Um raio-X do mercado brasileiro de banda larga, com as mudanças no cenário competitivo, um resumo da estratégia dos principais players e uma entrevista com Hugo Ramos, CTO para a América Latina da Commscope, uma das principais empresas de tecnologia para banda larga, que analisa o futuro do DOCSOS e o cenário competitivo com as redes de acesso em fibra.
Maio tem sido um mês especialmente relevante para que a gente possa entender, com exemplos bastante concretos, o que está acontecendo no mercado de banda larga fixa no Brasil.
Tivemos a publicação de diversos balanços de operadoras, pelo menos uma grande operação de consolidação, a Anatel publicou o estudo anual sobre o mercado de banda larga em 2020, um grande banco trouxe uma importante análise sobre o mercado competitivo e vimos avançar algumas estratégias dos pequenos e médios operadores em direção ao amadurecimento e fortalecimento financeiro destas empresas.
Nesse episódio trazemos uma análise destes fatos, e fechamos com uma entrevista com a Commscope, uma das principais empresas fornecedoras de equipamentos para redes de banda larga, para entender como está a dinâmica competitiva entre as duas principais tecnologias de banda larga fixa no mercado brasileiro: cabo e fibra ótica.
Vamos começar trazendo alguns números gerais.
O mercado brasileiro de banda larga tem hoje 36,3 milhões de acessos banda larga fixa registrados. Esse número representa o dado oficial da Anatel, mas ele possivelmente é maior porque boa parte das pequenas empresas que operam o serviço nos diferentes municípios opta por não registrar as suas informações na base de dados da agência.
De qualquer maneira, o mercado de banda larga tem uma tendência de crescimento permanente, e aos poucos as operadoras competitivas ganham participação. Hoje, pequenos e médios provedores regionais representam 39% do mercado em relação ao total de acessos. Essas empresas competitivas, também chamadas de ISPs, têm um pouco mais de 14 milhões de clientes segundo os dados reportados para a Anatel. As grandes operadoras: Oi, Vivo, Claro e TIM, têm 22,2 milhões de clientes.
Mas quando a gente começa a olhar regionalmente e localmente é que a gente percebe a mudança que estes pequenos e médios provedores estão causando no mercado.
Segundo o mais recente levantamento sobre banda larga fixa realizado pela Anatel, em nada menos do que 19 estados a liderança na oferta de banda larga pertence a um operador local. Estas empresas lideram a competição em 3.467 cidades.
Hoje, são poucos os municípios brasileiros em que não existe competição. Em quase 4.900 cidades existem mais de 4 prestadores de serviço de banda larga.
Outro efeito importante dos pequenos provedores é que eles ajudaram a impulsionar o acesso por fibra ótica. As operadoras de pequeno porte representam 11,3 milhões de acessos em fibra, ou pouco mais de 60% do total de 18,6 milhões de lares conectados por fibra ótica.
Motivadas por este crescimento, os operadores competitivos entraram no radar de grupos maiores e de investidores.
Na última semana, a Algar adquiriu por R$ 600 milhões a operadora Vogel, que tinha mais de 20 mil km de redes de fibra voltadas ao segmento corporativo e para a oferta no atacado. A Unifique, outro provedor competitivo com presença já relevante, iniciou o processo de capitalização em bolsa. E a Brisanet, hoje a maior operadora de banda larga entre os novos entrantes, com mais de meio milhão de clientes atuando apenas em cidades do interior do Nordeste, anunciou o lançamento de debêntures no valor de R$ 500 milhões
Não por acaso, as grandes operadoras, nos últimos três anos, têm intensificado o ritmo de instalação de novas redes de fibra.
Vamos olhar o caso da Vivo. A operadora tem quase 60% de seus clientes conectados por fibra. Em 2020 a base de acessos por fibra superou finalmente os acessos por xDSL, que ra a tecnologia legada. E em 2021, depois de 2 anos perdendo mais base do que ganhava, a operadora finalmente volta a apresentar um leve crescimento em banda larga fixa. Hoje a Vivo tem um pouco menos de 6,4 milhões de clientes.
A Oi vai no mesmo caminho. A empresa está em processo de recuperação e venda de ativos. E a ampliação da base de acessos banda larga por fibra tem sido a prioridade dos últimos dois anos. No início de 2021 a Oi passou a ter mais clientes conectados por fibra do que por redes xDSL, e hoje 54% da base de 5,1 milhões de assinantes da empresa já estão conectados por fibra ótica, e este mês a empresa ainda anunciou a entrada no mercado de São Paulo, o que pode acelerar ainda mais a sua expansão.
