer difícil de entender o que cada uma significa e, até mesmo, dar vontade de procurar por outros investimentos mais populares, como é o caso do CDB e do Tesouro Direto. Mas, apesar disso, entender a sopa de letrinhas do mercado financeiro é importante para combinar diferentes modalidades de investimentos e, assim, construir um portfólio diversificado.
Além de ampliar as possibilidades de diversificação, vale destacar que investir em renda fixa continua sendo o principal caminho para montar o colchão de segurança contra imprevistos. Como lembra o diretor comercial da Easynvest, Fábio Macedo, "reserva de emergência é aquele recurso que você nunca sabe quando vai precisar usar, então, como não é possível prever, trata-se de um dinheiro que tem que estar fora de risco e precisa ter alta liquidez".
Para esse e outros objetivos com prazos definidos, os ativos de renda fixa são boas alternativas, já que apresentam as suas rentabilidades ou formas de cálculo previamente definidas no momento da aplicação. Outro ponto importante é que os produtos pertencentes a esta categoria de investimentos podem ser fixados em um percentual mensal ou, então, acompanhar algum índice, como o CDI, a taxa Selic e a inflação.
Ao investir em um ativo de renda fixa, você, basicamente, empresta o seu dinheiro para o emissor. Segundo o líder da área de produtos da Speed Invest, Carlos Eduardo Corrêa, trata-se de "um mecanismo de captação de financiamento das instituições financeiras públicas e privadas. Elas pegam dinheiro emprestado com os investidores e se comprometem a devolver o valor em um prazo determinado e a uma taxa combinada".
Apesar do processo de emissão dos variados títulos de renda fixa seguir um formato parecido, existem opções de produtos que são lançados por bancos e, outras, por instituições não bancárias, como as financeiras, que têm um porte menor. Além dessa diferença, o valor mínimo inicial, a rentabilidade, o risco e o prazo variam de acordo com as especificidades de cada título. Confira, abaixo, alguns investimentos de renda fixa que são menos explorados pelos investidores:
Letra de Câmbio (LC)
Embora a Letra de Câmbio não seja um tipo de investimento muito popular, ela tem características semelhantes às de outro ativo mais conhecido entre os investidores. Conforme explica Corrêa, "a LC é o produto da renda fixa que mais se parece com o CDB. A maior diferença entre um e outro está no emissor: o primeiro é emitido pelas financeiras, como, por exemplo, as sociedades de crédito, enquanto que o segundo é lançado pelas instituições bancárias".
De acordo com a coordenadora de análises de renda fixa da XP Investimentos, Camila Dolle, como as LCs são emitidas por instituições menores que os bancos, elas acabam oferecendo taxas de rendimento mais atrativas. Por outro lado, segundo Camila, o investidor deve ficar atento à relação risco retorno deste investimento, já que, ao entregar uma rentabilidade superior, a Letra de Câmbio pode apresentar um risco maior.
Já para Macedo, os riscos ao investir em uma LC são os mesmos de qualquer título de emissão bancária. "O principal é o risco de crédito, ou seja, a possibilidade da financeira, por qualquer razão, falir. E também tem o risco de liquidez, que acontece quando o investidor não consegue se desfazer do ativo no momento em que precisa".
No entanto, segundo o diretor comercial da Easynvest, da mesma forma que os CDBs, as Letras de Câmbio contam com a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), um mecanismo de proteção aos investidores que permite recuperar até R$ 250 mil em caso de falência da instituição.
Além disso, de acordo com Corrêa, as Letras de Câmbio, assim como os CDBs, podem ser prefixadas, pós-fixadas e, até mesmo, indexadas à inflação. "No geral, a LC tem mais emissões atreladas ao CDI, ou seja, pós-fixadas. Mas não é uma regra, é só uma questão de hábito do mercado mesmo", complementa.
