quarta-feira, 13 de abril de 2022

TIC: Redes neutras de fibra iniciam corrida por clientes

  


Perspectiva é que negócio evolua mais do que MVNOs (
mobile virtual network operator), porque no novo modelo empresas podem usar infraestrutura de diversas operadoras

Lançadas no ano passado, as redes neutras para conexão de banda larga começam a amadurecer novos modelos de negócios para provedores de acesso à internet e investidores. Oi, TIM Brasil e Telefônica, dona da Vivo, separaram suas redes e fazem uma corrida pelos clientes no mercado de atacado. Provedores de menor porte também estão na disputa.  

Os modelos flexíveis de negócios prometem economia com infraestrutura e aluguel de postes. Na FiBrasil, diversos tipos de contratos estão em fase de assinatura para que os clientes passem a operar seus serviços na rede a partir do terceiro trimestre, disse André Kriger, diretor-presidente da empresa. Por enquanto, só a Vivo trafega, como cliente-âncora, tendo desembolsado R$ 55 milhões em 2021 pelo serviço.  

A FiBrasil foi constituída pela Telefônica Brasil, a empresa global Telefónica Infra e o fundo de investimentos canadense CDPQ, e lançada em julho do ano passado.  

Para viabilizar as operações, a Open Labs e a Accenture desenvolvem os softwares que permitirão aos novos clientes usar a rede da FiBrasil. Como antes tratava-se de uma infraestrutura proprietária da Vivo, os sistemas foram criados para seu uso exclusivo. Agora, sob a FiBrasil, é preciso capacitar os sistemas para que tenham neutralidade e atendam a outros provedores.  

“Teremos o sistema pronto e a independência da Vivo até julho ou agosto, o gargalo é a integração”, disse Kriger. Os clientes também estão preparando seus softwares para que possam interagir com a nova rede.  

Segundo Kriger, nas negociações de contratos aparecem investidores, empreendedores e prestadores com diversos objetivos. Alguns querem separar a infraestrutura dos clientes; outros querem só atender clientes, sem permanecer com a rede; outros não têm e não pretendem possuir rede; e há os que querem só transportar os dados do backbone (rede de transporte) para a internet, enfim, diversos modelos de negócios.   

“Muitos provedores podem expandir com nossa rede neutra”, disse Kriger. Nesse caso, esses prestadores mantêm a infraestrutura original e entram em outras áreas usando redes neutras.  

A FiBrasil também olha as redes de provedores como uma oportunidade nas novas regiões onde está entrando. Se o negócio for bem estruturado, a FiBrasil pode fazer uma proposta de compra, para não criar sobreposição de infraestrutura.  

“A FiBrasil pode ser um veículo de consolidação do mercado. Nos ajuda, porque vamos mais rápido naquela região, e o provedor pode vender a rede e ficar com os clientes, atendendo na nossa rede.”  

Um dos grandes custos na operação hoje é a rede, disse Eduardo Parajo, vice-presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet). “Tem outro problema associado a isso, o poste, que é finito. O mercado vem procurando alternativas. Vínhamos falando de compartilhamento, mas é um processo cultural e demora um pouco para acontecer”, disse.  

Parajo acrescentou que embora as grandes empresas tenham largado na frente, as pequenas e médias (PMEs) também estão expandindo por meio de infraestrutura neutra. Até há pouco tempo, as PMEs preferiam construir rede a contratar de terceiros, porque o preço do aluguel inviabilizava o negócio. Mas houve um amadurecimento do mercado, afirmou. 

 A exploração de serviços de telecomunicações com base em redes de terceiros existe desde a criação da Anatel, disse Nilo Pasquali, superintendente de planejamento e regulamentação da Agência Nacional de Telecomunicações. A rede neutra é mais um terceiro possível.  

“Entende-se, porém, que com o foco dos modelos de negócios baseados em redes neutras na oferta de elementos de rede para que as prestadoras não precisem duplicar essa infraestrutura, poderá haver a ampliação dessa configuração”, afirmou Pasquali.  

O superintendente lembra que a configuração das redes neutras se assemelha ao modelo de MVNOs - “traz como vantagem a redução de custos, o que pode se refletir em maior facilidade para o surgimento de novas prestadoras, ampliação da competição e redução de preços para os usuários dos serviços”.   