O ritmo da Oi é intenso, e em 2020 ela tem sido a operadora a ganhar mais assinantes em fibra. É uma estratégia agressiva, que tem queimado caixa da Oi, mas que deve durar até o ano que vem, pelo menos.
Tanto a Vivo quanto a Oi, e também a TIM, decidiram que seria estrategicamente importante separar as suas respectivas unidades de infraestrutura de fibra. Enquanto a Oi está em processo de venda da sua empresa, a InfraCo, para o BTG numa operação avaliada em mais de R$ 20 bilhões, e que gerenciará uma rede de mais de 400 mil km.
A Vivo criou a unidade Fibrasil em parceria e igualdade de participação com o fundo canadense CDPQ. É a Fibrasil que vai gerenciar a expansão de sua rede em troca da garantia de contratação por parte da Vivo.
A TIM também adotou um modelo de rede aberta, segregou seus ativos de rede e fechou com o fundo IHS. A operação, concluída no começo de maio, deu ao fundo 51% da operação avaliada em R$ 2,6 bilhões. A empresa, chamada FiberCo, vai cuidar da construção das redes de acesso e terá um contrato de exclusividade recíproca com a TIM por pelo menos 6 meses.
Mas a grande incógnita é a estratégia de banda larga da Claro. A operadora é de longe a principal empresa nesse mercado, com 9,8 milhões de clientes. A Claro se beneficiou durante anos do fato de ter uma tecnologia robusta para os serviços de banda larga, o DOCSIS, baseada nas redes de fibra e cabos coaxiais desenvolvidos para o serviço de TV a cabo.
Ao longo dos últimos 15 anos, esta foi a tecnologia que entregava o melhor desempenho pelo melhor custo. E a Claro ainda se beneficiou de uma agressiva estratégia de empacotamento, vendendo os combos de TV por assinatura, telefonia, celular e banda larga fixa.
Mesmo nos últimos anos, em que o mercado de TV paga perdeu mais de 5 milhões de clientes, muitos deles da Claro, a operadora manteve sua posição no segmento de banda larga firme e inalterada.
Nos últimos seis meses, a Claro tem mostrado estabilidade, sem crescer, mas sem perder clientes de maneira significativa. A empresa cresceu um pouco seus acessos em fibra, que hoje chegam a cerca de 500 mil clientes, mas ainda não parece haver uma guinada tecnológica, e tudo indica que o DOCSIS seguirá como a opção da Claro por um bom tempo ainda.
Ao contrário dos pequenos e médios provedores, as redes de fibra da Oi e da Vivo e as redes HFC da Claro estão concentradas naquelas cidades com maior atratividade econômica.
Com isso, a competição entre elas fica mais intensa, tanto que quando a Oi anunciou a sua entrada em São Paulo com planos de 500 Mbps, a Claro imediatamente reduziu os preços para os mesmos patamares e ampliou as velocidades mínimas de seus clientes.
Esta semana, os analistas do BTG emitiram um relatório colocando em questão a capacidade competitiva da Claro com a tecnologia de cabo frente à oferta de fibra. De fato, o DOCSIS tem a característica de ser uma tecnologia assimétrica, ou seja, o downstream e o upstream não têm a mesma capacidade. Outra questão é que para oferecer mais capacidade e velocidades mais altas, a Claro precisa permanentemente melhorar a sua rede, alocando mais capacidade para o serviço de dados e menos espaço para os canais de TV paga.
Conversamos sobre isso com Hugo Ramos, CTO da Commscope para a América Latina. A Commscope é uma das principais empresas de tecnologia no mercado de banda larga residencial, e tem uma presença forte tanto com equipamentos para redes HFC quanto para redes de fibra, ou GPON.
Ele nos contou que a tecnologia DOCSIS ainda tem um caminho longo de evolução e não deve deixar de ser competitiva com a fibra tão cedo.
Também disse que as redes na região estão sim preparadas para esta evolução, e mesmo a questão do tráfego assimétrico não é um problema, pois por mais que as pessoas estejam usando mais e mais a rede para subir conteúdos, elas também estão fazendo mais download. Na conta final, a proporção entre downstream e upstream nas redes de banda larga.
Fonte: TeleTime (16/05/2021)
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