Segundo Fábio Macedo, além de possuir vários tipos de indexadores, outras vantagens da LC são os diferentes emissores disponíveis no mercado, as taxas competitivas e a variedade dos prazos, que se adequam de acordo com as necessidades de cada pessoa.
"As Letras de Câmbio se encaixam em qualquer tipo de carteira de investimento, desde a mais conservadora até a mais arrojada. O investidor com perfil conservador, por exemplo, pode pegar um título de curto prazo com um indexador pós-fixado. Da mesma forma que o investidor arrojado pode investir em um título prefixado, com um prazo mais longo", afirma o diretor comercial da Easynvest.
A estrategista-chefe da Órama, Sandra Branco, lembra ainda que o investimento mínimo inicial de uma Letra de Câmbio vai variar muito da corretora e do emissor, mas que, em geral, esses títulos têm aplicação mínima entre R$ 1 mil e R$ 10 mil reais.
Letra Financeira (LF)
Assim como a LC, a Letra Financeira é um título de renda fixa emitido, em geral, por instituições financeiras não bancárias, com a finalidade de captar recursos para se financiarem. Como destaca Corrêa, "a diferença crucial, nesse caso, é que a LF não possui garantia do FGC. Por isso, para ser mais atrativa, ela precisa oferecer uma rentabilidade maior. Então, tipicamente, as Letras Financeiras costumam apresentar um retorno maior do que as Letras de Câmbio e os CDBs, por exemplo".
O líder da área de produtos da Speed Invest ainda complementa ao dizer que, "por não ter a garantia do FGC, elas têm o risco do emissor ter problemas de fluxo de caixa e não conseguir remunerar o investidor. Ou seja, em momentos de instabilidade e risco de insolvência (crise de crédito e inadimplência), o investidor pode ter o problema de não receber o dinheiro da cooperativa de crédito".
Outras características marcantes da Letra Financeira são o valor mínimo inicial para aplicação e o prazo. A explicação para este produto se destoar dos outros títulos de renda fixa é simples: o investimento mínimo de uma LF é de R$ 150 mil, no caso da não subordinada, e de R$ 300 mil a subordinada. Mas, afinal, o que isso significa?
De acordo com Fábio Macedo, "nas Letras Financeiras subordinadas, os detentores têm direito de crédito condicionado ao pagamento de outras dívidas da instituição, em caso de falência ou inadimplência". Isto é, se a entidade quebrar, uma LF subordinada tem preferência na fila para receber os recursos.
Por este motivo, ainda segundo Macedo, as LFs acabam sendo mais destinadas aos investidores de alta renda e com perfil de rendimento maior. E, como lembra Camila, "investidores menores, por exemplo, ficam limitados ao acesso a esse tipo de investimento".
Além de possuir um valor mínimo inicial para aplicação alto, a Letra Financeira tem o prazo de vencimento superior a dois anos. Ou seja, o investidor não pode solicitar o resgate do dinheiro investido antes de completar este tempo.
Segundo Corrêa, apesar da LF fazer parte da categoria de renda fixa, ela não é um produto de investimento que se encaixa no portfólio de qualquer perfil. "Investidores ultraconservadores não deveriam se sujeitar ao risco das Letras Financeiras. Geralmente, a pessoa que investe neste ativo não quer se expor em renda variável, mas aceita o risco do emissor, por exemplo", aconselha.
Recibos de Depósito Bancário (RDB)
Da mesma forma como acontece com os CDBs, ao investir em um RDB, você empresta o dinheiro para a instituição financeira e, em troca, recebe um valor acrescido de juros. Mas, no que diz respeito ao tipo de emissor, os RDBs podem ser lançados pelos bancos e pelas financeiras, como as sociedades e cooperativas de crédito, enquanto que os CDBs são emitidos apenas pelas instituições bancárias.
De acordo com Camila, outra diferença básica entre esses dois produtos da renda fixa é a questão da liquidez. "Os RDBs não permitem resgate antes do vencimento, ou seja, eles não têm liquidez diária, diferentemente dos CDBs", afirma.
