segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Idosos: Como mudar a mentalidade do idoso sobre o envelhecimento



Além de exercícios e alimentação equilibrada, pesquisas revelam atitudes que refletem diretamente na saúde mental e corporal

Em uma festa na piscina neste verão, Johnnie Cooper subiu no trampolim, executou um mergulho perfeito e depois se juntou a um jogo estridente de Marco Polo. A ocasião? Seu 90º aniversário. “Sempre ansiava por esta idade”, contou a aposentada do Comando de Aviação e Mísseis do Exército dos Estados Unidos:

— Você não tem mais muitas das lutas que teve. Há muito mais paz — acredita Johnnie.

Seu entusiasmo em envelhecer pode ser parte do motivo pelo qual ela viveu uma vida tão longa. Embora a experiência de cada pessoa com o envelhecimento seja diferente, os especialistas descobrem cada vez mais que ter uma mentalidade positiva está associado a envelhecer bem.

Um estudo de décadas, com 660 pessoas, publicado em 2002 mostrou que aqueles com crenças positivas sobre o envelhecimento viveram sete anos e meio a mais do que aqueles que tinham sentimentos negativos sobre isso. Desde então, pesquisas descobriram que uma atitude positiva em relação ao envelhecimento está associada a uma pressão arterial mais baixa, a uma vida geralmente mais longa e saudável e a um risco reduzido de desenvolver demência. A investigação também mostra que as pessoas com uma perceção mais positiva do envelhecimento são mais propensas a tomar medidas preventivas de saúde – como praticar exercício físico – o que, por sua vez, pode ajudá-las a viver mais tempo.

Você não pode parar o passar dos anos e o tempo, mas não precisa temê-lo. Aqui estão algumas maneiras de ajudar a mudar seu pensamento.

Observe de onde vêm suas crenças de idade

Do vizinho excêntrico ao sem noção, os estereótipos negativos do envelhecimento estão por toda parte. Assumir crenças negativas sobre o envelhecimento pode afetar a nossa visão do processo – e a nossa saúde, alerta Becca Levy, professora de epidemiologia em Yale e autora de “Breaking the Age Code: How Your Age Beliefs Determine How Long and Well You Live” (na tradução literal, "Quebrando o código de idade: como suas crenças relacionadas à idade determinam quanto tempo e bem você vive"). Um estudo de 2009, por exemplo, descobriu que pessoas na faixa dos 30 anos que mantinham estereótipos negativos de envelhecimento tinham uma probabilidade significativamente maior de sofrer um evento cardiovascular, como um ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral, mais tarde na vida do que aquelas com sintomas positivos.

— Para mudar suas crenças negativas sobre a idade, primeiro você precisa se tornar mais consciente delas. Experimente uma semana de “diário de crenças sobre a idade”, no qual você anota cada retrato de uma pessoa idosa seja em um filme, nas redes sociais ou em uma conversa. Depois questione se essa representação foi negativa ou positiva e se a pessoa poderia ter sido apresentada de forma diferente — aconselha a professora, enfantizando também que "a simples identificação das fontes de suas concepções sobre o envelhecimento pode ajudar a se distanciar das ideias negativas".

Becca diz ainda que as pessoas podem fortalecer suas crenças positivas sobre a idade a qualquer momento:

— Num estudo de 2014, 100 adultos com uma idade média de 81 anos, que foram expostos a imagens positivas do envelhecimento, mostraram melhorias na percepção do envelhecimento e na função física.

Encontre modelos de envelhecimento

Se você associar o envelhecimento apenas com perda ou limitação, “você não terá uma visão completa do que significa envelhecer”, destaca a psicóloga Regina Koepp, especializada em envelhecimento. Em vez disso, ela aconselha “mudar sua atenção e procurar modelos de quem está fazendo isso bem".

— Não precisa ser uma pessoa com 90 anos de salto de um trampolim. Pode ser apenas alguém que frequenta uma aula de ioga todas as semanas ou é voluntário por uma causa — destaca a psicóloga.

Já a professora Becca recomenda encontrar cinco pessoas mais velhas que tenham feito algo que você considera impressionante ou que tenham uma qualidade que você admira, seja se apaixonar mais tarde na vida, mostrar devoção em ajudar os outros ou manter um compromisso com a boa forma física.

Não confunda positividade forçada com otimismo

A investigação sugere que as mulheres otimistas têm maior probabilidade de viver mais de 90 anos do que as mulheres menos otimistas, independentemente da raça ou etnia. Mas pensar de forma mais positiva sobre o envelhecimento não significa encobrir preocupações reais com pensamentos felizes – ou usar frases como “você não envelheceu!” como um elogio.

Melinda Ginne psicóloga, da baia de São Francisco, especializada em envelhecimento, ressalta aos seus 74 anos de idade que "os chavões não funcionam, eles são banais":

— Em vez disso, tente olhar para a realidade honesta com otimismo. Se você está se sentindo desanimado porque seu jogo de tênis não é tão forte aos 70 anos como era antes, lembre-se: “Não, não posso jogar tênis como fazia quando tinha 50 anos, e eu só posso jogar por 10 minutos, mas ainda posso jogar — ressaltou Melinda.

Desafie seus próprios medos sobre envelhecer

A psicóloga Regina Koepp aconselha que, para se sentir mais positivo em relação ao envelhecimento, "é preciso examinar quais preocupações você tem sobre o processo" e refletir sobre o quão preocupantes realmente são.

— Aos 47 tive um problema no quadril esquerdo. Direi que estou velha porque me sinto rígida e rangente? Poderia, mas prefiro pensar melhor e dizer: bem, meu quadril direito não está rígido e rangendo, e tem a mesma idade — realça Regina.

Para a psicóloga, a questão é que, embora envelhecer possa estar contribuindo para a dor no quadril, não é o único fator. O erro das pessoas é "confundir idade e deficiência, é isso que assusta a maioria”, afirmou.

Não descarte os benefícios

Concentre-se no que você está ganhando também. A investigação demonstrou, por exemplo, que o bem-estar emocional geralmente aumenta com a idade, e certos aspectos da cognição, como a resolução de conflitos, muitas vezes, melhoram mais tarde na vida.

— Com o tempo, é provável que desenvolvamos mais resiliência. Envelhecer bem-sucedido não significa que você não ficará doente, não sofrerá perdas ou precisará de cuidados em algum momento. E ninguém disse que mudar qualquer mentalidade é fácil, mas, se você puder, isso permite que você se veja mais claramente como uma pessoa com experiência vivida e sabedoria à medida que envelhece — destacou a psicóloga Regina Koepp.

Fonte: O Globo e The New York Times (23/09/2023)

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