terça-feira, 26 de setembro de 2023

Comportamento: As 10 dicas do médico oncologista Fernando Maluf para prevenir o Câncer (dos exames ao controle do estresse)



Veja as dicas do oncologista sobre as principais atitudes que reduzem o risco de câncer

O câncer é responsável hoje por cerca de 10 milhões de mortes no mundo a cada ano, número inferior apenas ao total de óbitos resultantes de doenças cardiovasculares. A ciência tem avançado no desenvolvimento de novos medicamentos que buscam reduzir esse impacto. No entanto, existe uma série de mudanças de hábitos sabidamente capazes de diminuir a chance de os tumores surgirem em primeiro lugar, além de melhorarem a qualidade de vida dos pacientes.

Por isso, a convite do GLOBO, oncologista Fernando Maluf, diretor associado do Centro de Oncologia da Beneficência Portuguesa e membro do comitê gestor do Hospital Israelita Albert Einstein, ambos em São Paulo, e fundador do Instituto Vencer o Câncer, fala sobre 10 maneiras de se viver mais e melhor dentro de sua especialidade, prevenindo o câncer ou tendo uma melhor resposta ao tratamento.

CONTROLE A OBESIDADE

A obesidade é um fator de risco muito importante para câncer. Sabemos que a obesidade e o sobrepeso, hoje, são epidêmicos no mundo. Nos países desenvolvidos, atingem de 60% a 70% da população. No Brasil, nos últimos 40 anos, houve um aumento de mais de 10 vezes no número de crianças obesas — e a cada cinco crianças obesas, quatro mantêm o quadro durante a vida adulta.

A obesidade é associada a vários tipos de câncer: colorretal, de esôfago, gástrico, de vesícula biliar, de pâncreas, de fígado, de rim, de mama, de endométrio, de tireoide, de ovário, de próstata. Nos Estados Unidos, estima-se que seja responsável por cerca de 14% das mortes oncológicas entre homens, e de 20% entre as mulheres.

Assim, vemos o impacto da perda de peso como prevenção. Destaco um estudo muito importante que envolveu mais de 4 mil pacientes obesos, que fizeram cirurgia bariátrica. Os resultados mostraram uma redução do risco de câncer de 40%.

Mas quais são os fatores que fazem com que o peso seja um risco? São vários, porém podemos destacar que ele aumenta a resistência à insulina e à glicemia, também aumenta os hormônios como o estrógeno, o que é um fator de risco para câncer de mama e câncer ginecológico. Eleva níveis de leptina e adiponectina, que são conhecidas como substâncias promotoras de câncer. Além disso, a obesidade causa um ambiente inflamatório no organismo, um estimulante para câncer devido a fatores como o estresse oxidativo e a diminuição da imunidade. Por último, ela muda a microbiota intestinal, o que é relacionado ao desenvolvimento de tumores.

DEIXE DE FUMAR

Dependendo do país, o tabagismo é o primeiro ou o segundo fator de risco mais importante para o câncer. O cigarro é responsável por quase metade das mortes dos doze tipos mais comuns de câncer no mundo, de acordo com uma publicação do JAMA Internal Medicine. Nos Estados Unidos, por exemplo, sabemos que das 346 mil mortes anuais atribuídas por câncer em adultos, 48,5% foram associadas ao cigarro como fator causal.

Existem diversos estudos mostrando que o consumo de tabaco em suas diversas formas (não restrito ao cigarro, mas também a cachimbos, charutos, narguilé) é associado a tumores como o câncer de cavidade oral, de orofaringe, de laringe, de pulmão, esôfago, pâncreas, intestino grosso, rim e bexiga.

Isso porque o cigarro tem uma quantidade grande de elementos perigosos. O alcatrão, por exemplo, possui mais de 40 compostos cancerígenos, além do monóxido de carbono. A substância tragada pela boca (a fumaça e todos os seus componentes) passa por toda essa região, entra pelo pulmão e segue no organismo, afetando vários órgãos e sendo excretada pelo rim. Neste caminho, também causa danos ao aparelho digestivo, aumentando o risco de tumores desta região.