A coordenadora de análises de renda fixa da XP ainda complementa ao dizer que "os RDBs também não têm mercado secundário. Isto é, os papéis não podem ser negociados entre os investidores. E, além disso, eles são intransferíveis, então, ao investir neste ativo, você casa com o papel. Isso acaba gerando um risco de prazo, porque o investidor não pode fazer nada antes do vencimento", conclui.
Segundo Corrêa, como o RDB não tem a possibilidade de resgate antes do vencimento, ele acaba tendo uma desvantagem, se for comparar com o CDB. "Então, para compensar, os RDBs costumam ser um pouco mais rentáveis que os CDBs. Mas, vale lembrar que estamos falando de uma situação de juros tão baixa, que a diferença acaba sendo pequena".
No que diz respeito ao investimento inicial, o diretor comercial da Easynvest, Fábio Macedo, destaca que, diferentemente das LFs, é possível encontrar opções de RDBs com aplicação mínima a partir de R$ 100. Além dessa vantagem, este produto ainda conta com a garantia do FGC.
Mas, apesar do valor acessível e da segurança do Fundo Garantidor de Créditos, o líder da área de produtos da Speed Invest sugere que "o investidor que não tem certeza sobre a disponibilidade de recursos ao longo do tempo, ou então que ainda não tem uma reserva bem constituída, não deveria investir em um RDB por conta da falta de liquidez do produto".
Recibo de Depósito Cooperativo (RDC)
Dentre as opções de investimentos de renda fixa mencionadas até agora, pode-se dizer que o RDC é o ativo menos conhecido desta categoria. De acordo com Corrêa, "ele é uma alternativa que foi construída nos moldes do RDB e do CDB, mas a diferença é que os RDCs 'rodam', exclusivamente, dentro do ambiente das cooperativas de crédito".
Além disso, o líder da área de produtos da Speed Invest diz que, "assim como o CDB, o Recibo de Depósito Cooperativo (RDC) possui liquidez diária, ou seja, ele permite o resgate parcial ou total do recurso antes do vencimento. Tal modalidade se difere do RDB, por exemplo, que é um produto mais engessado nesse sentido". As possibilidades de remuneração do RDC também são as mesmas do CDB: a taxa pode ser pré ou pós-fixada - atrelada a um indexador, como o CDI.
Outra vantagem do RDC é a garantia de um fundo garantidor próprio de cooperativas, chamado de FGCoop. Trata-se de uma mecanismo de proteção nos mesmos moldes do tradicional FGC (cobertura de até R$ 250 mil por CPF e CNPJ), com diferença apenas no tipo de emissor.
No entanto, no que diz respeito ao acesso a este tipo de ativo, Camila lembra que "o RDC só pode ser feito por associados das cooperativas, então é um investimento que não pode ser adquirido por qualquer pessoa".
Ainda assim, como têm cooperativas que disponibilizam RDCs com aporte inicial mínimo a partir de R$ 100, e que, além disso, é um produto com opção de liquidez diária, Corrêa acredita que esta alternativa de investimento pode ser uma boa opção para o investidor com perfil conservador.
"Se pensarmos que o RDC permite o resgate antes do prazo determinado, ele é voltado para aquela pessoa que pode, eventualmente, precisar do dinheiro. Então, se a liquidez ainda não é uma questão clara para ela, é melhor pegar um RDC que permite o resgate antecipado do que um RDB, por exemplo", conclui.
Imposto de renda e IOF
Apesar das aplicações em títulos de renda fixa, na maioria das vezes, apresentarem um custo baixo, as opções de investimento mencionadas acima são tributadas pelo imposto de renda regressivo. Confira, na tabela abaixo, como funciona a cobrança das alíquotas sobre o lucro:
Fonte: Valor Investe (30/10/2020)
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