O rendimento do plano CPQDPrev da Sistel foi de 0,68% em setembro, enquanto três em cada quatro fundos de investimentos do mercado tiveram prejuízo no mesmo mês
Levantamento feito pelo Aposentelecom e Valor Investe com o plano CPQDPrev e 1.196 fundos vendidos em plataformas de investimentos mostra que só 294 alegraram seus investidores com rentabilidade positiva no mês de setembro. Em agosto o rendimento desse mesmo plano da Sistel foi de 0,77%, também bem superior a media dos fundos de investimentos.
Em setembro, muitos brasileiros ficaram mais pobres. Por um lado, a inflação acelerou 0,64% no mês, a maior variação de preços para meses de setembro desde 2003. Por outro, uma boa parte dos investimentos deu prejuízo. Com exceção dos títulos de renda fixa atrelados ao CDI (que teve aumento de 0,16% no mês) e ao câmbio (o dólar avançou 2,5% ante o real), o clima foi bem desalentador. O mês foi um dos piores para a bolsa de valores e para a renda fixa, com até títulos públicos conservadores, os Tesouro Selic, dando prejuízo. E, como os fundos de investimentos bebem exatamente dessa fonte – ou melhor, compram esses ativos para compor suas carteiras – a maciça maioria deles também deu más notícias para seus cotistas.
Um levantamento feito pelo economista e blogueiro do Valor Investe Marcelo d’Agosto mostra que nada menos de três em cada quatro fundos de investimentos (75,42%) deram prejuízo em setembro. Em números absolutos, isso significa que dos 1.196 fundos analisados, todos vendidos em plataformas de investimentos, apenas 294 deram alegrias aos cotistas no mês passado.
Ao avaliar o rendimento de todos esses fundos é possível ver que, em média, eles caíram 2,14%. Quando tirados da conta os extremos – quem foi muito bem ou muito mal, chegamos, mesmo assim, a uma mediana de -1,35%. Ou seja, o ‘prejú’ foi generalizado mesmo.
“Em setembro não houve um porto seguro para os investidores em fundos de investimento. Nem mesmo os tradicionais fundos DI conseguiram escapar do prejuízo”, diz d’Agosto.
Ainda de acordo com a pesquisa, das 19 categorias de fundos analisadas, apenas quatro tiveram rentabilidade positiva em setembro: crédito privado com até 15 dias para resgate; crédito privado acima de 16 dias para resgate; debênture incentivada e cambial. E foram esses últimos – os que investem em moedas, em especial dólar – que se saíram melhor entre todos, com rentabilidade positiva de 2,57% no mês passado.
Em relação à média de retorno de todos os fundos analisados (-2,14%), 12 das 19 categorias performaram acima da média geral. Entre os que se deram pior estão os fundos das categorias ações (-4,78%), ações exterior (-4,58%), ouro sem risco cambial (-4,66) e long biased (-4,08%).
“Os ativos de risco de uma forma geral, tanto no Brasil quanto no exterior, tiveram desvalorização no mês passado, reflexo das incertezas locais e mundiais”, comenta d’Agosto.
Um mês para ser esquecido
Categoria de fundos de investimentos | Média de rentabilidade dos fundos em setembro (Em %) |
Todas os fundos | -2,14 |
Renda Fixa DI | -0,03 |
Renda Fixa Ativo | -0,31 |
Juro Real | -0,89 |
Crédito Privado com até 15 dias para resgate | 0,24 |
Crédito Privado acima de 16 dias para resgate | 0,37 |
Debênture Incentivada | 0,10 |
Multimercado baixa Volatilidade | -0,16 |
Multimercado | -1,24 |
Long Short | -1,03 |
Long Biased | -4,08 |
Ações | -4,78 |
Ações Exterior | -4,58 |
Investimento Exterior | -0,23 |
Fundos de fundos Multimercado | -1,46 |
Fundos de fundos de Ações | -4,03 |
Cambial | 2,57 |
Ouro com risco cambial | -2,14 |
Ouro sem risco cambial | -4,66 |
Criptomoedas | -2,35 |
O que aconteceu
A sangria vista em setembro se deu por uma série de motivos e a equipe de gestão da Dahlia Capital resumiu bem em sua carta de setembro:
“Setembro foi mais um mês ainda volátil para os ativos de risco. O Ibovespa caiu 4,8%, seguindo o desempenho da bolsa americana, que caiu 3,9% (S&P 500). A proximidade das eleições americanas, o risco de uma frustração com a recuperação econômica por uma segunda onda da covid-19 e a deterioração da situação fiscal brasileira contribuíram para esse desempenho”, escreveu o time.
Foi um mês de extremos. Na primeira sessão, dia 1º, a bolsa terminou o pregão acima de 102 mil pontos, com alta de 2,82%. O índice ganhou impulso justamente com a sinalização do governo de que enviaria a reforma administrativa ao Congresso naquela semana. O patamar de 100 mil pontos só durou mais cinco dias. No dia 30, fechou em 94,6 mil pontos. Uma sequência de eventos elevou a aversão ao risco.
De fato, o avanço do vírus, de novo, pela Europa e algumas regiões dos Estados Unidos preocupa o mundo e em especial quem faz previsões econômicas. A expectativa de que poderíamos já ter passado pelo pior e que o PIB (Produto Interno Bruto) mundial poderia cair menos do que o previsto anteriormente está sendo questionada. A instabilidade que uma eleição da presidência da maior potência econômica global também não deve ser subestimada.
“Nos EUA, a falta de consenso entre republicanos e democratas sobre o tamanho do estímulo necessário [para ajudar a economia e salvar as empresas e pessoas], os impasses entre o Congresso e o Executivo e a possibilidade de judicialização dos resultados eleitorais em novembro trazem mais volatilidade para os ativos de risco”, explica a equipe de gestão de recursos da Órama em relatório.
Mas foi o Brasil que surpreendeu, negativamente. Até os títulos considerados mais conservadores do mercado, os do tipo Tesouro Selic (ou LFT) tiveram prejuízo no mês, algo não visto desde 2002, ou seja, há 18 anos! O IMA-S, por exemplo, que mede o comportamento dos títulos que seguem a variação da Selic, fechou o mês com perda de 0,27%. O título com vencimento em 2025 perdeu nada mais nada menos que 0,46% no mês passado.
“A piora na percepção de risco para o país fez com que as LFTs (ou Tesouro Selic), títulos públicos pós-fixados do governo brasileiro, passassem a negociar com deságio (desconto) de preço”, explica em carta aos cotistas Julio Erse, diretor de gestão da Constância Investimentos.
Ele lembra que a atividade econômica do Brasil até mostrou alguns sinais de melhora, com a construção civil e varejo, por exemplo, de volta aos níveis pré-pandemia. Mas, como não dá para contar só com o setor privado, foi do governo que vieram os sinais negativos.
Com tanto dinheiro sendo gasto durante a pandemia – em especial com o pagamento de auxílio emergencial – a intenção do governo de não apenas continuar com a ajuda financeira às famílias, mas de criar um novo programa social para substituir o Bolsa Família pegou mal.
Fonte: Valor Investe e Aposentelecom (13/10/2020)
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