As MVNOs são as operadoras móveis de rede virtual. Lançam seus serviços aos clientes usando as redes de outras operadoras. Mas esse modelo de negócio não evoluiu da forma como a Anatel projetava. As operadoras reclamam dos preços cobrados das donas de rede, dificuldade para fechar contratos, entre outras questões.  

Mas tem uma diferença importante das MVNOs em relação às redes neutras, destacou Parajo, da Abranet. A MVNO só pode contratar a rede de uma operadora, enquanto no caso da fibra óptica é possível contratar tantas redes quantas o interessado quiser. Isso ajudaria a expansão do modelo, o que não ocorre com as MVNOs.  

A FiBrasil chegou ao mercado com 1,4 milhão de casas passadas em 34 cidades. Logo depois, comprou a Fiberty 1, antiga Phoenix Fibra, do fundo Blackstone. Hoje, está presente em 63 cidades e deve fechar o ano com quase 200 e pouco menos de 5 milhões de casas com fibra disponível, disse o executivo da FiBrasil.  

Ainda assim, a FiBrasil fica atrás da V.tal, a rede neutra cindida da Oi e cujo controle foi vendido para GlobeNet e fundos do BTG, negócio que ainda depende de aprovação da Anatel.  

A V.tal, antes chamada de InfraCo, conta com 15 milhões de domicílios com fibra na porta. E só em fibra até a residência (FTTH, na sigla em inglês) são 3,5 milhões de casas conectadas, segundo o diretor comercial Pedro Arakawa. A malha tem 400 mil km de fibra que chega a 2,3 mil cidades. O plano de expansão prevê 32 milhões de casas passadas em 2025.  

Arakawa afirmou que estão em curso mais de duas centenas de negociações com provedores regionais de todo o país. Já foram assinados mais de 20 contratos, inclusive com outras grandes operadoras e provedores como Vero, Datora, Master, SoftX, Voa e EasyTV.   

Nesta semana, a V.tal anunciou acordo com o investidor argentino Gonzalo Fernández Castro, que criou a Obvious Fibra com investidores do Vale do Silício, nos Estados Unidos, e da Europa, principalmente da Suíça. Sem rede própria, a Obvious inicia sua operação pelo Sul, Sudeste e Centro-Oeste, tendo dado a largada pelo Espírito Santo.  

De acordo com o superintendente da Anatel, quando não há o uso de radiofrequências que demandem autorização, caso das redes de fibra, não há necessidade de que a prestadora informe à agência que a rede por ela utilizada decorre de contratos de exploração industrial - o mercado de atacado. No entanto, a prestadora deve apresentar à Anatel o projeto técnico da rede e, quando for o caso, cadastrar as estações.  

A TIM também segregou sua infraestrutura de fibra e vendeu o controle para a IHS Brasil em novembro, retendo 49% do capital da nova empresa. A unidade, antes batizada de FiberCo, foi renomeada I-Systems. Começou sua operação com cerca de 15 mil kms de fibra em rede secundária. A TIM, cliente-âncora, se reservou o direito de tomar decisões sobre lançamentos e de exclusividade durante seis meses para uso da rede em novas áreas.  

Nesse acordo, a TIM afirmou que contribui com 6,4 milhões de casas passadas, sendo praticamente metade FTTH e metade FTTC, que é a fibra até próximo ao cliente. São 700 mil domicílios conectados. O plano para os próximos quatro anos é alcançar 8,9 milhões de residências com fibra disponível.  

A TIM encerrou o ano passado com sua fibra em 1.231 cidades. Procurada pelo Valor, a IHS não quis comentar o assunto.  

Enquanto avaliam se abrem mão da infraestrutura própria para se concentrar nos clientes, os provedores ficam “com um pé atrás”, receosos de que o dono da rede mude de ideia e decida competir pelo cliente. Para esses provedores, é fundamental estabelecer que a rede neutra não pode mudar seu objetivo e querer estar “dos dois lados do balcão” - atender o mercado de atacado e cliente final.   

Quem está no negócio diz que é preciso ter confiança no processo, credibilidade, isonomia e transparência, e isso demora um pouco.

Fonte: Valor (11/04/2022)

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