sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Fundos de pensão mantêm portfólios mesmo com queda de juros prevista pela frente

 


Hoje 80,2% dos recursos do setor estão alocados em renda fixa, segundo a Abrapp

Os patamares atuais de juros são confortáveis para os fundos de pensão baterem as metas de 2023 sem aumentar o risco. No próximo ano, mesmo com a tendência de queda, a situação deve permanecer positiva para as fundações, sem exigir grandes alterações nos portfólios. Assim, a busca por ativos para além da renda fixa ainda deve se dar de forma marginal.  

“No cenário atual, de inflação baixa e CDI alto, mesmo que a bolsa não ajude, também não atrapalha. Bater a meta parece um cenário razoável”, afirma o sócio da consultoria Aditus, Guilherme Benites. Em 2023, os objetivos das fundações tendem a ficar entre 10% e 11%, ante um CDI de 13% em 2023, em média, projeta.

Depois de três anos muito difíceis para o setor, no ano até julho, 81% das entidades superaram as metas, segundo dados da Aditus. Nesse período, a mediana das rentabilidades aponta crescimento de 7,51%, ante objetivo de 5,17%. A consultoria compila dados de 120 fundos de pensão, que totalizam R$ 307 bilhões.  

Hoje, 80,2% dos recursos dos fundos de pensão estão alocados em renda fixa, de acordo com dados da Abrapp, associação que representa o setor. Em 2016, quando a taxa básica Selic ficou a maior parte do ano em 14,25% anuais, as entidades tinham mais recursos alocados em ativos de risco.   

“Na época, os juros subiram muito, mas a inflação também era alta e o juro real era menor. Agora, o juro real ainda é elevado”, afirma o sócio da Aditus. Para 2024, Benites projeta que o juro real fique perto de 6%.  

Vamos alcançar a meta sem ativos de maior risco, e esperar para fazer alocação mais expressiva” — Jorge Simino 

Na Vivest, maior fundo de pensão de empresas privadas do Brasil, o entendimento é o de que o cenário é positivo, mas não empolgante, diz o diretor de investimentos da entidade, Jorge Simino. Em 2023, os planos administrados devem ter objetivos, em média, de 3% e a perspectiva é que a rentabilidade fique entre 7% e 10%. O resultado positivo virá depois de três anos “tenebrosos”, afirma.  

No último triênio, com a maioria das metas atreladas ao IGP-DI, a rentabilidade alcançada deveria ser de pelo menos 78,9%. Neste período, o Ibovespa caiu cerca de 5% e o IMA-B, índice que acompanha o portfólio de títulos ligado ao IPCA, subiu pouco mais de 11%. A entidade está em fase de migração dos indexadores. Do R$ 36 bilhões sob gestão, cerca de R$ 12 bilhões estão em planos atrelados ao IPCA.  

“Conseguiremos alcançar a meta sem ativos de maior risco. Preferimos esperar um pouco mais para fazer uma alocação mais expressiva”, afirma Simino. Em renda variável, a entidade está fazendo aportes pontuais diante do cenário de queda de juros, em uma realocação de carteiras. “Colocamos mais recursos em ações mais sensíveis a juros, como shopping centers e outras algumas empresas de varejo. Temos que ser hiperseletivos porque o cenário para varejo ainda não está fácil”, diz Simino.   

Na visão de Benites, da Aditus, a estratégia da Vivest para renda variável deve ser comum a outros pares do segmento: “Não necessariamente deve ocorrer um incremento ou diminuição de posições. Podem haver ajustes estratégicos”, afirma. O especialista também acredita que posições em crédito e juro real estarão no radar de gestores de fundo de pensão. Já diante do recente mau desempenho dos multimercados, que ficam no meio do caminho entre a renda fixa e variável, pode não haver muita disposição para alocações.  

Ainda assim, considerando o tamanho dessa indústria, de mais de R$ 1 trilhão, qualquer movimento em direção a mais risco envolve montantes significativos. A empresa de distribuição de fundos Ísos mapeou quase R$ 6 bilhões em potenciais oportunidades no mercado, posições que podem eventualmente migrar para ativos de risco nos próximos 12 meses.  

Para Frederico Duarte, sócio da empresa recém-lançada, esse movimento será paulatino. “Começa primeiro em direção à renda fixa de maior risco, incluindo crédito estruturado, para depois migrar para multimercado até chegar na renda variável”, afirma o executivo, que montou a Ísos ao lado de Gianmarco Gomes, que foi cofundador da Itajubá Investimentos e sócio do grupo Genial e de Heitor de Souza Lima, ex-presidente da Schroders no Brasil.  

Em 2016, os investimentos estruturados, por exemplo, representavam mais de 2% das alocações dos fundos de pensão. Hoje essa fatia é inferior a 1%. “Se essa cifra dobrar [dos investimentos estruturados], significa novas alocações de mais de R$ 10 bilhões. É uma mudança de mãos relevante”, afirma Gomes.  

A Ísos vai trabalhar com quatro frentes: renda fixa, em especial fundos de crédito, multimercados, renda variável e investimentos no exterior. A proposta é fazer uma curadoria de fundos de gestores parceiros que tenham visão de longo prazo. Já fazem parte da lista nomes como Plural, Julius Bär, Canvas Capital e Norte Asset, de um cardápio que deve ter até dez nomes e será atualizado de tempos em tempos, como uma “grade viva”, como definem os fundadores. “Não podemos errar na escolha dos parceiros e dos fundos”, afirma Lima.   

Na Previ, maior fundo de pensão do país, o entendimento é de que títulos públicos ainda vão se manter atrativos por algum tempo. “Ainda vemos oportunidades nos vértices das NTN-Bs longas. Enquanto elas atingirem as metas atuariais, continuaremos procurando esses ativos. Estamos nos preparando para o momento em que teremos que procurar outros ativos para poder entregar a meta atuarial”, disse, em recente entrevista ao Valor, o diretor de investimentos do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Claudio Gonçalves. Hoje, as NTN-Bs mais longas, de 2060, estão precificados em IPCA mais 5,40% e a meta atuarial da Previ é INPC mais 4,75%, o que ainda é considerado um “prêmio razoável”.

Fonte: Valor (14/09/2023)

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