Banco trocou três diretores da Funcef, que administra R$ 80 bilhões. Dois dos novos executivos tomaram posse nesta terça
A Caixa Econômica Federal promoveu uma dança das cadeiras na diretoria da Funcef, fundo de pensão dos funcionários do banco. As mudanças incluem a presidência da instituição: Renato Villela deu lugar a Gilson Costa de Santana. Nos bastidores, fontes afirmam que o episódio têm relação com tentativas de ingerência por parte do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, no fundo.
Além da troca de presidente, foram substituídos os diretores de participações e de investimentos. As alterações na diretoria foram confirmadas nesta terça-feira pela Funcef.
Em nota, a Caixa afirmou que “processos de troca no management são frequentes no mercado”. A decisão do fundo de pensão de não entrar na oferta pública de ações (IPO, na sigla inglês) da Caixa Seguridade, no entanto, teria sido um ponto de atrito entre a direção do fundo e a diretoria do banco.
Nos últimos meses, a operação recebeu especial atenção da diretoria do banco. A Caixa fez uma campanha interna a Caixa fez uma campanha interna para estimular a entrada dos trabalhadores na operação. Entre as medidas, o banco antecipou 30% do salário, parcelados em até dez meses, desde que o dinheiro fosse utilizado na compra de ações, segundo informes que circularam internamente obtidos pelo GLOBO. A operação acabou tendo a adesão de 50 mil funcionários entre ativos e aposentados.
Esta não é a primeira vez que há divergências entre o comando da Funcef e Guimarães. Segundo integrantes da diretoria do fundo, Guimarães já foi acusado de tentar interferir na administração da entidade no ano passado.
Novo presidente, Santana ocupava a vice-presidência de riscos da Caixa. Ele tomou posse nesta terça junto com Almir Alves Junior, que assumirá a diretoria de participações no lugar de Wagner Duduch, que havia assumido em setembro, há oito meses.
Alves Junior acumulava duas diretorias da Caixa Participações — governança e riscos e de participações. Antes, ele foi militar da Marinha por 32 anos, onde se tornou Capitão-de-Mar-e-Guerra.
Samuel Crespi, também com carreira na Caixa, foi indicado para assumir a diretoria de investimentos no lugar de Andrea Videira, que também está no cargo desde setembro. A posse de Crespi aguarda aprovação da Previc, órgão fiscalizador dos fundos de pensão, informou a Funcef.
Fundo administra R$ 80 bilhões
As trocas não foram bem recebidas pelos trabalhadores da Caixa. Os funcionários alegam que a medida se soma a outras ações que vêm sendo implementadas por Guimarães e são consideradas interferência do governo federal na instituição e no fundo de previdência dos trabalhadores.
Terceiro maior fundo de pensão do país, com R$ 80 bilhões em ativos e 135 mil participantes, a Funcef administra a previdência complementar dos funcionários da Caixa. A fundação possui seis diretores, sendo três de indicação da presidência do banco, e três eleitos pelos funcionários. Os demitidos por Guimarães faziam parte do grupo indicado pelo governo.
José Ferreira, presidente eleito do Sindicato dos Bancários no Rio, afirma que corre entre os funcionários a informação sobre o atrito entre Guimarães e a Funcef sobre a entrada no fundo do IPO da Caixa Seguridade.
— Existe um limite de ações de uma mesma empresa que podem ser compradas pela fundação, por questões de segurança, para preservar o fundo. E o corpo técnico da Funcef apontou que não seria possível, do ponto de vista legal, fazer essa operação que o Pedro Guimarães havia ordenado. Ele queria que essa direção indicada pela Caixa enfrentasse os diretores eleitos, inclusive ameaçando a democracia interna da instituição. Mas os diretores preferiram se preservar e se negar a fazer o que Guimarães havia pedido. Diante dessa resistência, ele decidiu trocar o comando — disse Ferreira.
Antes da oferta pública de ações (IPO) da Caixa Seguridade, o Sindicato dos Bancários protocolou denúncias na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) alegando o descumprimento de duas instruções da autarquia: 539 e 400. A primeira prevê que as pessoas habilitadas a atuar como integrantes do sistema de distribuição e os consultores de valores mobiliários não podem recomendar produtos, realizar operações ou prestar serviços sem que verifiquem sua adequação ao perfil do cliente. Já a segunda regula as ofertas públicas.
Presidente da Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sérgio Takemoto afirma que a CVM ainda não se manifestou sobre as denúncias. Segundo ele, na ocasião do IPO, os empregados da Caixa sofreram assédio moral para comprar as ações da Caixa Seguridade e para “empurrar” a aplicação aos clientes do banco, de modo a aumentar o valor dos papéis no mercado.
— Havia metas, e os funcionários eram obrigados a informar diariamente a quantidade de ações que foram vendidas — relata Takemoto, acrescentando que cerca de 50 mil empregados ativos e aposentados do banco compraram as ações da Caixa Seguridade. — Isso demonstra o grau de assédio, porque não é normal quase metade de funcionários assalariados investirem em ações e de uma mesma empresa.
Procurada, a CVM informou que não comenta casos específicos.
Fonte: O Globo (18/05/2021)
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