Para grupos investidores, vale até blefe de pôquer profissional para se saírem vitoriosos na venda dos ativos da companhia
Com as cartas colocadas na mesa, o verdadeiro jogo que terá como prêmio os ativos da operadora Oi ainda reserva surpresas. Há investidores encarando os leilões previstos para serem realizados entre este mês e o primeiro trimestre de 2021 como um jogo de pôquer profissional, com direito a blefe e ofertas defensivas.
Com uma estratégia desse tipo, um grupo que pretende comprar apenas uma das unidades produtivas isoladas da Oi (UPIs), por exemplo, deve ficar de olho no seu oponente, mesmo que este não tenha demonstrado inicialmente interesse no mesmo ativo. A dúvida é se, durante o leilão, o oponente vai fazer uma oferta cruzada, dificultando o jogo. Para se blindar, o grupo poderá fazer uma proposta defensiva pelo ativo pretendido por seu oponente. Ou seja, um pode tentar azedar a oferta do outro.
O movimento tem que ser bem pensado, diz uma fonte, para não alertar o rival na disputa e acabar “recebendo o troco”.
Outro investidor disse temer que algum participante do leilão entre para fazer “especulação financeira”. Ou seja, comprar o ativo e depois de poucos anos revendê-lo, eliminando da jogada quem quer se manter no negócio.
Um lance desse tipo pode até ser pensado para os ativos menos onerosos, como centros de dados, TV paga via satélite e torres móveis. Mas para a rede de fibra óptica e telefonia móvel, o jogo é mais pesado.
A unidade de telefonia móvel da Oi recebeu oferta vinculante de R$ 16,5 bilhões de um trio de empresas que já mostrou que entrou no jogo para ganhar. Telefônica Brasil, dona da Vivo; TIM Brasil e Claro, do grupo América Móvil, na primeira fase de disputa por esse ativo passaram à frente da Highline, da Digital Colony, e se tornaram proponentes preferenciais. No dia do leilão, quem quiser desafiar o robusto trio terá que dar um lance maior. As teles ainda terão a chance de cobrir o valor.
As três operadoras já passaram também pelo crivo dos credores da Oi, quando eles aprovaram em assembleia geral, realizada em setembro, o aditivo ao plano de recuperação judicial da companhia.
Em dezembro, a unidade de telefonia móvel vai a leilão. Se vencer mais essa etapa, as teles terão de enfrentar ainda a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
As três empresas negociaram “exaustivamente” para chegar a um ponto que consideram razoável para cada uma delas sobre o fatiamento da Oi. Segundo uma fonte que acompanha o processo, a oferta foi milimetricamente pensada para haver uma distribuição equilibrada dos ativos, evitando a concentração de mercado por qualquer uma delas e minimizando o emprego de “remédios” - os atenuantes que os órgãos reguladores poderão aplicar para garantir que haja competição.
O aumento do poder de mercado da Vivo, Claro e TIM, se levarem parte da Oi, terá grave impacto sobre as prestadoras de pequeno porte (PPPs) e as chamadas operadoras competitivas, além de contribuir para a redução de investimentos e da qualidade de serviços, com alta de preços aos consumidores. Essa é a principal conclusão do trabalho entregue por João Moura, em nome de cinco entidades que representam essas empresas, ao presidente do comitê de PPPs na Anatel, Emmanoel Campelo.
Tudo isso poderá ser levado em consideração pela agência reguladora, caso as três teles acabem de fato fechando a aquisição. No fatiamento da Oi, cada tele vai incorporar uma parte ao seu negócio. Assim, a ideia é que terão sinergia que justifique a oferta elevada pelo ativo.
A Oi teve resultado negativo nos últimos trimestres, de perda de receita e rentabilidade. No acumulado de janeiro a junho, o prejuízo ficou em torno de R$ 9,7 bilhões comparado à perda de R$ 1,03 bilhão em igual período de 2019. Desde 2018, a receita vem caindo a cada trimestre. Nos primeiros seis meses de 2020, a receita líquida foi de R$ 9,15 bilhões, 8,8% menor que um ano antes.
A expectativa das teles é que cada uma use os próprios recursos, infraestrutura, canais de venda e pós-venda para recuperar os clientes que receberão da Oi caso vençam o certame. Os assinantes não são obrigados a seguir a venda da carteira, mas as teles estão confiantes de que conseguirão mantê-los.
O diretor-presidente da Oi, Rodrigo Abreu, já tem ofertas que totalizam R$ 17,89 bilhões. O processo que ele vem liderando para recuperação da companhia tem se mostrado eficiente após a companhia ter sido tão prejudicada, segundo investidores.
A Oi precisa levantar recursos para arcar com obrigações com credores e projetos de investimento. Para a Anatel, que há três anos chegou a ameaçar com uma intervenção na Oi, a venda dos ativos é positiva e abre a possibilidade de resolver um problema sério no setor.
Como disse uma fonte, o Brasil requer muito investimento e a digitalização dos serviços precisa de muita infraestrutura. A divisão de ativos da Oi desata um nó que barra muitos negócios. Até grandes fornecedores estão em compasso de espera e acreditam que as vendas voltarão a crescer quando as cinco unidades de negócios da Oi passarem para novos donos. Mas poucos se arriscam a apostar em quem sairá com uma fatia da empresa, pois não se sabe quem tem uma carta escondida na manga.
Fonte: Valor (13/10/2020)
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