Segundo dados da Vigitel 2021, pesquisa do Ministério da Saúde, o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,1%, sendo 11,8% entre homens e 6,7% entre mulheres. Um dado interessante de avaliar é que as curvas de consumo têm mostrado uma tendência de queda entre os homens e um aumento para as mulheres.

TAMBÉM NÃO USE CIGARRO ELETRÔNICO

Um artigo científico bem interessante mostra que as alterações nas células promovidas pelo cigarro convencional e pelo eletrônico são iguais. Como exemplo disso, há um estudo que avaliou, em adultos, entre 2015 e 2018, o uso do dispositivo e o risco de câncer. O trabalho investigou mais de 154 mil pessoas e comparou indivíduos que fumavam com os que não fumavam. Os resultados comprovaram que quem usava os dispositivos tinha um risco aumentado de câncer e de ter a doença em idades mais precoces. E precisamos lembrar que, além das substâncias do cigarro normal, existem outras a mais no cigarro eletrônico, como as que envolvem o sabor e os químicos relacionados ao próprio vapor, como o formaldeído e os metais pesados.

Existe um consenso de que o cigarro eletrônico é tão ruim quanto o cigarro normal, e algumas pesquisas preliminares já indicam que os chamados “vapes” podem ser até piores como fator de risco para câncer.

Um levantamento da consultoria Ipec apontou que cerca de seis milhões de brasileiros adultos fumantes já experimentaram cigarro eletrônico, cuja venda é proibida no país pela Anvisa. Um estudo do Inca também estima que o consumo pode aumentar em cerca de três vezes o risco de a pessoa experimentar um cigarro comum.

PRATIQUE ATIVIDADES FÍSICAS

A atividade física pode ser praticada em várias intensidades, mas os oncologistas indicam a prática por 30 minutos a cada dia, todos os dias. Elas podem variar de uma atividade aeróbica, como andar de bicicleta, natação, corrida com passos rápidos.

Estar ativo diminui o risco de vários tipos de câncer, mas também diminui o risco de morte de quem já tem o diagnóstico. Um estudo apresentado pelo Inca em 2022 mostrou que, para pacientes com câncer de mama, os exercícios melhoram a qualidade de vida e o bem-estar, aumentando as respostas positivas ao tratamento e reduzindo as chances de retorno.

Como a atividade física reduz esses riscos? São vários mecanismos, como pela diminuição dos níveis de hormônios sexuais, como o estrógeno – que aumenta o risco de câncer de mama, por exemplo –, e dos níveis de fatores de crescimento, como os da insulina, também reconhecidos como um fator de oncogênese. A atividade física também melhora o sistema imune, reduz a inflamação do organismo, melhora o metabolismo dos ácidos biliares e, fazendo isso, diminui a exposição dos carcinógenos no intestino.

ESTEJA EM DIA COM OS EXAMES DE RASTREAMENTO

Existem diversos exames que possibilitam diagnosticar precocemente vários tipos de tumores, como a mamografia para o câncer de mama, o papanicolau, para o câncer do colo do útero, o PSA e o toque retal, para o câncer de próstata, a colonoscopia, para o câncer de intestino, a tomografia de tórax para os tabagistas ou ex-tabagistas e o exame clínico para verificar a existência de pintas e manchas suspeitas na pele.

Em grande parte dos tumores diagnosticados no início, graças ao exame de prevenção e rastreamento, a chance de cura é bastante alta. Sobre o câncer de mama, uma notícia importante é que, recentemente, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos (USPSTF) dos Estados Unidos passou a recomendar que todas as mulheres a partir dos 40 anos façam mamografia de rastreamento a cada dois anos. Nos tumores de cólon e de reto, o exame de rastreamento indicado é a colonoscopia, a partir dos 45 anos, que reduz em até 80% o câncer do intestino grosso. Em relação ao de próstata, enquanto a recomendação geral é realizar exames de PSA e toque retal a partir dos 50 anos, para homens negros ou com histórico familiar, a indicação é iniciar a partir dos 45 anos. Os exames ginecológicos, como o papanicolau, também conhecido como citopatológico, devem ser realizados periodicamente após o início da vida sexual. Para câncer de pele, o exame clínico periódico feito por um dermatologista, acompanhado de dermatoscopia, pode ser complementado pela biópsia de uma amostra do tecido suspeito.

