quarta-feira, 22 de novembro de 2023

TIC: Usina de dessalinização em Fortaleza causa briga entre teles e governo do CE



 'A internet do país vai parar', diz vice-presidente institucional da Claro, enquanto presidente da Cagece diz que teles querem privatizar a praia do Futuro

Fabio Andrade, VP da Claro, afirma que usina de dessalinização de água em Fortaleza ameaça cabos submarinos, que conectam internet do país à dos outros continentes

Vice-presidente institucional da Claro, Fábio Andrade, é figura conhecida nos círculos do poder em Brasília (DF). Neste momento, ele lidera uma reação contra a obra de uma usina de dessalinização de água na Praia do Futuro, em Fortaleza (CE). O projeto ameaça a integridade dos cabos submarinos, responsáveis pela conexão de quase toda a internet do país com o restante do mundo.

Essa usina vai mesmo parar a internet do país?

A Anatel já se manifestou. Disse que essa situação é um absurdo e determinou que os dutos da usina fiquem a, no mínimo, 500 metros dos cabos submarinos. Antes, o projeto estabelecia cinco metros. Com a vibração da água [pelos dutos de sucção] pode haver rompimento dos cabos.

E isso resolve?

Essa distância impede que sejam instalados novos cabos para aumento de capacidade. E, hoje dia, consumo de internet cresce que nem unha. A gente planeja dobrar o número de cabos em três anos. Para isso, seria preciso uma distância de, no mínimo, 1.000 metros.

O que fez a Anatel?

Promoveu um seminário em Fortaleza [capital do Ceará] em que ambas as partes de reuniram. A companhia de água entrou questionando. Disse que não havia motivo para preocupação. Aí, a gente aumentou o tom para explicar que há o risco de causar uma pane na internet. Aí, a gente aumentou o tom para explicar que há o risco de causar uma pane na internet.

Não é exagero?

Quase toda a conexão internacional do país com EUA, Europa e África chega na Praia do Futuro, em Fortaleza (CE). Um reparo leva, no mínimo, 50 dias. Isso afetaria a segurança pública, saúde, hospital, a população.

E ninguém previu isso no projeto?

Depois do nosso alerta, a companhia de água disse faria um projeto executivo prevendo alguma solução.

É uma obra de quase R$ 3 bilhões envolvendo até investidores estrangeiros. Antes disso, só havia um projeto básico e nele constava as intersecções.

O governador é hoje ministro da Educação e o governador atual pertence ao PT. O Palácio não acompanha isso?

A informação que temos é que o governador atual [Elmano de Freitas (PT)] decidiu manter da forma como estava. Mas, de uma semana para cá, houve um arrefecimento nessa intenção. Hoje, estamos esperando esse projeto executivo.

E tem como resolver?

O que não falta em Fortaleza é mar. Não encontro razão para esse projeto ser exatamente nessa praia. A água é a mesma. Se ficar lá mesmo, teremos sérios problemas de expansão. A gente quer que, se for instalar [a usina], que seja na Praia da Árvore.

Se não mudarem de praia, como ficará a expansão da capacidade de internet?

Teremos de procurar outra praia. Ali é a menor distância que liga todos os continentes e as marés são ideais [sem muita vibração nos cabos]. O custo é maior, teremos ainda de providenciar a conexão em terra entre esses dois terminais de cabos.

Há prazos definidos?

A licença ambiental [da usina] foi aprovada e ouvimos que pretendem iniciar as obras em março do próximo ano.

Do outro lado, Teles querem 'privatizar' a praia do Futuro, diz presidente de estatal no Ceará

Para executivo, operadoras miram reserva de mercado para área onde chegam cabos submarinos de internet

O presidente da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Neuri Freitas, acusa as operadoras de telefonia e internet de tentarem criar uma reserva de mercado na praia do Futuro, onde chegam os cabos submarinos que conectam a internet do Brasil com o mundo.

Em entrevista ao Painel S.A., Fabio Andrade, vice-presidente de Relações Institucionais da Claro, afirmou que a obra de uma usina de dessalinização na referida praia pode romper os cabos e gerar uma pane geral na internet.

Andrade disse que as teles foram surpreendidas com o projeto e que a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) determinou que a Cagece mantenha uma distância mínima de 500 metros entre os dutos da usina e os cabos das operadoras.

"Onde essas empresas estavam quando começamos a debater o projeto, em 2017?", questionou o executivo da Cagece. "O que elas querem é ‘privatizar’ a praia do Futuro só pra ganharem mais."

Freitas afirma que a usina resolverá um problema grave de falta de água na capital cearense.

No biênio 2015-2016, a cidade sofreu com uma seca violenta, que deixou o reservatório do Castanhão a 2% de sua capacidade total de 6,7 bilhões de metros cúbicos.

A Cagece precisou instituir uma tarifa extra de 120% sobre os moradores que não cumprissem a meta de consumo para economia de água naquele período.

"Esse projeto é justamente para que a gente não enfrente o mesmo problema nos próximos dois anos", disse Freitas. "Todos os estudos foram feitos, houve diversas audiências públicas, onde essas operadoras estavam?"

O presidente da Cagece disse ainda que já existem 1.204 pontos de cruzamento entre os dutos da empresa com os cabos submarinos das operadoras e, até hoje, não houve um único episódio de rompimento das fibras.

"Estão agora reclamando por causa de quatro pontos de intersecção."

Segundo o executivo, a transferência da usina para outras praias custará demais à população.

Pelos cálculos, se ela for instalada na praia de Sabiaguaba ficará cerca de R$ 100 milhões mais cara. Em Cumbuco, R$ 200 milhões. No Pecém, como alguns deputados aconselharam, R$ 500 milhões.

"A gente precisa ter essa água o mais próximo possível da nossa bacia hídrica", disse Freitas. "As teles vão pagar a mais para a nossa população ter água? O que é mais importante, água ou internet?"

Segundo ele, o governador do estado, Elmano de Freitas (PT), já deu aval para que o projeto siga em frente.

Fonte: Folha de SP (18 e 20/11/2023)

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