Levantamento mostra que, nos últimos meses, houve um aumento de 5% no número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus já imunizadas e com mais de 60 anos. Porém, a quantidade de internações e de óbitos entre esse grupo diminuiu
A vacinação contra a covid-19 trouxe um alívio para boa parte da população, principalmente entre os idosos que, no início da pandemia, representavam a maioria das internações e mortes por complicações do novo coronavírus. No entanto, apesar da imunização, houve um crescimento expressivo de infectados com mais de 60 anos. O pesquisador e professor Breno Adaid, do Centro Universitário Iesb, fez uma análise das informações divulgadas pela Secretaria de Saúde. De acordo com ele, nos últimos meses, houve um aumento de 5% na porcentagem de idosos com o vírus no Distrito Federal. Um levantamento feito por Adaid mostra que, em novembro, do total de pessoas contaminadas, 10,8% eram idosos. Em maio, esse quantitativo passou para 15,8%.
Em contrapartida, a quantidade de internações e mortes entre o grupo com 60 anos ou mais diminuiu — o que demonstra a eficácia da vacina na prevenção dos casos graves da doença. “Os dados indicam que quem vacinou não está se cuidando. As pessoas estão confiantes de que estão imunes ao vírus e ignoram o fato da possibilidade de pegar e transmitir a covid-19. Antes, havia um medo, uma preocupação em relação à gravidade da doença. Agora, com a imunização, houve um relaxamento das medidas de prevenção, e os idosos estão se contaminando mais. Porém, como a vacina funciona, estão se internando menos e morrendo menos”, analisa o doutor em administração e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento.
Segundo levantamento feito por Adaid, em novembro de 2020, 80% dos óbitos registrados no Distrito Federal eram de pessoas acima dos 60 anos. A faixa etária entre 0 a 59 anos representava 20%. Entre fevereiro e março deste ano, houve uma mudança de cenário, com a queda de mortes entre os idosos e o aumento de pessoas mais jovens morrendo por complicações do vírus. Em abril, 60% do total de óbitos registrados eram de pessoas acima dos 60 anos.
Para a infectologista Ana Helena Germóglio, esse cenário reforça a utilização da vacina como um protetor da forma grave da doença. “A gente vê essa mudança após a segunda semana da 2ª dose, quando se tem uma maior resposta imunológica do indivíduo com a vacina. É de se esperar que, a partir de agora, se tenha — progressivamente — essa redução não só em idosos, mas nas faixas etárias seguintes e depois nas pessoas com comorbidades. Isso mostra que, realmente, a vacina é eficaz, segura e necessária para que a gente consiga combater a pandemia”, ressalta a especialista. Porém, ela alerta: “É importante frisar que a vacina foi desenvolvida para evitar os casos graves da doença. Se as pessoas não seguirem as medidas de prevenção, a circulação viral vai continuar. Mesmo os vacinados precisam se proteger, até porque eles podem ter formas leves da doença e continuar perpetuando o ciclo da covid-19”, pontua.
Conscientização
O epidemiologista e professor de epidemiologia da UnB Walter Ramalho reforça a fala da Ana Helena. “A vacinação é um ótimo recurso para combater a pandemia. Estamos vendo na prática o efeito dela, mas é preciso uma conscientização de todos, pois, mesmo vacinado, esse grupo pode transmitir o vírus e ter casos leves e também graves. Nada impede o agravamento do vírus em quem está imunizado”, afirma Walter. “É preciso manter os mesmos cuidados de antes, com o distanciamento social, uso de máscara, evitar aglomeração. Muita gente ainda não foi vacinada, e a circulação do vírus está alta”, reforça o epidemiologista.
Palavra de especialista
Cuidados pós-vacinação
Quando se observa um aumento de casos entre a população idosa, na faixa etária do grupo imunizado, é preciso se atentar a alguns fatores. A alta pode ser um reflexo no aumento de testagem deste grupo, por exemplo. Ou se trata do comportamento delas. Como foram vacinadas, equivocadamente, estão encarando que estão liberadas para sair. Há uma falsa sensação de que a vacina acabou com o problema. A vacina é excelente, mas não resolve a pandemia desse jeito, só ajuda no controle da pandemia. É como se você tivesse com uma máscara melhor. O que está ocorrendo no Brasil está tudo errado. É necessária uma campanha de comunicação do governo para orientar a população sobre os cuidados que se deve ter depois da vacinação. Tem de continuar com o uso da máscara o tempo inteiro, manter o distanciamento. Quando receber visita em casa, evitar ficar sem máscara. Felizmente, os idosos estão protegidos da forma grave, mas ainda podem ter a infecção. E outro ponto importante: é preciso utilizar máscara de boa qualidade. No momento atual, quando há uma maior circulação do vírus da covid-19, a máscara de pano sozinha não protege. O recomendado é que se utilize uma máscara cirúrgica por baixo da de pano, principalmente em ambientes fechados ou de maior circulação de pessoas. As máscaras N95 e PFF2 também são recomendas e protegem bem.
José David Urbaez, diretor científico da Sociedade de Infectologia do DF e infectologista do Laboratório Exame
Fonte: Correio Braziliense (18/05/2021)
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