ATENTE-SE À POLUIÇÃO COMO FATOR DE RISCO

Estima-se que de cada 10 casos de câncer de pulmão, um seja causado pela poluição do ar. Um artigo da Lancet Oncology avaliou, em sete países da Europa, o papel da poluição no desenvolvimento do tumor. Os pesquisadores perceberam que, em cidades com alto nível de poluição, duas delas com alto fluxo de carros, o risco era claramente maior.

Um artigo recente, apresentado no Congresso Europeu de Oncologia de 2022, mostrou que a poluição tem capacidade de causar mutações nas células normais do pulmão. Uma das mais conhecidas é a EGSR, que pode levar ao tumor de pulmão. Mas, na verdade, o câncer de pulmão é apenas uma parte dessa história: a poluição também está associada a outros tipos de câncer.

CONTROLE O ESTRESSE

Em relação ao estresse, não existe uma obviedade de que ele possa causar câncer, mas são muitas as evidências que sugerem uma relação de modo indireto. O estresse crônico interfere na produção de hormônios, o que pode diminuir a imunidade do indivíduo em relação às células que combatem o câncer.

Por isso, algumas evidências sugerem que o estresse ou doenças psiquiátricas como depressão de longo prazo podem ser sim um fator de risco para câncer e para a maior progressão da doença em pacientes com o diagnóstico.

REAVALIE O CONSUMO DE BEBIDA ALCOÓLICA

O álcool possui uma relação relevante com o câncer, desde o consumo muito pequeno, até o moderado e aumentado. Nos Estados Unidos, dados mostram que pelo menos 3,5% das mortes por câncer foram relacionadas às bebidas alcoólicas. No mundo, um artigo publicado na revista Lancet estimou que, em 2020, mais de 740 mil casos novos de tumores foram atribuídos ao álcool, ou seja, 4%. Destes, 76% foram em homens, e 24%, em mulheres.

Deste total, 189 mil foram de esôfago, 154 mil de fígado, além de 98 mil de câncer de mama. De todos os diagnósticos, 46% eram pessoas que bebiam muito, 39% entre aqueles que bebiam moderadamente e 13% entre os que bebiam levemente. Portanto, mesmo beber pouco já é um fator de risco, ainda que menor.

São vários os tipos de tumores associados. Isso acontece porque o componente do etanol metabolizado se transforma em acetaldeído no corpo, uma substância tóxica que é um carcinógeno. Além disso, o álcool também influencia o processo de estresse oxidativo, causando mudanças no DNA das células tumorais, diminui a absorção de nutrientes provocando um risco aumentado para câncer. Por último, o álcool aumenta o nível de estrógeno e consequentemente eleva o risco de câncer de mama. Vale lembrar que a combinação de álcool e tabagismo é explosiva, principalmente para tumores de cavidade oral, laringe, faringe e esôfago

CUIDE DA SUA ALIMENTAÇÃO

Uma nutrição bem-feita traz benefícios para a saúde global e pode auxiliar a evitar o risco para alguns tipos de câncer. Sabemos que as chamadas dietas inflamatórias, ricas em carboidratos livres (açúcar refinado, doces, pão, farinha, arroz branco, refrigerantes) e em carne vermelha, processados e embutidos, contribuem para o aumento do risco de tumores como os de mama e de cólon.

O ideal é preferir o consumo de mais vegetais, frutas, peixes, grãos, alimentos integrais, orgânicos, ricos em polifenóis, fitoquímicos e nutrientes antioxidantes e anti-inflamatórios. Comer bem não é comer muito. É saber escolher. A composição correta do prato ajuda, também, a evitar outro fator de risco para câncer, sobre o qual já falamos: a obesidade.

GARANTA O SONO NECESSÁRIO

Em relação ao sono, não existem evidências fortes que sugiram que o sono curto possa induzir câncer. Existe apenas um trabalho, que fala sobre câncer colorretal, mas não foi confirmado por outros estudos. Ainda assim, embora não tenha relação específica com o câncer, existem ligações entre um sono ruim com outras doenças, como neurológicas e cardiovasculares. Logo, dormir bem é importante para garantir uma boa saúde, especialmente para aqueles em tratamento oncológico.

Fonte: O Globo (25/09/2023)

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